sábado, 31 de março de 2012

Um amor

o mais dolorido
de todos os partos
é nascer
para o amor.

ah, o amor!
estava escrito
dentro de um baú
trancado
e empoeirado
no fundo da alma.

esteve sempre lá,
em palavras
sem fonemas,
em melodias
de lábios calados.

um amor
que espera,
que amadurece
mas é eterno,
que se intensifica
mas é infinito,
que se espalha
mas é interminável.

um amor
que me faz
esperar
pelo dia
em que morrerei
para mim,
e viverei
para nós.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 29 de março de 2012

Doçura

desejado
doce
deleite.
dádiva
divina.
dança,
dedos
dedilhando
dedos,
dom,
delírio.

Fábio Pedro Racoski
A necessidade de compartilhar me torna insuportável. Aqui estudando, vejo, associo, lembro, mando... sou um monstro perturbador com palavras.

A Ruiva Diz

#microconto

Suas frases são reticentes, mas seu amor é exclamativo.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 27 de março de 2012

Único

quando você encontra
alguém
por quem
você quer ser
alguém melhor,
maior,
mais forte,
mais inteligente,
mais bonito,
mais gente,
ah, meu amigo,
minha miga,
isso é único.
único.

Fábio Pedro Racoski

Tudo novo


infartou-se,
pois fartou-se
de paixão.

desprendeu-se,
pois prendeu-se
sensação.

renovou-se,
encontrou-se
coração.

entregou-se,
despediu-se
solidão.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 25 de março de 2012

Não seria

talvez eu não devesse
ter falado
que amo você.

talvez eu não devesse
ter falado
que quero viver com você.

talvez eu não devesse
ter contado
o que sinto por você.

talvez eu não devesse
ter gritado
buscando você.

talvez eu não devesse
ter chorado
e derramado
todo o meu coração
pra você.

mas não seria eu.
não seria a explosão
do meu nascimento.
não seria a derrota
do meu medo.
não seria a vontade
de estar com você.
não seria o desejo
de ser pra você.
não seriam meus olhos
buscando você
além do horizonte.

Fábio Pedro Racoski

Poemas engajados

Poemas engajados:
a maior estupidez
da estúpida poesia!

Poemas engajados:
as falácias de ladrões
e ditadores entoadas na TV!

Poemas engajados:
tão dementes quanto
engajar-se em algo!

Poemas engajados:
doces mentiras
rimadas!

Cesar Miller de Almeida

sábado, 24 de março de 2012

Linhas tortas

tomo uma dose
de loucura
pra me embriagar
de poesia
apaixonada
e rimar
meus versos
com teus versos.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 22 de março de 2012

Descobrindo-se

eis que o poeta
encontrou o amor
pela primeira vez.

e seus versos
amarelados,
empoeirados,
ganharam cores,
sons e perfumes
que ele nunca
havia
imaginado
em toda a sua
poesia.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 21 de março de 2012

Grande assim

se as máquinas voadoras
desaparecessem
e um abismo se abrisse
à minha frente,
desafiaria Darwin
e aprenderia a voar
só para estar
com você
novamente.

se um acaso
do espaço-tempo
me levasse para
800 anos-luz
daqui,
desafiaria Einstein
e venceria
a luz e o tempo
só para estar com você
o tempo que for.

eu desafiaria qualquer
mente brilhante
e qualquer grandeza
universal,
e venceria,
pois para mim
o fisicamente
e espiritualmente
impossível
é não viver
você.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 19 de março de 2012

O cerco

seus olhos
catapultaram
fogo sob minha
fortaleza.

sua voz aríete
fez ruir
a estrutura
dos meus muros.

sua presença
rompeu
minhas correntes
como lâmina de dura espada.

e agora
meu feudo-solidão
quer assinar
a capitulação.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 17 de março de 2012

Uma pessoa melhor

Serei uma pessoa melhor
se for eu mesmo só para mim.
Serei uma pessoa melhor
dentro dessa solidão sem fim.

