segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sem russos

Não sentia tanto nojo perante uma cena de entretenimento desde o jogo Postal e o filme Cidade de Deus.

Refiro-me à já famosa cena no Aeroporto de Moscou, no jogo Call of Duty: Modern Warfare 2. Não sou moralista, não sou contra jogos violentos (os quais também jogo, como GTA, Assassin's Creed e Mortal Kombat). Mesmo assim, o realismo desta peça de ficção, de jogo, na franca matança de pessoas inocentes, a missão incabida enfiada entre as outras missões de forma aparentemente tendenciosa, causou-me asco.

Não colocarei o vídeo da cena aqui. E o link que postarei provavelmente será tirado do ar, por uma caça da própria produtora do jogo, Activision, por cenas do jogo postadas indevidamente. Então, para quem não viu, avalie por si mesmo: http://www.youtube.com/watch?v=vxdZyGGE3T8

O título da missão é "no russian" que, traduzido livremente, pode significar "sem russos" ou "não aos russos".

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Carta aberta a Papai Noel

Papai Noel: não acredito em você. Sei que você não existe. Por isso, Papai Noel, vou confidenciar o que espero do futuro.

Espero que o natal seja, a partir de agora, uma data sem presentes e sem festas. Pois até hoje, entre sorrisos malditos e hipocrisia generalizada, o único gesto sincero que vi de uma pessoa com alguém alheio a ela partiu de um mendigo bêbado. E isso foi em maio.

Espero que, no fim de ano, as famílias se preocupem em arrumar bastantes poltronas, cadeiras, sofás e bancos dispostos em roda, para que todos converesm, ouçam o que os mais velhos tem a dizer, cantem, toquem instrumentos musicais, dancem, façam jogos de tabuleiro.

Espero que o Parlamento norueguês conceda o Prêmio Nobel da Paz à Pastoral da Criança, e não ao novíssimo Senhor da Guerra que enganou um mundo todo.

Espero que o cidadão brasileiro revoltado com a impunidade aos políticos corruptos - o que já é quase uma redundância - perceba que ele mesmo, quando usa de seus "jeitinhos" para se prevalecer, é tão corrupto quanto o ministro do Supremo (supremo???), o governador, o senador...

Espero que as agulhas do diabo não perfurem mais o corpo de crianças. Meu desejo macabro é que elas se voltassem aos olhos de seus feiticeiros.

Espero que celebridades mortas não voltem à vida. Acho que elas não gostariam de ver o que suas famílias fizeram...

Espero que as religiões sejam apenas instrumentos de vida em comunidade, de ritual e de mística, tão importantes à cultura e ao indivíduo. Espero, sinceramente, que elas deixem de ser o ópio do povo. Assim, religiosos que drogam as pessoas para ganhar dinheiro vão queimar no inferno do esquecimento.

Espero, Papai Noel, que ninguém mais acredite em você. Ou, se for para acreditar, que seja na imagem mística de um senhor preocupado com as aflições de crianças e adultos, e não de um velho cinematográfico-estadunidense preocupado em entregar o último videogame na confortável casa de um menino branco em Cleveland.

Mas sei, Papai Noel, que você não me ouve. Não acredito em você. Sei que você não existe. Não acredito em você da mesma forma que acredito em Deus: inexplicavelmente. E, por acreditar em Deus assim, tenho esperança. Por isso, sabendo que Papai Noel não existe, espero junto com você por este futuro. Espero.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O menino verde

Era uma vez um menino verde. Nasceu verde, cresceu verde. Sua mãe o vestia com roupas sempre combinando com o verde claro de sua pele.

O menino verde era muito esperto. Aprendeu tudo muito rápido, mas não queria ir à escola – que tinha as paredes verdes. Lá ele não era o filho de seus pais, o esperto, o bonitinho: era apenas um menino verde, personagem principal das piadas e maldades de seus colegas. Lá, até a professora ria de sua verdejante realidade. Lá ele aprendeu que as pessoas mais velhas se apaixonam: isso foi ao conhecer uma menina marrom, tão linda!

O menino verde foi crescendo. Chegou a adolescência, as maldades dos colegas cruéis se intensificaram; o amor dos pais sempre mais forte; os professores a tratá-lo como uma aberração; a menina marrom, ainda mais linda... Escola, universidade, formatura, trabalho...

O menino verde cresceu. Agora é homem, trabalhador bem sucedido. Mas um homem isolado, verde; deixou de viver as dores e os amores. Tinha medo das cores do mundo que o excluía por ser verde. A imagem da menina marrom ainda vivia em sua memória. Até o dia em que a menina marrom apareceu à sua frente, trazendo uma explosão de pulmões e coração acompanhados de um filme que contava toda sua vida de sofrimento verde em segundos. Os dois se abraçaram, contaram sobre suas vidas até ali. A menina – agora mulher – marrom ouviu do menino – agora homem – verde uma confissão de seus mais profundos sentimentos, privilégio que só os pais do rapaz haviam conquistado. Depois, a moça também revelou-se.

