sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Carência de vida

Beijos
não me fazem falta.
Abraços
não me dão saudade.
Carícias e trocas
não me fazem sofrer
por um passado
que é passado
nas memórias,
nos sonhos.

O que me faz doente
é a ausência
das suas palavras,
do seu perfume,
de tudo.
Pois tudo,
pra mim,
é você.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Poesia para quê?

Poesia é brincar de rimas.
Poesia é brincar de escrever
frases curtas.
Poesia é cantada
de intelectualoide.
Poesia é conversa vazia
de gente excêntrica.

Poesia é arte.
E arte é inútil.
Não soma nada
ao conhecimento,
não faz evoluir
o homem.

Cesar Miller de Almeida

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Não tenha
pena de mim.
Dispenso sua
compaixão.
Não queira
resolver
os problemas
que não tenho.
Não busque
me tirar
da minha solidão.

Sou só.
Sempre fui só.
Gosto de ser só.
Minha vida é
ser só.
Eu, amigos,
família,
só.

Sou só e,
sendo só,
estou acompanhado
de um mundo
inteiro.

Amo.
Intransitivamente.
E só.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O casal

eles brincam,
eles correm,
eles se beijam,
se abraçam,
se curtem,
se querem,
se apaixonam...

eles aprendem,
eles ensinam,
eles cantam,
dançam,
choram,
riem,
amam...

eles são
um para o outro
enquanto o sempre
for sempre.
e nós
invejamos
admirados.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tortilha espanhola "a la Ruffles"

Eis que, num blogue de poesia, literatura e afins, aparece uma receita culinária. Mas é o que sei fazer melhor: a tortilha espanhola "a la Ruffles", ou "tortilla perezosa".

Eis os ingredientes:

- 4 ovos
- 1 pacote de Ruffles Pra Galera
- Orégano
- Uma pitada de hortelã

Como se faz?

Amasse bem as batatas fritas, até ficarem em pedacinhos. Junte aos ovos e misture tudo (orégano e hortelã também), deixando uns 5 minutos de molho. Leve à frigideira, espere dourar e, depois, vire ou leve ao forno (fogo alto) por uns 10, 15 minutos. Você pode acrescentar à receita páprica, queijo minas, ricota, queijo muçarela, tomate, calabresa, toucinho defumado (o popular "bacon"), o que vier na ideia!

Se você é vegano, pode substituir os 4 ovos por leite de arroz.

Rendimento: 4 pessoas ou 2 gulosos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Preciso correr

Preciso correr
antes que chegue
o amanhã.

Quanto mais rápido
vou,
mais lento
fica o mundo.
As pessoas, estáticas,
são figuras borradas
numa paisagem
triste
e antiga.

Preciso correr,
antes que eu fique
na estação do ontem.

Se pulso além do pulsar
do tempo,
não sinto as dores
do agora
e me esqueço das feridas
de antes.

Preciso correr...

Cheguei. Eis meu tempo,
além do hoje,
do ontem, do amanhã,
além do próprio tempo.
Meu universo,
um verso.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Parafraseando Helena Kolody

Deus dá a todos uma mente.
Uns fazem genialidade,
outros vivem na indecente,
cômoda, bestialidade.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Não chore sozinha

Não chore sozinha.
Não rasgue seu coração
em pedaços
sem que eu esteja aí.
Não sofra sozinha.
Não sinta sua alma
ferida
sem que eu esteja aí.
Não se desespere sozinha.
Não sinta o peso
do mundo
sem que eu esteja aí.

Quero chorar com você.
Quero sofrer com você.
Divida sua dor
comigo,
porque não quero
que doa
tanto.
Porque minha dor
é sua dor
e minha alegria
é seu bem.

Fábio Pedro Racoski

Eus

às vezes pareço um androide,
alma fria, isolada, aflita
às vezes estou schadenfreude
outras vezes estou mudita

sou contraditório a mim mesmo
me apaixono e não sou amante
sou poeta, mas falo a esmo
sou cético, sou delirante

sou verso triste e melancólico
sou sátira, fado, revolta
sou urbano, mas sou bucólico
sou passagem de ida sem volta

às vezes sou outra pessoa
rei, mendigo, guerreiro, atleta
pobre, pouco, um humano à toa
este eu, confuso, eu poeta.

Fábio Pedro Racoski

Dois lados

De lá, amor.
De cá, paixão.
De lá, a dor.
De cá, pagão.
De lá, ardor.
De cá, tesão.
De lá, propor.
De cá, sei não.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Selos

Caro leitor, querida leitora. Este blogue recebeu selos (ou "selinhos"), muito honradamente, da Bárbara, do blogue Efusão Lírica. Os selos são os seguintes:

Sigo como mandam as regras do repasse destes selos

- agradecer a quem me deu esse prêmio;
- partilhar 7 coisas sobre mim;
- escolher 10 blogs para presentear com o selo;

7 coisas sobre mim:

1) Sou poeta
2) Trabalho como professor
3) Fiz gastroplastia
4) Na minha casa há dezenas de instrumentos musicais, mas não mando bem em nenhum
5) Reclamo demais do mundo
6) Gosto muito de gatos e cachorros (os animais, felinos e caninos!)
7) Estou solteiro!

