quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

2015

eu sou Rafael Braga
fuzilando seu ódio
com pinho sol
minha voz não se cala
por mais que sua morte
apague meu sol

eu sou estrangeiro
que sangra suor
por nosso Brasil
eu sou professor
que cura com giz
no 29 de abril

eu sou a mulher
que explode seu ego
já frágil e tirano
eu sou feminista
que incomoda seu ódio
de milhares de anos

eu sou estudante
que cuida da casa
e resiste à invasão
eu sou militante
que hasteia a bandeira
da revolução

eu sou o futuro
que você insiste
em eliminar da terra
eu sou a paz
que contra sua opressão
declara guerra.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Puta!

puta!

aquela mulher
que não respondeu
ao seu elogio
- que elogio? -
puta!

aquela mulher
que esteve com cem
ou com ninguém
como se pecado fosse...
puta!

aquela menina
que se descobre
e leva tapa na mão:
reeducação.
puta!

aquela mulher
que por não ser sua escrava
é puta.
aquela mulher
que por ser mulher
é puta.

a puta que te pariu,
a puta que me pariu,
a puta que te criou,
e chorou
e sangrou
e ergueu a cabeça
e lutou com a vida
contra o mundo,
contra tudo,
por ela,
pela vida,
por você.

ah... o que seria
do mundo
sem essas putas?
Fábio Pedro Racoski

(Imagem: "Columna rota", de Frida Kahlo)

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Obrigado, minha amiga


Hoje, perdi uma amiga que por 11 anos me ouviu, foi carinhosa comigo, me fez companhia, me alegrou, com quem brinquei, chorei, ri...

Como era bom chegar em casa e ver você correndo em minha direção, pulando de alegria, e não porque eu tinha um presente: simplesmente porque eu estava de volta.

Como foi reconfortante chegar em casa depois de 13 dias de internação e ver você chorando de saudade de mim. Eu deitado na cama, em recuperação, e você vigiando meu sono.

Como foi emocionante ver você novamente, depois de morar fora por um mês. Você, já sem muita força nas pernas, fez questão de pular em mim novamente.

Porque você nunca desistiu de mim. Você, com seu jeito de chorona e manhosa, sempre esteve ao meu lado. E é por isso que eu fiquei ao seu lado até o fim. Você, mesmo com dores, sem poder andar e sabendo que seu fim estava próximo, mesmo assim, você não desistiu de mim novamente.

Obrigado, Yara, por fazer parte da minha vida de uma forma tão singela, tão linda, com seu amor sincero e gratuito.

Agora você vive em nossa memória, minha velhinha chorona! E é uma belíssima memória, tão linda quanto a paz que você irradia.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Quem me dera, paixonite...


O que mais me causa temor, nesses tempos de crise, não é uma questão meramente econômica ou política. É a falta de algo, de um sentimento no coração das pessoas. Tenho medo dessa falta de paixão.

Sou professor. Tenho paixão por minha profissão. Apaixona-me poder ensinar, contar histórias, ouvir; ver, nos olhos dos alunos que, apesar de toda a bagunça e a falta de estrutura, aquele lugar é, para nós dois, sagrado. Um templo de esperanças, em seu ideal. Essa paixão (que, reconheço, às vezes se desgasta, remando contra a maré, mas segue forte) eu reconheço em poucos lugares por onde observo. Quase nenhum. E isso é mais preocupante que crises políticas, econômicas, partidárias ou governamentais.

Aquela paixão que faz perder o medo de abraçar, de beijar, de ser bobo por um momento. Aquela paixão que move e comove, dando forças a seguir seus sonhos. Aquela paixão por uma causa, pela luta, que faz do ser humano a criatura mais forte e transformadora do Universo conhecido.

Esses nossos dias estão muito práticos, muito técnicos, muito materiais. Engajar-se politicamente tornou-se algo vergonhoso; dar aulas passou a ser uma piada piedosa; estar com alguém, de corpo e alma, é visto como perda de tempo. Importam mais os números, os títulos, a lamentação vazia, no lugar do coletivo humano, da importância do indivíduo, da (re)ação.

Nosso problema humano não será resolvido com melhores aparelhos eletrônicos, nem com a saída de um governante ou outro, muito menos com intervenção militar ou isolamento de culpa. Precisamos de paixão. Paixão nos corações. Paixão nos punhos. Paixão no sangue. Paixão na política e na fé, na vida e pela vida.

HUMANOS DE TODOS OS PAÍSES, APAIXONEMO-NOS!

