sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Na verdade eu queria

Eu falei que não foi nada,
que não ligo, tudo bem.
Eu te disse que entendia,
que desculpo, sem desdém.

Eu beijei a sua testa
em sinal de compreensão.
Eu entrei na sua festa
sem chamar sua atenção.

Mas na verdade eu queria
te mandar tomar no cu.
Mas na verdade eu queria
te mandar tomar no cu.

Eu te disse que te amo,
que entendo sua revolta.
Eu sorri timidamente
quando você disse: "volta".

Eu corri para os seus braços
quando quis te machucar
e entre beijos e abraços
esqueci o que ia falar...

Que na verdade eu queria
te mandar tomar no cu.
Tudo o que eu mais queria:
te mandar tomar no cu.

Se eu não disse, foi apenas
pra que hoje a gente possa
ter uma noite de sexo
e despencar nessa fossa.

Cesar Miller de Almeida

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Resgate

quanto te encontras
contigo mesmo
graças à voz do anjo
disfarçado de bela moça
que te resgatas
do teu calabouço,
aí percebes
que a vida
é tão bela
quanto ela.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

#microcontos

De tanto querer agradar os outros, nada lhe agradava.
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Seus olhos fechados para o mundo só enxergavam o semblante daquela paixão não vista.
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Em passos incertos encontrou o abraço certo.
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A dois, vivia meia vida.
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Sua segurança era perder o chão com ela.
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Entre tantos seres e tantos espaços, a consciência escolheu ser humana.
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Não tinha medo das gentes. Temia ser gente no meio da gente.
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Escondia tanto sua beleza que todos podiam vê-la, menos ele.
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Era um verme, a devorar sua própria felicidade.
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Não suportava mais carregar o peso de sua solidão, e ninguém era leve o bastante para ajudá-lo.
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Seus olhos a seguiam enquanto seu coração se ofuscava.
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Debaixo dos cachos negros, uma beleza em síntese.
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O âmbar dos seus olhos a natureza não consegue refletir em valor e beleza.
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Sua aula mais valiosa foi ministrada por um professor chamado Solidão.
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É tão adorável que seu riso me faz voar.
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Não sabia ser-se e, por isso, não sabia dar-se.
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Entre luzes, sons e bebidas, uma festa de palavras.
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Em seu corpo pequeno, toda a inestimável beleza do ser.
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Doa-se para restauração um coração abandonado e empoeirado.
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O tempo age inversamente de acordo com as nossas vontades.
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Quanto mais pessoas ao seu redor, mais sozinho se sentia.
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E aquela sensação de envelhecer sem ainda ter crescido.
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Quando ela diz: "em que posso servi-lo?", meu pensamento sussurra: "eu é que quero ser seu servo".
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Que energia é essa em teu olhar que faz parar o tempo?
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Todo dia é fim do mundo para eles, e todo amanhã é um mundo novo.
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De tanto ser humano, esqueceu-se de ser deus.
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Todas as vozes cantavam por amor em seu coral de si mesmo.
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E somos nós, sempre nós, os culpados por não ter culpa de nada.
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Uma cerveja bem amarga pra tirar essa amargura do peito.
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Ele sentava-se sozinho numa mesa para quatro, pois sua solidão ocupava todos os lugares.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Uma hora

uma hora
pra explodir o mundo
uma hora
pra esquecer quem sou
uma hora
pra lembrar que sou
uma hora
pra falar do que vivi
uma hora
pra gritar ainda que sem voz
uma hora
pra sentir você
e me sentir
uma hora
pra querer mais uma hora
pra deixar no corpo
e na memória
o gosto saboroso
da sua beleza
tão sutilmente
conquistadora.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

#microcontos

Seu sorriso é um sol, e eu como um girassol vivo por ele.
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Um abraço, um beijo, um momento eterno.
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Como um palhaço em busca de um sorriso, eu corro atrás do seu amor.
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Tão bela que chamava atenção até mesmo na noite mais escura.

Diogo Hilário

domingo, 2 de dezembro de 2012

Nossos dias

tua vida,
minha sorte.
teu suspiro,
minha morte.

tua paz,
minha luta.
o teu fruto,
minha fruta.

nossa vida
é bem mais
que um somar
de dois ais.

Fábio Pedro Racoski

Hoje é um bom dia

hoje é um bom dia
pra deixar de ser
eu mesmo
em pranto.

hoje é um bom dia
pra cair na rua
e jogar-se
na própria solidão.

hoje é um bom dia
pra estar vivo
apenas por desejar
a doce morte.

Fábio Pedro Racoski

Melancolia

meus medos
macabros
minha música
magistral
meu mal
magnânimo
minha musa
movendo-se
meu menos
meu mais
minha morte
maestra
melancolia

Fábio Pedro Racoski