terça-feira, 28 de setembro de 2010

Homo amans

Ele disse "sim".
E ele também.
E foram felizes para sempre.

Ela entrou no quarto
e abraçou forte
sua amada.
E foram amantes por toda a vida.

Eles viveram,
e lutaram,
e choraram,
e riram,
e sofreram,
e se apaixonaram.

Eles se respeitam,
se cuidam,
se somam,
se amam.

Eis o amor.
Amor humano pois,
como disse Santo Agostinho,
o amor não tem medida.
Se não tem medida,
não tem gênero.

Fábio Pedro Racoski

Cara de mau

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
Simplesmente porque
sou bom,
e a vida gosta de pregar peças
em quem tem cara de bobo.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
Não espere de mim
um sorriso amarelo
ou uma cara de anjo
se o que você merece
é uns tapas.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
A vida não sorri a mim,
e assim a trato com
reciprocidade.
Ainda que com elegância.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
A arrogância oculta
nos falsos sorrisos
de ternos e linhos
me irrita demais.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
Não porque endureço-me,
mas para não desmontar-me.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
Porque lhe quero bem.

Fábio Pedro Racoski

*Na foto, nosso amiguinho, Cristian.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Enfim

Meu olhar é profunda escuridão,
reflexo de uma alma
que já não quer.
Ah, as estrelas no céu,
tão lindas e, agora,
tão apagadas...
Ah, o sol, as flores...
Luzes frias e imagens borradas
à minha frente...

Meus ouvidos são poços de lamentos.
Ah, o pássaro a cantar,
como me chora,
Ah, a canção triste:
prenúncio do fim
que está por vir...

Meu corpo é carne a desprender-se
da alma, que se despede.
Meu sangue é paixão que se esvai,
tomando de vermelho o mundo.

Minha boca já não fala,
minhas pernas já não querem andar.
O fim, que chega, é tão assustador
e tão bonito!

Ah, deixe-me, não venha por mim.
Depois da vida, isto parece tão intenso
que não quero mais voltar.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 18 de setembro de 2010

Sensações explícitas

Começaste em meu pescoço,
deixando prolongadas
marcas vermelhas.
Prosseguiste ao meu peito,
fazendo-me gemer.
Ah, e foste descendo,
descendo,
a barriga, as pernas.
Fizeste-me delirar...
E enfim, quando chegaste
aos meus pés,
findaste em mim.
Coceira maldita!

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Quase tudo não

Não quero, não sou,
não vou e nem corro.
Não sei, não estou,
não faço nem morro.

Não vivo, não vim,
não ouço, não cheiro
e dentro de mim
levo um mundo inteiro.

Tudo porque te amo,
te quero, te verso.
Nada mais eu clamo
se és meu universo.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Versos da alma feminina

Tu não me entendes, ó moço.
Queres de mim compreensão
e eu, calada, apenas ouço.
Queres de mim toda a paixão
e tu, varão, não vês pública
minha solitária súplica.

Tu não me buscas, rapaz,
quando ouso perder-me em ti
por teu amor, nossa paz...
E eu, sozinha, fico aqui
pelos cantos, a chorar
o teu sentir que não há.

Vem, entra em minh'alma doente
vem por mim, vem encontrar-te.
Aprende a ser diferente,
eu fartei-me de ensinar-te;
compreender-me não é arte
mas ofício espiritual.
Não serei mais passional.
Vem estudar-me com calma
e absolva-te a mim tua alma.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

強い女性 (Tsuyoi Josei)

Poema dedicado a @Amy__twit


Quanto mais conheço
as mulheres.
Mais vejo como
sou fraco.

Levantar cinco e meia da manhã,
educar os filhos, cuidar da saúde
(coisa que homens não fazem por frescura),
suportar as dores,
carregar o mundo,
exigir-se,
superar barreiras,
encarar preconceito e discriminação,
lutar pela vida...
E, mesmo depois de tanta guerra,
tantas batalhas, tanto suor,
tantas lágrimas,
são belas,
são mágicas,
são musas,
são poesia,
são fortes,
muito mais do que eu
posso ser.

Ah, ensina-me
a ser assim.
Quero ser um homem feminino.

Fábio Pedro Racoski

*O título significa "Mulher forte", em japonês.

Dilma, uma mulher na História...


Atualização: o vídeo original, do programa da noite de 07/09, é este:

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Amor amigo

Meu amor amigo:
amo, suo e sinto
teu amar comigo
sem nenhum “eu minto”.

Meu amar amor:
quero-te troféu
e dou-me, sem dor,
ao teu belo céu.

Meu amar amigo:
teu é tudo meu
comigo é contigo.

Meu sincero amar:
meu é tudo teu.
Nosso é todo o mar.

Fábio Pedro Racoski

Morto-vivo renascendo

Minha mãe me chama
na beira da cama:
“Pare de morrer;
Comece a viver!”

Viver como antes,
nos tempos cantantes.
Sem voltar no tempo:
seguindo com (o) tempo.

O morrer vivendo
só vem para quem
não faz ser alguém.

Agora eu entendo
porque a mãe me chama
na beira da cama.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 4 de setembro de 2010

Eleitor Prison Blues

Olá. Estou num vácuo de produção literária. Mas logo tem coisa boa por aí (epero!). Enquanto isso, deixo-lhes um vídeo do Maurício Ricardo, sobre as eleições: "Eleitor Prison Blues".