Fábio Pedro Racoski

domingo, 10 de maio de 2015

Aquela pessoa


aquela pessoa
que contraria
o cansaço,
o desistir,
a mágoa,
a dor...

aquela pessoa
que transcende
os gêneros,
as cores,
os perfumes,
as políticas...

aquela pessoa
que transgride
a norma,
a indiferença,
a forma
da descrença...

aquela pessoa
que interrompe
meus versos,
minhas lágrimas,
meu desespero
pra ser sempre
presença e memória,
abraço e firmeza,
aquela pessoa
que muito além de pessoa
é tudo,
é mais,
minha mãe.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 2 de maio de 2015

Aos professores


Pobres professores
que jazem sangrados
pelos dessangrados
guardas dos senhores.

Estes professores,
mestres do saber,
reis do vir a ser
já não sentem dores.

Sentem, lentamente,
seu santo trabalho
jogado em baralho,
sorte de quem mente.

Como a luz no olhar,
ainda que ferido,
ainda que dorido,
insiste em brilhar?

Segue a ensinar,
não cessa de crer,
não cessa de ser...
De onde tomam ar?

Nobres professores,
que se erguem sangrados;
nunca derrotados
suportando as dores.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Carta aberta à Polícia Militar do Paraná

Caros policiais, trabalhadores, venho, através desta carta aberta, fazer primeiro um exercício de memória e depois uma pergunta, apenas. Deixo de lado, por um instante, meu papel como professor.

Caros policiais, gostaria que vocês se lembrassem do tempo da escola. Os aviõezinhos de papel fabricados, os recreios com lanche e brincadeiras, as idas de alguns à diretoria, as palavras dos professores... Vocês conseguem se lembrar daquela matéria chata, daquele professor irritante? Conseguem se lembrar daquela professora de Artes, que parecia maluca mas era apenas uma pessoa querendo que vocês conhecessem mais da cultura do mundo? Conseguem se lembrar das broncas da professora, que ainda ecoam na pessoa adulta que são hoje? Conseguem se lembrar do carinho, da dedicação destes profissionais, que às vezes chegaram a chorar em sua presença (sem contar as diversas vezes em que eles choraram sem ninguém ver, por causa das dificuldades da profissão, pela preocupação com os alunos)?

Vocês se lembram do pessoal na cantina, que fazia do pouco muito para que os alunos tivessem algo bom para comer? Vocês se lembram do sinal tocando, a correria para voltar pra casa, as histórias que vocês contavam aos seus pais, e que lhes foram contadas pelos seus mestres?

Hoje, caros policiais, essas pessoas que tanto suaram para garantir a vocês um futuro melhor, estão sendo roubadas por aqueles senhores de terno e gravata que hoje lhes pedem segurança, como se a prof. Ana Maria de geografia, aquela senhora que olhava em seus olhos e lhe dizia que é preciso estudar para ser mais humano, fosse uma criminosa.

Caros policiais, aqueles senhores, que deveriam representar o povo, não sabem do que nós sabemos. Não sabem o quanto é difícil ensinar, o quanto é difícil vigiar e proteger.

Caros policiais, peço que reflitam, também como Corporação mas, principalmente, como seres humanos: quem são as pessoas que realmente precisam de proteção na Praça Nossa Senhora de Salete? Seus mestres, que estão com vocês, lutando na realidade do povo? Ou aqueles senhores de terno e gravata, que reprovaram vergonhosamente na escola da vida?

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Universo você


troco todas
as aventuras
os desfiladeiros
os planetas
as viagens multidimensionais
as lutas contra os moinhos
de vento
para acordar
mais um dia
ao seu lado
com um beijo
e nosso amor
pentadimensional.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 4 de abril de 2015

Na manhã da minha vida

Poema dedicado ao menino Eduardo de Jesus Ferreira,
à sua mãe, Terezinha Maria de Jesus,
e a todos os seres humanos de verdade.

na manhã da minha vida,
enquanto você come
seu cereal encaixotado,
enquanto você brinca
de ser dono das pessoas,
enquanto você sente
preguiça de sair dos aposentos,
o sol se apaga pra mim.

na manhã da minha vida,
enquanto você
já chegou na noite,
enquanto você reclama
da comida uma vez repetida,
enquanto você xinga
quem você ama por não saber amar,
só me resta o amor da minha mãe.

na manhã da minha vida,
enquanto você tem nome
e sobrenome,
enquanto você conta
seus sonhos,
eu não tenho sobrenome,
eu não conto mais.
eu sou Eduardo,
eu sou todomundo,
e sou o futuro do pretérito.
o futuro preterido.
não vi o por do sol.
não pude brincar de ser adulto.

Fábio Pedro Racoski