Ele não sabia que também riam da menina marrom. Ele não sabia que ela também tinha medo das cores de um mundo que a excluía por ser marrom. Ele não sabia que a mãe da menina marrom foi agredida na rua, simplesmente por ser marrom. E eles, até ali, não tinham percebido que o amor dos dois seria a vitória de todas as cores – verde, marrom, lilás, flicts – sobre as falsas cores do mundo de aparências podres.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Tirania da não-cultura e do não-saber

Francisco Franco,
Benito Mussolini,
Adolf Hitler,
Joseph Stálin,
Vladimir Lênin,
Pol Pot,
Getúlio Vargas,
Ernesto Geisel,
Hugo Chávez,
Microsoft,
Google,
pulseiras.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 12 de dezembro de 2009

A dezena do terço

Já não tenho fé o bastante.
Não sei se fé é o bastante.
A cera da vela queima,
os painossos seguem
as avemarias,
e tudo fede a pavio
e desespero.

Já não tenho fé o bastante.
Não sei se sou ignorante
em assuntos de Deus.
Não sei se sou ignorante
em assuntos ateus.
Sei que a dúvida
é minha constante.

Já não tenho fé o bastante.
E isso não me é apavorante.
Jesus não me ouve
aos gritos,
nem aos sussurros,
suplicando favores divinos.

Já não tenho fé o bastante
mas sigo confiante:
se Deus quer boas gentes,
é consequência querer
gentes pensantes,
ainda que de outro partido.

Já não tenho fé o bastante
ou tenho, não sei, quem sabe?

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O estado da União

se no Rio
Paraíba é xingamento
e em São Paulo
baiano é ofensa
lanço um neologismo
na terra dos pinheirais:
agora, em Curitiba,
paulista-carioca
é palavrão imperdoável.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 5 de dezembro de 2009

À minha mãe

Deixei agendada esta postagem.

Ontem, dia 04/12, minha mãe, Maria de Lourdes Purkott, completou 60 anos de vida. Hoje, exatamente a esta hora, fizemos uma festa surpresa à Dona Lourdes, onde estão presentes familiares, amigos e "filhos agregados" que ela colheu nesses anos.

Desde 1993, com a morte do meu pai, Gerson, minha mãe passou a ser também o pai da família. Não apenas isso, mas a nossa fortaleza, ainda que sofresse um doloroso golpe do destino com a perda de sua filha mais velha - minha irmã -, Mônica, em 1998.

Se superamos as dores das perdas, se hoje eu sou professor e minha irmã é pedagoga - e também professora -, se nós somos uma famíla com muito humor, não há outro responsável senão a Dona Lourdes. Por isso, caro leitor e querida leitora, peço um momento de sua atenção para este poema composto a ela.

Fortaleza e aconchego

Mãe.
Palavra sem rimas.
Nenhuma outra palavra
ousa rimar com ela.
Nem por isso está sozinha.

Mãe.
O verso se fez carne,
a lágrima se fez alegria,
a dor se fez orgulho,
o medo se fez coragem.

Mãe.
A curandeira das chagas,
a psicóloga da rebeldia,
o pai da ausência,
o eterno colo.

Mãe.
Mais forte, mais bela,
mais suor, mais voz,
mais preocupação,
mais empenho.

Mãe.
Tu, mãe, que carregas
filhos além dos teus.
Tu, que levas
as dores das perdas
e as alegrias das conquistas.
Conquistas
mais tuas que nossas.

Tu, mãe, que és mãe
de toda uma geração,
saibas que estes versos
não levarão as lágrimas
de todos os bons sentimentos
que derramo ao compô-los.
Mas espero que levem
uma melodia do amor
que nós, teus filhos,
temos por ti.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ти гарячий і холодний

Direto da Ucrânia, uma homenagem a Katy Perry: "Hot 'n' cold", com "Los Colorados".

Aos passantes

A você, passante, que fica me medindo quando me vê.
A você, que se espanta
- como se visse um extraterrestre -
com meu corpo,
ou com meus cabelos,
ou com meu jeito estabanado,
ou com minha voz alta e estridente,
ou com o conjunto da obra.
A você, que me olha e pensa no absurdo que é
uma pessoa como eu trabalhar,
cantar, tocar flauta,
fazer poesia.
A você, passante, que acredita na ausência
de paixões, amores, ódios e vaidades em mim.
A você, querido e odiado desconhecido,
desejo uma vida melhor.
Uma vida menos triste e frustrante.
Onde você não precisa
fingir que é feliz
ao tentar se divertir
quando me vê.

Fábio Pedro Racoski

Camisa de força de Vênus

use camisinha
você precisa usá-la
mais que um direito
é um dever

faça sexo aos dez anos
mas use camisinha
pratique zoofilia
mas use camisinha
vá a uma sessão de necrofilia
mas use camisinha
estupre-se
mas use camisinha
faça programa com menores
mas use camisinha
rasgue-se
mas use camisinha
mostre-se pornograficamente
mas use camisinha
prostitue o país aos gringos
mas use camisinha
fale merda na tv
mas use camisinha
seja objeto
mas use camisinha
violente
mas use camisinha
use facas
mas use camisinha

por fim, ejacule
sua massa encefálica
mas use camisinha
para não contaminar
o parceiro
com seu cérebro.

Fábio Pedro Racoski