sábado, 26 de setembro de 2009

Amor num piscar de olhos

Era um dia solar,
desses que a luz do sol
dá à Terra uma lua
disfarçada de estrela.
Nesse dia,
numa rua pisoteada,
ele encontrou
o amor de sua vida.

Olhou em seus olhos,
levantou os ombros e a cabeça,
espremeu um lábio
contra o outro,
erguendo um pesado e fraco
sorriso.
Balançou a cabeça
na direção vertical.
Continuou seu caminho
de pisoteamento do asfalto.

E o vento de um ônibus
que cruzou a rua
levou para longe
seu belo destino.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Cinza

E mais uma vez
minha esperança valeu.
A primavera chegou
com nuvens pesadas
e céu cinzento
como chumbo.

Ah, o cinza...
A paixão da minha vida
e da minha morte.
A cor dos meus olhos,
uma cor tão minha
ainda que impregnada em todos.

Gosto do cinza
como quem se afeiçoa
à imagem de um
palhaço triste.
Ou como quem se alegra
por gostar de algo
que ninguém gosta.

O cinza do rosto de Chaplin,
o cinza da quarta-feira,
o cinza do lápis com o qual
escrevi meus primeiros versos
(tentativas inúteis
de conquistar as mais belas
colegas de classe).
O cinza dos cabelos
que carregam história,
mais do que eu
posso aguentar.

Se o vermelho é paixão,
se o verde é esperança,
se o branco é paz
e o preto é luto,
o cinza é fruto
da mistura de alegria,
tristeza, gravidade
e serenidade
da vida só.
Não, não sou solitário:
sou cinza.
"Com todo direito a sê-lo."

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Gisele Bündchen, embaixadora da ONU

Gisele Bündchen foi nomeada embaixadora da boa vontade pelo programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Imagem de novembro de 2002. Protesto pelo uso de peles em campanhas publicitárias de moda.

É. Há sete anos, essa beldade foi chamada de "escória da pele" (nos cartazes) pelos manifestantes do PETA, organização que defende os direitos dos animais.

Peles, facas e voltas

O mink assassinado
brutalmente
viu seu cadáver
cobrir os seios de Gisele.
O Minc empossado
ministro bicho grilo
vê Gisele
com a missão
de salvar minks.
Como um Saulo
convertido
em Paulo.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Project Needlemouse

Para os apreciadores de jogos eletrônicos (também conhecidos como "gamemaníacos"), que jogaram Sonic no Mega Drive: a Sega promete um grande jogo para o próximo ano.

Sim: um novo jogo do Sonic, todo em 2D, onde será possível correr de verdade com o ouriço supersônico, como nos anos 90!

O não professor

Ele não tinha
os requisitos básicos
para ser
um professor.

Certo dia, depois de
cinco anos na profissão,
chegou para sua aula
repetitiva, cansada
e desgastada.

Um aluno, alheio à insatisfação
do professor,
ergue a voz numa pergunta:
vai passar lição importante hoje?

A verdade é que ele nunca passava
nada de importante,
apenas transcrições
de livros e materiais falhos.
Mas naquele momento,
depois de esbravejar
suas frustrações
no aluno
por eternidades,
foi ele o aluno
de sua própria saliva
cuspida em berros.

Ele não tinha
os requisitos básicos
para ser um professor:
paciência, dedicação,
amor, sangue
e um senso de humor
apuradíssimo.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Curso de Civismo - Módulo I

Brasileiros e brasileiras...

Até a metade dos anos 90, as escolas ensinavam civismo aos alunos. Era disciplina que, junto com OSPB (Organização Social e Política Brasileira), foi extirpada da grade escolar, na desculpa de ser uma herança da ditadura. Na verdade, civismo é uma lição de casa, de família, e não se faz necessária, a princípio, aula na escola sobre isso. Mas, como nada é perfeito... Lembro aqui, nessa postagem, os hinos que o Brasil (não só a Vanusa!) esquecem ou nunca aprenderam:

HINO DA INDEPENDÊNCIA

D. Pedro I, O Cara da independência, é o compositor da melodia deste hino. A letra é de Evaristo Ferreira da Veiga. Foi a primeira canção usada como tema nacional, ainda que não oficialmente.

HINO À BANDEIRA

A música deste hino foi composta por Francisco Braga, para poema do narcisista e arrogante mas, ainda assim, ótimo poeta, Olavo Bilac.

HINO DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

O mais desconhecido, acredito eu. Tem letra de Medeiros e Albuquerque e música de Leopoldo Augusto Miguez. Comemora o golpe militar que foi a República. É: a República já começou errado!

HINO NACIONAL BRASILEIRO


O HINO. E não venha criticar a Vanusa: todos nós erramos, alguma vez, sua canção. Em maior ou menor grau. É um hino que ganhou a letra atual, de Joaquim Osório Duque Estrada, contemporâneo de Olavo Bilac (e também poeta parnasiano), em 1922, na comemoração do primeiro centenário da Independência. A música, de Francisco Manuel da Silva, contemporâneo da Independência, serviu a outras letras (inclusive uma letra para a atual introdução instrumental).

A letra é difícil? Não: ela é apenas extremamente formal, culta e poética. Já ouvi propostas de simplificação do poema no hino. Isso é um absurdo: não é o hino que deve ser "simplificado". É o povo que deve receber uma educação boa o suficiente para compreender o que se canta no Hino Nacional.

Bela composição, poema maravilhoso, é o "Hors-Concours" (ó-concur) entre os hinos que considero belos.