E os 10 blogues a indicar:

The Bettie Pages
VidaFlôr
Ácido Ascético
Inquietações tamanhas
Borboletas Interiores
Carta e Verso
Ela, Manuella
Escapismos
Pseudocoisa
O Lado N

Obrigadão, Bárbara!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Porque te amo

Porque te amo,
caminho.
Porque te amo,
sigo.
Porque te amo,
batalho.
Porque te amo,
não desisto.
Porque te amo,
quero.
Porque te amo,
vivo.
Porque te amo,
luto.
Porque te amo,
rio.
Porque te amo,
choro.
Porque te amo,
sou.
Porque te amo,
me amo
porque me amas.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Virtualmente alguém

Sua rede social
é reflexo
de sua mesquinhez.
Os números de seus
amigos e seguidores
refletem sua necessidade
de negar
que é medíocre.

Usar peças elétricas
frias e calculistas
para enganar-se
como ser humano
é o que há de
mais baixo
nas relações
humanas.

Cesar Miller de Almeida

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sem quilômetros

Eu queria,
ao menos por um dia,
ser dono do tempo,
domador das distâncias,
senhor do espaço,
apenas por um dia.

Apenas para ir
ao teu encontro,
abraçar-te,
reconfortar-te,
conversar
sobre qualquer coisa.

E este dia
seria eterno.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 4 de dezembro de 2010

Máquina do tempo

Quando eu era criança,
queria inventar
uma máquina do tempo,
só para ver dinossauros,
homens das cavernas,
fortes apaches
e egípcios
com suas pirâmides.

Quando eu era adolescente,
queria inventar
uma máquina do tempo,
só para ter mais tempo
com meu pai.

Quando eu era jovem,
queria inventar
uma máquina do tempo,
só para dizer à minha irmã
o quanto ela é importante.

E hoje,
quero inventar
uma máquina do tempo,
só para dizer
àquela criança
que a vida é linda,
mesmo com dores
tão intensas.

Fábio Pedro Racoski

Mater

Ah, mãe...
Eu poderia
dizer que te amo.
Mas já sabes.
Eu poderia
cantar melodias,
mas já as conheces.
Eu poderia
dar parte de mim,
mas sou parte tua.

Ah, mãe...
O que posso te dizer
que já não sintas?
O que posso te fazer
que já não saibas?
O que devo te dar
além de orgulho
e carinho?

Quando eu for pai,
quero ter uma menina,
para que ela tenha o dom
que me foi negado por
minha natureza masculina:
ser mãe.

Fábio Pedro Racoski

Não sei

Não sei
ser herói de ação,
pular sobre trens
em movimento,
explodir quartéis,
salvar o mundo
e abraçar a mocinha
com braços fortes.

Não sei
ser cavaleiro de contos,
lutar ao valor da amada,
vestir armadura
e montar
cavalo.

Não sei
ser elegante,
ter fineza nos gestos
e sofisticação
nas roupas.

Não sei
ser bonito,
conquistar com o olhar
e usar do físico
(que não possuo)
como instrumento
de paixão.

Não sei
ser nada mais
do que eu mesmo,
rude, feio,
um poeta qualquer...
Mas um poeta qualquer
que lhe ama.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Não me quero

Não me quero.
Não desejo estar
com alguém
tão maçante,
tão derrotado,
tão incômodo
e tão patético
quanto eu.

Não me quero.
Não penso em passar
o resto da vida
ao lado de um
poeta miserável,
fraco,
covarde,
feio, burro,
injusto.

Não me quero.
Não serei vítima
do estrago causado
por alguém
que não sabe se amar.

Não me quero.
Por isso deixei meu eu
morrer à míngua.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Autobullying

Estou habituado
a ser difamador
de mim mesmo.

As piadas ofensivas
que insisto em contar
tem meu ego
como alvo.
O vexame do qual rio
é minha feição.

Estou habituado
a ser difamador
de mim mesmo.

Gosto de dizer
o que sinto por você.
O quanto amo,
o quanto quero,
e nisso sou sincero.
Mas também gosto
de ser injusto
comigo.

Estou habituado
a ser difamador
de mim mesmo.

Aprisionei meu
amor próprio.
Ele só aparece
quando é pra você.
E sei que você quer
que eu o liberte.

Preciso que você
me ensine como.

Fábio Pedro Racoski

E se...

E se eu
não fosse eu
mas na verdade
outro eu
que eu não conheço
porque vive num eu
além do eu?

E se tudo
não fosse tudo
mas algo além
do nosso tudo
que por ser mais
que o todo e o tudo
está além
do é, que é tudo?

E se o poeta
mão fosse poeta,
apenas alguém
que escreve letras
de filosofia
barata,
confusa,
embriagada
de vida e amor?


Fábio Pedro Racoski