sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Carência de vida

Beijos
não me fazem falta.
Abraços
não me dão saudade.
Carícias e trocas
não me fazem sofrer
por um passado
que é passado
nas memórias,
nos sonhos.

O que me faz doente
é a ausência
das suas palavras,
do seu perfume,
de tudo.
Pois tudo,
pra mim,
é você.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Poesia para quê?

Poesia é brincar de rimas.
Poesia é brincar de escrever
frases curtas.
Poesia é cantada
de intelectualoide.
Poesia é conversa vazia
de gente excêntrica.

Poesia é arte.
E arte é inútil.
Não soma nada
ao conhecimento,
não faz evoluir
o homem.

Cesar Miller de Almeida

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Não tenha
pena de mim.
Dispenso sua
compaixão.
Não queira
resolver
os problemas
que não tenho.
Não busque
me tirar
da minha solidão.

Sou só.
Sempre fui só.
Gosto de ser só.
Minha vida é
ser só.
Eu, amigos,
família,
só.

Sou só e,
sendo só,
estou acompanhado
de um mundo
inteiro.

Amo.
Intransitivamente.
E só.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O casal

eles brincam,
eles correm,
eles se beijam,
se abraçam,
se curtem,
se querem,
se apaixonam...

eles aprendem,
eles ensinam,
eles cantam,
dançam,
choram,
riem,
amam...

eles são
um para o outro
enquanto o sempre
for sempre.
e nós
invejamos
admirados.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tortilha espanhola "a la Ruffles"

Eis que, num blogue de poesia, literatura e afins, aparece uma receita culinária. Mas é o que sei fazer melhor: a tortilha espanhola "a la Ruffles", ou "tortilla perezosa".

Eis os ingredientes:

- 4 ovos
- 1 pacote de Ruffles Pra Galera
- Orégano
- Uma pitada de hortelã

Como se faz?

Amasse bem as batatas fritas, até ficarem em pedacinhos. Junte aos ovos e misture tudo (orégano e hortelã também), deixando uns 5 minutos de molho. Leve à frigideira, espere dourar e, depois, vire ou leve ao forno (fogo alto) por uns 10, 15 minutos. Você pode acrescentar à receita páprica, queijo minas, ricota, queijo muçarela, tomate, calabresa, toucinho defumado (o popular "bacon"), o que vier na ideia!

Se você é vegano, pode substituir os 4 ovos por leite de arroz.

Rendimento: 4 pessoas ou 2 gulosos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Preciso correr

Preciso correr
antes que chegue
o amanhã.

Quanto mais rápido
vou,
mais lento
fica o mundo.
As pessoas, estáticas,
são figuras borradas
numa paisagem
triste
e antiga.

Preciso correr,
antes que eu fique
na estação do ontem.

Se pulso além do pulsar
do tempo,
não sinto as dores
do agora
e me esqueço das feridas
de antes.

Preciso correr...

Cheguei. Eis meu tempo,
além do hoje,
do ontem, do amanhã,
além do próprio tempo.
Meu universo,
um verso.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Parafraseando Helena Kolody

Deus dá a todos uma mente.
Uns fazem genialidade,
outros vivem na indecente,
cômoda, bestialidade.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Não chore sozinha

Não chore sozinha.
Não rasgue seu coração
em pedaços
sem que eu esteja aí.
Não sofra sozinha.
Não sinta sua alma
ferida
sem que eu esteja aí.
Não se desespere sozinha.
Não sinta o peso
do mundo
sem que eu esteja aí.

Quero chorar com você.
Quero sofrer com você.
Divida sua dor
comigo,
porque não quero
que doa
tanto.
Porque minha dor
é sua dor
e minha alegria
é seu bem.

Fábio Pedro Racoski

Eus

às vezes pareço um androide,
alma fria, isolada, aflita
às vezes estou schadenfreude
outras vezes estou mudita

sou contraditório a mim mesmo
me apaixono e não sou amante
sou poeta, mas falo a esmo
sou cético, sou delirante

sou verso triste e melancólico
sou sátira, fado, revolta
sou urbano, mas sou bucólico
sou passagem de ida sem volta

às vezes sou outra pessoa
rei, mendigo, guerreiro, atleta
pobre, pouco, um humano à toa
este eu, confuso, eu poeta.

