domingo, 30 de maio de 2010

Versos femininos

Não quero que
fujamos para nosso mundo,
como planejávamos
há muito tempo.
Não quero que você
me leve nos braços:
já não somos tão jovens
e dispostos como antes.

Só quero que olhe para mim
e não veja a mulher com quem se casou.

Não quero de você
os buquês pomposos
do início do namoro.
Não quero de você
aquele sorriso bobo
de uma felicidade fácil
que já não é tão fácil.

Só quero que olhe para mim
e não veja a mulher com quem se casou.

Não quero que você
me abrace forte,
nos fazendo um
como nos primeiros dias.
Não quero de você
as canções desafinadas
e calorosas
ao meu ouvido.

Só quero que olhe para mim
e não veja a mulher com quem se casou.

Não quero que você
repita as desculpas
por não ter feito nada.
O vazio vem, é fato.
Não quero que prometamos
um ao outro o recomeço
que não há como vir.
Já começou, vamos em frente.

Meu querido, meu homem,
só quero que olhe pra mim,
pra você,
olhemos para nós.
O tempo segue,
e não podemos ficar parados.
Quero que ame, abrace e beije essa mulher,
aceitando carregar todo o peso
do tempo, dos dias, da vida,
de dores e alegrias.
Quero, e somente quero,
porque é assim que lhe desejo
e assim que me entrego novamente.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 25 de maio de 2010

Não tem preço.

O papel higiênico usado
e o dinheiro que compra brilhantes.
Os dois terão o mesmo destino.
As rodas do carro esporte V8
e os pneus do catador de papel.
Os dois findarão no mesmo chorume.

Mas o teu sorriso,
nossos abraços,
nossas brigas,
nossos olhares
e episódios juntos,
ah, isso não há
Terra que consuma.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Everybody draw Muhammad Day

Atacado fortemente por extremistas islâmicos, o "Everybody draw Muhammad Day" (dia em que todos desenham Muhammad), é a nova sensação da Internet, e uma respostas aos ataques fundamentalistas à liberdade de expressão (há mais sobre o fato no blogue do Bitaites)

Chutemos o balde da ignorância chamada religião! Desenhemos nós também Muhammad! Deixo duas fotos de modelo:
(Sim, este não é o profeta, mas o boxeador Muhammad Ali. E sim: fui sarcástico.)

domingo, 16 de maio de 2010

Futurismo


Quando tudo se repete,
quando tudo é igual,
quando a novidade
é arrancada
de duas décadas
atrás,
quando o que se escreve,
se canta, se vê, se fala
obedece padrões cinquentenários,
você pode perceber:
a cultura morreu.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 11 de maio de 2010


Dias de encher o saco
geralmente
são vazios.

Hoje acordei com sono.
Comi sem fome,
beijei sem paixão,
comi sem vontade
e fui deitar com insônia.

Dias de encher o saco
geralmente
são vazios.

Ontem chovia,
fazia frio.
E eu aqui, ardendo em febre
queimando a pele
embaixo do cobertor.

Dias de encher o saco
geralmente
são vazios.

Amanhã vou enfrentar fila.
É curta, um quilômetro.
É rápido,
cinco horas.
Depois, agulhas
e urina.

Dias de encher o saco
geralmente
são vazios.

E ele dói.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Fármaco

ciprofilaxino
com heparina.
omeprazol
com paracetamol.

e já não há
cloridrato de loperamida
que dê jeito
nesse sulfametoxazol
trimetoprim.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 2 de maio de 2010

Esqueça-me

Esqueça-me.
Expulse-me de suas lembranças
e vá viver sua vida.
Tire-me daqueles pesadelos
e sonhos que nós inventamos.

Esuqeça-me.
Não ouse cultivar um grão de mim
em sua mente complexa.
Arranque-me de suas entranhas
espirituais e seja feliz.

Esqueça-me.
Deixe-me de viver este sonho
que não tem cabimento.
Veja: a estrada está limpa
e você não me vê no horizonte.

Esqueça-me.
Esquarteje-me em seu coração
que precisa bater em paz.
Já não sou sangue nem éter,
sou apenas pó eterno do nada.

Ah, por favor, esqueça-me.
Mate-me em você,
pois aquele eu que eu era
eu já matei em mim.

Fábio Pedro Racoski