terça-feira, 30 de novembro de 2010

Canção do não-exílio

Minha terra tem poetas
exilados da canção
pela falta dos ouvidos
que não ouvem seu refrão.

Minha terra tem alunos
órfãos de seus professores,
mortos-vivos maltratados
com seus saberes amores.

Minha terra tem caciques
que não ouvem sua aldeia,
que não cuidam de seus índios,
de nós não fazem ideia.

Minha terra não tem terra
para o homem que é da terra.
Minha pátria não tem pátria,
não tem frátria, não tem mátria.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 28 de novembro de 2010

Poetisa

Maravilhado eu escuto
tua voz, doce poesia.
Entras em meu peito bruto
com teus versos de alegria,
tristeza, dor, fé, amor...
Fazes-me teu servidor.

Apaixonado eu observo
tua dança-rima de estrofes.
Faço-me de novo teu servo
e, caso tu filosofes
em teus versos sobre mim,
será alegria sem fim.

Que seja filosofia
sobre eu, um miserável
poeta sem calmaria,
um amado desamável,
Mas que seja eu de ti
Como eu te verso aqui.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 27 de novembro de 2010

Você...

Você diz,
eu escuto.
Você fala,
eu ouço.
Você sorri,
eu danço.
Você chora,
eu abraço.
Você quer,
eu encontro.
Você precisa,
eu crio.
Você chama,
eu vou.
Você pede,
eu estou.
Você manda,
eu faço.
Você ama,
eu sou.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quadra nipônica

Além de Izanami e Izanagi está
a origem divina que te gerou:
Deusa, mulher, sol, a ti igual não há.
Todo verso por ti se apaixonou.

Fábio Pedro Racoski

Verso a verso

Meu tempo passa
verso a verso.

Não sou mortal,
não sou datado,
não sou secular.
Sou eterno,
sou além do tempo,
sou além do ser.

Meu tempo passa
verso a verso.

Vi faíscas em pedras,
vi cavernas,
vi pirâmides,
vi estátuas,
vi máquinas,
heróis, vilões, deuses,
guerreiros, escravos,
prostitutas, pedreiros,
de todas as cores,
de ódios e amores,
de reinos e tribos.

Meu tempo passa
verso a verso.

Já vesti tanga,
túnica,
linho e seda.
Já vesti nada.
Já andei o mundo
em lombo de burro,
já cruzei o Atlântico
em avião.

Meu tempo passa
verso a verso.

Enxuguei as lágrimas
da órfã de mamutes.
Consolei o pranto
da vitoriana plebeia.
Impedi que a jovem
pulasse do edifício.

Meu tempo passa
verso a verso.

Sou mais um nas ruas,
nas trilhas,
rasgando o ar
e o espaço-tempo
sem pedir licença.
Sou mais um
a olhar
e admirar.
Sou um.
Sou poeta.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Completude

Quero dizer-te o quanto sinto aquilo
que me ensinaram a chamar de amor
mas a palavra de mim busca asilo,
e o versador silente fica em dor.

Tudo porque ouço as palavras que trazes:
preocupação, carinho, afeto, fé
a um ser descrente do amor próprio, fazes
nova alegria por estar de pé

firme, consciente que por ti preciso
viver, amar-me pra poder amar-te.
Ser teu, ser nós, tu, minha paz, sorriso.

Se há algo em mim que me faz ser é dar-te
tudo o que existe de bondade e riso
para que eu seja em ti a vida em arte.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Hugo Chávez Frías

Cuezo Stalin con Mussolini
si tú Hugo Chávez frías.

El caliente trópico sur
más caliente está
con el liderazgo del
jefe socialista,
bolivariano,
aristócrata,
más o menos
totalitario.

Cuezo Stalin con Mussolini
si tú Hugo Chávez frías.

Orgullosos están
del hijo Huguito
los históricos
líderes rojos:
Lenin, Fidel,
Pol Pot, Mao,
Kim Il-Sung,
Mefisto...

Cuezo Stalin con Mussolini
si tú Hugo Chávez frías.