Fábio Pedro Racoski

Dois lados

De lá, amor.
De cá, paixão.
De lá, a dor.
De cá, pagão.
De lá, ardor.
De cá, tesão.
De lá, propor.
De cá, sei não.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Selos

Caro leitor, querida leitora. Este blogue recebeu selos (ou "selinhos"), muito honradamente, da Bárbara, do blogue Efusão Lírica. Os selos são os seguintes:

Sigo como mandam as regras do repasse destes selos

- agradecer a quem me deu esse prêmio;
- partilhar 7 coisas sobre mim;
- escolher 10 blogs para presentear com o selo;

7 coisas sobre mim:

1) Sou poeta
2) Trabalho como professor
3) Fiz gastroplastia
4) Na minha casa há dezenas de instrumentos musicais, mas não mando bem em nenhum
5) Reclamo demais do mundo
6) Gosto muito de gatos e cachorros (os animais, felinos e caninos!)
7) Estou solteiro!

E os 10 blogues a indicar:

The Bettie Pages
VidaFlôr
Ácido Ascético
Inquietações tamanhas
Borboletas Interiores
Carta e Verso
Ela, Manuella
Escapismos
Pseudocoisa
O Lado N

Obrigadão, Bárbara!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Porque te amo

Porque te amo,
caminho.
Porque te amo,
sigo.
Porque te amo,
batalho.
Porque te amo,
não desisto.
Porque te amo,
quero.
Porque te amo,
vivo.
Porque te amo,
luto.
Porque te amo,
rio.
Porque te amo,
choro.
Porque te amo,
sou.
Porque te amo,
me amo
porque me amas.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Virtualmente alguém

Sua rede social
é reflexo
de sua mesquinhez.
Os números de seus
amigos e seguidores
refletem sua necessidade
de negar
que é medíocre.

Usar peças elétricas
frias e calculistas
para enganar-se
como ser humano
é o que há de
mais baixo
nas relações
humanas.

Cesar Miller de Almeida

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sem quilômetros

Eu queria,
ao menos por um dia,
ser dono do tempo,
domador das distâncias,
senhor do espaço,
apenas por um dia.

Apenas para ir
ao teu encontro,
abraçar-te,
reconfortar-te,
conversar
sobre qualquer coisa.

E este dia
seria eterno.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 4 de dezembro de 2010

Máquina do tempo

Quando eu era criança,
queria inventar
uma máquina do tempo,
só para ver dinossauros,
homens das cavernas,
fortes apaches
e egípcios
com suas pirâmides.

Quando eu era adolescente,
queria inventar
uma máquina do tempo,
só para ter mais tempo
com meu pai.

Quando eu era jovem,
queria inventar
uma máquina do tempo,
só para dizer à minha irmã
o quanto ela é importante.

E hoje,
quero inventar
uma máquina do tempo,
só para dizer
àquela criança
que a vida é linda,
mesmo com dores
tão intensas.

Fábio Pedro Racoski

Mater

Ah, mãe...
Eu poderia
dizer que te amo.
Mas já sabes.
Eu poderia
cantar melodias,
mas já as conheces.
Eu poderia
dar parte de mim,
mas sou parte tua.

Ah, mãe...
O que posso te dizer
que já não sintas?
O que posso te fazer
que já não saibas?
O que devo te dar
além de orgulho
e carinho?

Quando eu for pai,
quero ter uma menina,
para que ela tenha o dom
que me foi negado por
minha natureza masculina:
ser mãe.

Fábio Pedro Racoski

Não sei

Não sei
ser herói de ação,
pular sobre trens
em movimento,
explodir quartéis,
salvar o mundo
e abraçar a mocinha
com braços fortes.

Não sei
ser cavaleiro de contos,
lutar ao valor da amada,
vestir armadura
e montar
cavalo.

Não sei
ser elegante,
ter fineza nos gestos
e sofisticação
nas roupas.

Não sei
ser bonito,
conquistar com o olhar
e usar do físico
(que não possuo)
como instrumento
de paixão.

Não sei
ser nada mais
do que eu mesmo,
rude, feio,
um poeta qualquer...
Mas um poeta qualquer
que lhe ama.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Não me quero

Não me quero.
Não desejo estar
com alguém
tão maçante,
tão derrotado,
tão incômodo
e tão patético
quanto eu.

Não me quero.
Não penso em passar
o resto da vida
ao lado de um
poeta miserável,
fraco,
covarde,
feio, burro,
injusto.

Não me quero.
Não serei vítima
do estrago causado
por alguém
que não sabe se amar.

Não me quero.
Por isso deixei meu eu
morrer à míngua.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Autobullying

Estou habituado
a ser difamador
de mim mesmo.

As piadas ofensivas
que insisto em contar
tem meu ego
como alvo.
O vexame do qual rio
é minha feição.

Estou habituado
a ser difamador
de mim mesmo.

Gosto de dizer
o que sinto por você.
O quanto amo,
o quanto quero,
e nisso sou sincero.
Mas também gosto
de ser injusto
comigo.

Estou habituado
a ser difamador
de mim mesmo.

Aprisionei meu
amor próprio.
Ele só aparece
quando é pra você.
E sei que você quer
que eu o liberte.

Preciso que você
me ensine como.

Fábio Pedro Racoski

E se...

E se eu
não fosse eu
mas na verdade
outro eu
que eu não conheço
porque vive num eu
além do eu?

E se tudo
não fosse tudo
mas algo além
do nosso tudo
que por ser mais
que o todo e o tudo
está além
do é, que é tudo?

E se o poeta
mão fosse poeta,
apenas alguém
que escreve letras
de filosofia
barata,
confusa,
embriagada
de vida e amor?


Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Canção do não-exílio

Minha terra tem poetas
exilados da canção
pela falta dos ouvidos
que não ouvem seu refrão.

Minha terra tem alunos
órfãos de seus professores,
mortos-vivos maltratados
com seus saberes amores.

Minha terra tem caciques
que não ouvem sua aldeia,
que não cuidam de seus índios,
de nós não fazem ideia.

Minha terra não tem terra
para o homem que é da terra.
Minha pátria não tem pátria,
não tem frátria, não tem mátria.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 28 de novembro de 2010

Poetisa

Maravilhado eu escuto
tua voz, doce poesia.
Entras em meu peito bruto
com teus versos de alegria,
tristeza, dor, fé, amor...
Fazes-me teu servidor.

Apaixonado eu observo
tua dança-rima de estrofes.
Faço-me de novo teu servo
e, caso tu filosofes
em teus versos sobre mim,
será alegria sem fim.

Que seja filosofia
sobre eu, um miserável
poeta sem calmaria,
um amado desamável,
Mas que seja eu de ti
Como eu te verso aqui.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 27 de novembro de 2010

Você...

Você diz,
eu escuto.
Você fala,
eu ouço.
Você sorri,
eu danço.
Você chora,
eu abraço.
Você quer,
eu encontro.
Você precisa,
eu crio.
Você chama,
eu vou.
Você pede,
eu estou.
Você manda,
eu faço.
Você ama,
eu sou.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quadra nipônica

Além de Izanami e Izanagi está
a origem divina que te gerou:
Deusa, mulher, sol, a ti igual não há.
Todo verso por ti se apaixonou.

Fábio Pedro Racoski

Verso a verso

Meu tempo passa
verso a verso.

Não sou mortal,
não sou datado,
não sou secular.
Sou eterno,
sou além do tempo,
sou além do ser.

Meu tempo passa
verso a verso.