Não pense que vai me resgatar
do meu caminho que levo só
cercado por amigos e mar.
Um continente frio de dar dó.

Não sou uma criança sozinha,
não sou sorriso, beijo, nem mais
alguém de índole tão mesquinha
ao ponto de somar-lhe meus ais.

Ser sozinho é minha missão
em meu imaginário alazão,
com lágrimas e riso de estrada,
com dor e paz nessa alma cansada.

Serei uma pessoa melhor
seguindo só até o meu fim.
Serei uma pessoa melhor
vivendo essa metade de mim.

Fábio Pedro Racoski

#microconto

Nunca fui enganado por ninguém. Faço isso sozinho.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 14 de março de 2012

Papéis

papel da mulher,
papel do homem...
papel higiênico.

um a gente aduba,
outro a gente recicla...
e vida que segue.

domingo, 11 de março de 2012

Supradimensional

que meu braço
seja abraço
para ti
lá e aqui.

que a visão
seja tão
telescópica
microscópica

que meu eu
seja teu
neste verso,
no universo.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 8 de março de 2012

#microconto

Ele, tão masculino, descobriu a si mesmo nos lábios de uma mulher.

Fábio Pedro Racoski

Quatro divagações de mulheres ao amanhecer

#1

Pronto! Está tudo perfeito! Café quente e forte, pãezinhos comprados agora, leite fresco, manteiga... O marido não notou meu corte de cabelo. Os filhos já saíram para a escola. E eu, sempre pronta, sempre eficiente, sempre vazia, sempre distante. Ah, ser mulher!

#2

Pronto! Está tudo perfeito! Os papéis da faculdade, meu artigo, café de ontem, mesa bagunçada... A casa vazia parece tão cheia com a minha voz calada. Um bom dia ao porteiro, uma saudade dela, a dúvida dos olhares e essa minha certeza de que serei contestada sempre. Ah, ser mulher!

#3

Pronto! Está tudo perfeito! Prontuários, exames, liberação de médicos e a ansiedade de me tornar mais eu. O hospital cheio parece vazio de espírito. Meu corpo deixará de ser o que nunca foi em mim mesma. Ah, ser mulher!

#4

Pronto! Está tudo perfeito! Meu café, meus pães, manteiga, leite... A casa vazia é ponto de partida para novas aventuras e eu, família de mim mesma, sigo pelo mundo a viver, a conhecer, a saborear paisagens e ares de todos os lugares na confiança de sempre voltar a mim. Ah, ser mulher!

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 7 de março de 2012

Devaneio humano

Sangue escorre pelas ruas,
chumbo chove lá do céu.
Batalhões de frontes nuas
rebentam a guerra ao léu.

De manhã, caem as máscaras
dos ex-reis de face asseada,
quebradas por outras máscaras
das almas de tez marcada.

As novas falanges gritam:
"Eis nossa revolução!",
e novo horizonte fitam
numa terra sem patrão.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 4 de março de 2012

Siete sonrisas

Todo alrededor de mí son recuerdos
Dulces y amargos
Calientes y helados
Retratos de quien nunca ha sido real
Cartas que nunca osaron alcanzar el objetivo
Nombres escritos en la madera, nombres que ni siquiera se han conocido
Autógrafos
Veintiún botones de rosas
Siete sonrisas
Un pendiente
Un borrón
Una colección entera de sentimientos por la mitad
Y cabe más, mucho más, dentro de ese corazón
Siempre que por completo...
Para no salir jamás.

Josiane Ruhmke
(poema original: aquí)

traducción de
Mauricio Villacrez y
Fábio Pedro Racoski

sábado, 3 de março de 2012

#microconto

Ele não soube dar-se a ela porque haviam poucos minutos de paixão embaixo daquele rosto envelhecido.

Fábio Pedro Racoski