Propongo a la humanidad
una sabia decisión:
adoptemos al chaval
como jefe mundial,
mientras esperamos
por el apocalipsis.

Cuezo Stalin con Mussolini
si tú Hugo Chávez frías.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 21 de novembro de 2010

Mata-me

Mata-me.
Vida só, não-vida.
Um em dois, infinda.

Mata-me.
Sangue, suor, secura.
Beijo, nós, loucura.

Mata-me.
Olhos, boca, mudo.
lábios, fogo, tudo.

Mata-me.
Mundo, terra, ar.
Tu, nós dois, amar.

Fábio Pedro Racoski

Cesar Miller de Almeida

Vez em quando, aqui, no blogue, publicarei as obras do não-poeta Cesar Miller de Almeida.

Filho de pai inglês e mãe brasileira, educado em boa (e cara) escola católica, Cesar Miller de Almeida é, como o próprio diz, "não-poeta". Considera a poesia uma futilidade, já que trata de subjetivismos que não levam a nada: não trabalha para a ciência humana.

A periodicidade dos não-poemas de Cesar Miller de Almeida será bastante esporádica, devido ao seu precioso tempo já estar ocupado para o progresso das ciências.

Amor não há

Não há nada de amor em mim.
Apenas reações do meu inconsciente
a estímulos que causam regozijo,
alívio, saciedade,
dor.

Não há nada de amor em mim.
Quando quero-te é porque meu corpo
está no cio,
como qualquer mamífero
que se preze.

Não há nada de amor em mim.
A relação que tenho
com familiares e amigos
se resume em comodidade,
conveniência,
sobrevivência.

Não há nada de amor em mim.
Aliás: quem disse
que há amor?

Cesar Miller de Almeida

Mais um poema apaixonado

E seu escrevesse
mais um
poema apaixonado?

Daqueles em que os versos
se embriagam de clichês,
daqueles em que as estrofes
se espremem na métrica,
daqueles em que os poetas
tentam em vão
seduzir, fazer-se amado,
conquistar, fingir,
enganar...

Mas hoje o fingimento
não venho me visitar
e fiquei abraçado
com a sinceridade
(ainda que fingidora).

Não posso escrever
um poema apaixonado,
só hoje.

Mas posso escrever-te
com meus olhos.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Você me faz bem

Você me faz bem.
Com você
aprendo num dia
o que sozinho
levaria anos.

Você me faz bem.
Com você
sou mais eu
do que costumo
ser.

Você me faz bem.
Sem você
sou doente,
ignorante,
ninguém.

Você me faz bem.
Sem você,
como posso
retribuir?

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vote em mim

Vote em mim!

Me chamam de bicha,
boiola, veado,
sapatão.
Sei o que é
viver cercado
de ódio.
Sofro, luto.
Sei me defender.

Vote em mim!

Me chamam de puta,
rampeira, quenga.
Sei o que é
trabalhar
com gente suja
e lutar
para me manter
limpa.

Vote em mim!

Me chamam de tudo,
mas nunca me chamam.
Sei que sou igual
a quem está debaixo
daquele terno suado.
Sei que tenho mais
humanidade
do que quem se diz
amigo do povo.
Sei que sou você,
ele, ela,
nós,
mesmo que você
não queira.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Versos de uma alma masculina

Cubro-me de robustez
para disfarçar
minhas fraquezas.
Mostro-me lógico
e prático
para disfarçar
meu espírito
sonhador.
Elevo o tom da minha voz
para disfarçar
a leveza
dos versos
da minha alma.

Sou homem.
Vendo minha
complexidade
como a mais simples
pobreza.
Gosto de dizer
que venci,
mas lá no meu íntimo
fico feliz por ser
conquistado.

Quero-te,
porque quero
ser todo teu.
Tenho-te
porque eu já
me entreguei
a ti.
Protejo-te,
porque és
minha fortaleza.
Amo-te,
porque somos um.

Sou homem.
Enterno dependente,
eterno aprendiz,
eterno sonhador,
eterno poeta,
eterno teu.

Fábio Pedro Racoski