sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Verso a verso

Meu tempo passa
verso a verso.

Não sou mortal,
não sou datado,
não sou secular.
Sou eterno,
sou além do tempo,
sou além do ser.

Meu tempo passa
verso a verso.

Vi faíscas em pedras,
vi cavernas,
vi pirâmides,
vi estátuas,
vi máquinas,
heróis, vilões, deuses,
guerreiros, escravos,
prostitutas, pedreiros,
de todas as cores,
de ódios e amores,
de reinos e tribos.

Meu tempo passa
verso a verso.

Já vesti tanga,
túnica,
linho e seda.
Já vesti nada.
Já andei o mundo
em lombo de burro,
já cruzei o Atlântico
em avião.

Meu tempo passa
verso a verso.

Enxuguei as lágrimas
da órfã de mamutes.
Consolei o pranto
da vitoriana plebeia.
Impedi que a jovem
pulasse do edifício.

Meu tempo passa
verso a verso.

Sou mais um nas ruas,
nas trilhas,
rasgando o ar
e o espaço-tempo
sem pedir licença.
Sou mais um
a olhar
e admirar.
Sou um.
Sou poeta.

Fábio Pedro Racoski

Um comentário:

  1. Sou um e sou todos... "eu nasci a dez mil anos atrás". Que bom que existam poetas neste mundo!

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