Na Wikipédia há um vocabulário básico para melhor se entender o hino. Infelizmente, não nos dão estudo sobre este poema na escola.

Margens plácidas - "Plácida" significa serena. Calma.
Ipiranga - É o riacho junto ao qual D. Pedro I teria proclamado a independência.
Brado retumbante - Grito forte que provoca eco.
Penhor - Usado de maneira metafórica(figurada). "penhor desta igualdade" é a garantia, a segurança de que haverá liberdade.
Imagem do Cruzeiro resplandece - O "Cruzeiro" é a constelação do Cruzeiro do Sul que resplandece (brilha) no céu.
Impávido colosso - "Colosso" é o nome de uma estátua de enormes dimensões. Estar "impávido" é estar tranqüilo, calmo.
Mãe gentil - A "mãe gentil" é a pátria. Um país que ama e defende seus "filhos" (os brasileiros) como qualquer mãe.
Fulguras - fulgurante (reluzente, brilhante).
Florão - "Florão" é um ornato em forma de flor usado nas abóbadas de construções grandiosas. O Brasil seria o ponto mais importante e vistoso da América.
Garrida - Enfeitada. Que chama a atenção pela beleza.
Lábaro - Sinônimo de bandeira. "Lábaro" era um antigo estandarte usado pelos romanos.
Clava forte - Clava é um grande porrete, usado no combate corpo-a-corpo. No verso, significa mobilizar um exército, entrar em guerra.

Dia da Pátria

Hoje é um dia estranho.
Militares republicanos
comemoram
o ato de um monarca
fundando sua própria
monarquia.

Hoje é um dia estranho.
"O último a sair que apague a luz,
mas eu vou lá na avenida, ver
o desfile!"

Hoje é um dia estranho.
Dia para exercer o patriotismo,
e brasileiro desce para a praia,
liga a televisão
e assiste bandas gringas.
(afinal, patriotismo é para
copa do mundo)

Hoje é um dia estranho.
Dia para cantar
dois hinos que ninguém sabe.
Dia para lembrar
a história que o brasileiro esqueceu.
Dia para viver
um amor que o brasileiro não tem.
E viva o 7 de Setembro!
E viva Dão Pedro pelo feriadão!

Fábio Pedro Racoski

September Seven

Google comemora o Sete de Setembro. Mas, ao contrário do dia da independência de Índia e EUA, essa homenagem aparece apenas no site nacional. Prova de que o Brasil não é tão importante lá fora quanto os brasileiros apregoam.

sábado, 5 de setembro de 2009

Amor verdadeiro

Um casal abraçado.
Um aconchega o outro.
Ele barbudo, barrigudo e feio.
Ela gorda, sebosa e também feia.
Um carinho sincero,
a cena do amor.
Por mais que eles não se amem,
por mais que eles não sejam
formosos.
Talvez porque eles sejam
exatamente o oposto.

Fábio Pedro Racoski
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terça-feira, 1 de setembro de 2009

Gdansk, minha e sua

Hoje, primeiro dia do mês de setembro de 2009, fazem 70 anos que a Segunda Guerra Mundial começo. A guerra que simplesmente mudou por completo a história do mundo: mais que Alexandre, mais que Jesus, mais que Gêngis Khan, mais que Napoleão.

Há exatos setenta anos, a cidade polonesa de Gdansk foi invadida pela blitzkrieg nazista. Respondendo à invasão da Polônia, Reino Unido e França declaravam guerra à Alemanha. Varsóvia é destruída no mesmo ano. Já em 40, os alemães invadem a Holanda, a França... A partir daí, todos os eventos que conhecemos, lemos, ouvimos: do outro lado do mundo, o Império japonês invade meia Ásia, promove uma série de conquistas e constrói - também eles - campos de extermínio. Os Estados Unidos da América entram na guerra, alterando seus rumos drasticamente. Os pracinhas brasileiros, ao lado dos estadunidenses, promovem na Itália uma campanha desastrosa e, ao mesmo tempo, heroica: soldados totalmente despreparados que alcançaram vitórias relevantes. O dia D, as bombas, os horrores, as belas e trágicas histórias... Um novo mundo nasceu daquela Gdansk invadida.

FILHOS DE GDANSK

Gdansk,
pobre cidade polaca.
Entrou para a históra
após parir um novo mundo,
fruto do estupro promovido
pelas tropas de Hitler.

Gdansk,
profeta do destino polaco.
Sobre os escombros de Varsóvia,
sobre os corpos empilhados,
engatinhava o Mundo Novo.

Gdansk,
minha mãe perseverante.
Sobreviveu.
Ergueu a cabeça
e os ombros
para ver seu menino
tocar o terror,
compor um rock,
fazer amor,
brincar com bodoque.

Fábio Pedro Racoski

Cordas parafusadas

Imitando meu nobre colega Igor Ravasco, do blogue Carta e Verso, trago a vocês, caros leitores, um pouco daquele que é o instrumento símbolo de Portugal: a guitarra portuguesa ou, simplesmente, guitarra.Parece um bandolim, mas não é. Parece viola, mas não é. As cordas são esticadas por parafusos (aqueles pinos no leque da cabeça), num sistema mecânico complexo, diferente dos violões e outros, que usam tarraxas. É a alma do fado, mas também aparece em outros ritmos. São 12 cordas, com afinações variadas (as principais são "Coimbra" e "Lisboa").


Também acompanhada, belamente, por voz: