sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sagrado Coração

 
Ó, Sagrado Coração
de tantas dores temíveis,
de meus amores incríveis,
de tudo que em mim é não...

Ó, Sagrado Coração
de tantas dores incríveis,
de meus amores temíveis,
meu tudo, meu sim, razão...

Por que, Sagrado, sofreste
tanto nas mãos dos algozes
que calam as nossas vozes
se é tua a glória celeste?

Por que, Sagrado, retratam-te
com ouros, joias e linho
se és um de nós, andarilho?
Acaso os reis subornaram-te?

Ó, Sagrado Coração,
certo dia, nunca é tarde,
eu verei tua verdade:
viver é ter-se Sagrado,
é escrever-se o Coração.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O filho

Hoje, fiz minha mãe
chorar.
Não foi de alegria,
nem de emoção,
nem de orgulho.
A fiz chorar
de tristeza, medo,
frustração.

Hoje, fiz minha mãe
chorar
e o único desejo meu
era que minha vida
deixasse de ser
naquele momento.
Já não valia a pena viver
se era para fazer
minha mãe chorar.

Mas continuo vivo,
mais por ela que por mim,
tentando encontrar
meu caminho torto
e estreito.
Afinal,
não posso nunca mais
fazer minha mãe chorar.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ab aeterno

Quisera eu pular as estações
dos dias, dos anos,
além das convenções humanas
e temporais.

Ver o depois de amanhã,
ver o Homem em outras Terras
infinitas, inalcançáveis.

Quisera eu voltar as estações
dos dias, dos anos,
da memória humana
e temporal.

Ver animais pré-câmbricos,
o nascer dos grandes répteis,
os primeiros passos
de Lucy e seus filhos e netos.

Quisera eu voar sobre as estações
humanas, temporais,
sobre tudo o que vivi,
toda a história e não-história.
Mas já não tenho asas.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ronnie Von, o gênio psicodélico

Ronnie Von é conhecido por seus sucessos da Jovem Guarda, especialmente as músicas "Meu bem" e "A praça". Também conhecido, atualmente, por seus programas de televisão.

Mas poucos sabem que Ronnie Von gravou três discos, entre 1968 e 1970: "Ronnie Von", "A misteriosa luta do Reino de Parassempre contra o Império de Nuncamais", e "A máquina voadora". São belas raridades geniais da música brasileira. Totalmente mergulhados na psicodelia da época, trazem músicas incríveis, como uma versão de "Dindi" e a canção "De como meu herói Flash Gordon irá me levar de volta para Alfa do Centauro, meu verdadeiro lar", que segue abaixo:
"Continentes e civilizações", do álbum "A máquina voadora" (1970):
"Dindi", do álbum "A misteriosa luta do Reino de Parassempre contra o Império de Nuncamais" (1969):

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Doppelgänger

Eu não sou eu.
Eu queria ser eu.
Mas eu estou lá,
do lado de fora
do espelho.

Eu, daqui,
tenho desejo
de sujar facas
com sangue alheio.
Tenho ânsia de
esmagar pescoços
entre minhas mãos.
Quero rir
da desgraça
dos meus.

Eu quero ser
o Anticristo,
o iconoclasta,
o Senhor das Moscas.

Mas eu estou preso,
aqui deste lado.
Eu queria ser eu.
Mas eu não quero,
abomino-o.
Mas vejo-o,
e sei que vou morrer
pelas mãos dele.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Tudo vira samba-enredo?

Carnaval. Na televisão, vi o desfile lá na Sapucaí. Depois de anos como telespectador dessa festa, percebi que as escolas de samba gostam de trazer temas tradicionais e diferentes, exóticos àquela “realidade” do carnaval. Internet, samurais, Jamelões gigantes, Brasília... até mesmo o guarda-chuva já serviu de enredo.

Refletindo sobre isso, pensei em dois temas bem, digamos, “peculiares”, para enredo de escola de samba.

O primeiro: videogames

A comissão de frente, “Assombrosa”, traria o pac-man (não o Lula, o come-come!) e os fantasmas de seu jogo. A coreografia evoluiria entre o amarelinho fugindo dos inimigos e, depois, caçando-os. Resta saber o que seria a pílula mágica...

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira seria uma homenagem a Super Mario Bros. O mestre-sala vestido de Mario, e a porta-bandeira de Princesa Peach. O segundo casal poderia estar fantasiado de Link e Zelda.

O carro abre-alas, cujo nome poderia ser “Um botão”, mostraria os primórdios dos games: tele-jogo (também chamado Pong), Asteroids, Pitfall, Space Invaders, etc. Um carro quadradão, com poucos bits!

Sucessivamente, os carros alegóricos contariam a história dos games, desde este primeiro até o último carro (“game not over”?), onde veríamos personagens dos jogos modernos (será que rola Niko Bellic e os coelhinhos de Rayman?).

Cada ala faria alusão a um estilo de jogo: luta, RPG, ação, aventura, tiro, estratégia, simuladores (uma ala de Chunlis, outra de Sonics...). A bateria viria fantasiada de Donkey Kong (o batuqueiro). Aliás, poderia haver uma ala “Game Over”...

O segundo: Rock and Roll

A comissão de frente viria fantasiada de Elvis Presley. A coreografia, claro, teria que incluir suas reboladas.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira poderia também fazer alusão a um casal da história do Rock. Sid e Nancy???

O carro abre-alas traria Bill Halley e os Cometas, junto das primeiras guitarras Stratocaster, Les Paul, e os primeiros baixos elétricos.

Os carros alegóricos trariam alguns sub-gêneros do Rock, como o Metal e o Punk (um boneco gigante do Joey Ramone, claro!). Haveria um carro exclusivo sobre o Rock nacional. Daí colocariam a Rita Lee e a Pitty lá em cima!

As alas lembrariam personagens marcantes do Rock: Chuck Berry, Raul Seixas, Ronnie Von, os Beatles, Jim Morrison, Kurt Cobain, o Di do NX Zero – esse foi pra zoar!


É. Ainda bem que não sou carnavalesco, em nenhum dos sentidos. Senão o carnaval da Sapucaí estaria falido!

Mardi Gras

terça-feira gorda,
redonda,
leve e dançarina,
trôpega,
bêbada
a bailar longe daqui.

terça-feira gorda,
se anima,
se veste,
se queima
para deixar-se
em cinzas no outro dia.

terça-feira gorda:
mais gorda
e intensa que ti
só meu mal-humor
e frieza típicos
de um curitibano.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Ano III

Ontem, dia 12 de fevereiro, este blogue completou três anos de existência.

Textos toscos e vídeos reeditados no início; poemas pesados e roucos; o blogue foi seguindo, junto com você, caro leitor, querida leitora, e com minha vontade de escrever, de criar, de mostrar.

Agradeço os leitores do Rádio Gordo por continuarmos por aqui, com os devaneios, a poesia, as críticas, os comentários. Como prometido, continuarei a ser este blogueiro amador, e este blogue seguirá sendo o palco de artistas tortos.

Republico, para lembrar esses anos passados aqui, um poema publicado em 2009, parafraseando Augusto dos Anjos, um dos meus preferidos poetas:

VERSOS PÚBLICOS

Vês!? Ninguém assistiu ao miserável
nascimento de tua primeira farsa.
Somente a solidão - a tua comparsa -
prestou-te companhia indispensável.

Acostuma-te ao vácuo que te espera.
Toda fera que, neste mundo novo
tenta soprar versos para seu povo
ganha silêncio, e versos de outra fera.

Toma o lápis. Acende a luz do quarto!
Digita versos, ruge ao que estás farto,
a voz que vomita também seresta.

Se a alguém tua presença incomoda, poeta,
põe teus versos em conexão direta,
vomita tuas cantigas e faz festa!

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Satélite

É noite. A lua clareia
a rua sem luz elétrica.
Amarela lua cheia
sem espaço em curta métrica.

Lua, lua, esfera fria,
no vazio espaço meu
és o sol que eu queria
no dia que escureceu.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Mais um a sair impune???

 
Foto de Nagel Coelho. Imagem retirada do blogue "Cartunista Solda".
 Esta é a mensagem de um ex-deputado - renunciou para não ser cassado - que fez morrer os jovens Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo Almeida, em maio de 2009. Jovens estes que não receberam o agradecimento do "nobre" ex-deputado: afinal, o impacto com o carro onde eles estavam amorteceu a queda, evitando a morte certa de um homem que dirigia bêbado, com a carteira suspensa, como se estivesse num GP de Fórmula 1. A cabeça de um dos rapazes foi arrancada com o impacto e encontrada a mais de 100 metros do local do acidente. Aqui, não foi Deus quem lhe deu a oportunidade da vida.

Sei que o agradecimento da placa acima não é para mim, porque NUNCA vou rezar por uma pessoa como essa. Espero que a insustentável leveza da consciência humana e o martelo justiceiro da história popular caiam sobre seus ombros.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Caninos

Não existe dinheiro
e nunca existirá
para pagar
essa alegria gratuita
que você tem.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Bicho

Este sou eu.
Estranho,
ranzinza,
grosseiro,
amável,
silencioso
em voz alta.

Este sou eu.
Confuso,
imprevisível,
rude,
piadista,
cético
na fé.

Sou eu,
contraditório
por medo.
Sou eu,
mescla
de mal-humor,
tristeza,
e a necessidade
de estar
com você
que faz aumentar
minhas olheiras.

Fábio Pedro Racoski