quarta-feira, 29 de abril de 2015

Carta aberta à Polícia Militar do Paraná

Caros policiais, trabalhadores, venho, através desta carta aberta, fazer primeiro um exercício de memória e depois uma pergunta, apenas. Deixo de lado, por um instante, meu papel como professor.

Caros policiais, gostaria que vocês se lembrassem do tempo da escola. Os aviõezinhos de papel fabricados, os recreios com lanche e brincadeiras, as idas de alguns à diretoria, as palavras dos professores... Vocês conseguem se lembrar daquela matéria chata, daquele professor irritante? Conseguem se lembrar daquela professora de Artes, que parecia maluca mas era apenas uma pessoa querendo que vocês conhecessem mais da cultura do mundo? Conseguem se lembrar das broncas da professora, que ainda ecoam na pessoa adulta que são hoje? Conseguem se lembrar do carinho, da dedicação destes profissionais, que às vezes chegaram a chorar em sua presença (sem contar as diversas vezes em que eles choraram sem ninguém ver, por causa das dificuldades da profissão, pela preocupação com os alunos)?

Vocês se lembram do pessoal na cantina, que fazia do pouco muito para que os alunos tivessem algo bom para comer? Vocês se lembram do sinal tocando, a correria para voltar pra casa, as histórias que vocês contavam aos seus pais, e que lhes foram contadas pelos seus mestres?

Hoje, caros policiais, essas pessoas que tanto suaram para garantir a vocês um futuro melhor, estão sendo roubadas por aqueles senhores de terno e gravata que hoje lhes pedem segurança, como se a prof. Ana Maria de geografia, aquela senhora que olhava em seus olhos e lhe dizia que é preciso estudar para ser mais humano, fosse uma criminosa.

Caros policiais, aqueles senhores, que deveriam representar o povo, não sabem do que nós sabemos. Não sabem o quanto é difícil ensinar, o quanto é difícil vigiar e proteger.

Caros policiais, peço que reflitam, também como Corporação mas, principalmente, como seres humanos: quem são as pessoas que realmente precisam de proteção na Praça Nossa Senhora de Salete? Seus mestres, que estão com vocês, lutando na realidade do povo? Ou aqueles senhores de terno e gravata, que reprovaram vergonhosamente na escola da vida?

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Universo você


troco todas
as aventuras
os desfiladeiros
os planetas
as viagens multidimensionais
as lutas contra os moinhos
de vento
para acordar
mais um dia
ao seu lado
com um beijo
e nosso amor
pentadimensional.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 4 de abril de 2015

Na manhã da minha vida

Poema dedicado ao menino Eduardo de Jesus Ferreira,
à sua mãe, Terezinha Maria de Jesus,
e a todos os seres humanos de verdade.

na manhã da minha vida,
enquanto você come
seu cereal encaixotado,
enquanto você brinca
de ser dono das pessoas,
enquanto você sente
preguiça de sair dos aposentos,
o sol se apaga pra mim.

na manhã da minha vida,
enquanto você
já chegou na noite,
enquanto você reclama
da comida uma vez repetida,
enquanto você xinga
quem você ama por não saber amar,
só me resta o amor da minha mãe.

na manhã da minha vida,
enquanto você tem nome
e sobrenome,
enquanto você conta
seus sonhos,
eu não tenho sobrenome,
eu não conto mais.
eu sou Eduardo,
eu sou todomundo,
e sou o futuro do pretérito.
o futuro preterido.
não vi o por do sol.
não pude brincar de ser adulto.

Fábio Pedro Racoski