Vi faíscas em pedras,
vi cavernas,
vi pirâmides,
vi estátuas,
vi máquinas,
heróis, vilões, deuses,
guerreiros, escravos,
prostitutas, pedreiros,
de todas as cores,
de ódios e amores,
de reinos e tribos.

Meu tempo passa
verso a verso.

Já vesti tanga,
túnica,
linho e seda.
Já vesti nada.
Já andei o mundo
em lombo de burro,
já cruzei o Atlântico
em avião.

Meu tempo passa
verso a verso.

Enxuguei as lágrimas
da órfã de mamutes.
Consolei o pranto
da vitoriana plebeia.
Impedi que a jovem
pulasse do edifício.

Meu tempo passa
verso a verso.

Sou mais um nas ruas,
nas trilhas,
rasgando o ar
e o espaço-tempo
sem pedir licença.
Sou mais um
a olhar
e admirar.
Sou um.
Sou poeta.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Completude

Quero dizer-te o quanto sinto aquilo
que me ensinaram a chamar de amor
mas a palavra de mim busca asilo,
e o versador silente fica em dor.

Tudo porque ouço as palavras que trazes:
preocupação, carinho, afeto, fé
a um ser descrente do amor próprio, fazes
nova alegria por estar de pé

firme, consciente que por ti preciso
viver, amar-me pra poder amar-te.
Ser teu, ser nós, tu, minha paz, sorriso.

Se há algo em mim que me faz ser é dar-te
tudo o que existe de bondade e riso
para que eu seja em ti a vida em arte.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Hugo Chávez Frías

Cuezo Stalin con Mussolini
si tú Hugo Chávez frías.

El caliente trópico sur
más caliente está
con el liderazgo del
jefe socialista,
bolivariano,
aristócrata,
más o menos
totalitario.

Cuezo Stalin con Mussolini
si tú Hugo Chávez frías.

Orgullosos están
del hijo Huguito
los históricos
líderes rojos:
Lenin, Fidel,
Pol Pot, Mao,
Kim Il-Sung,
Mefisto...

Cuezo Stalin con Mussolini
si tú Hugo Chávez frías.

Propongo a la humanidad
una sabia decisión:
adoptemos al chaval
como jefe mundial,
mientras esperamos
por el apocalipsis.

Cuezo Stalin con Mussolini
si tú Hugo Chávez frías.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 21 de novembro de 2010

Mata-me

Mata-me.
Vida só, não-vida.
Um em dois, infinda.

Mata-me.
Sangue, suor, secura.
Beijo, nós, loucura.

Mata-me.
Olhos, boca, mudo.
lábios, fogo, tudo.

Mata-me.
Mundo, terra, ar.
Tu, nós dois, amar.

Fábio Pedro Racoski

Cesar Miller de Almeida

Vez em quando, aqui, no blogue, publicarei as obras do não-poeta Cesar Miller de Almeida.

Filho de pai inglês e mãe brasileira, educado em boa (e cara) escola católica, Cesar Miller de Almeida é, como o próprio diz, "não-poeta". Considera a poesia uma futilidade, já que trata de subjetivismos que não levam a nada: não trabalha para a ciência humana.

A periodicidade dos não-poemas de Cesar Miller de Almeida será bastante esporádica, devido ao seu precioso tempo já estar ocupado para o progresso das ciências.

Amor não há

Não há nada de amor em mim.
Apenas reações do meu inconsciente
a estímulos que causam regozijo,
alívio, saciedade,
dor.

Não há nada de amor em mim.
Quando quero-te é porque meu corpo
está no cio,
como qualquer mamífero
que se preze.

Não há nada de amor em mim.
A relação que tenho
com familiares e amigos
se resume em comodidade,
conveniência,
sobrevivência.

Não há nada de amor em mim.
Aliás: quem disse
que há amor?

Cesar Miller de Almeida

Mais um poema apaixonado

E seu escrevesse
mais um
poema apaixonado?

Daqueles em que os versos
se embriagam de clichês,
daqueles em que as estrofes
se espremem na métrica,
daqueles em que os poetas
tentam em vão
seduzir, fazer-se amado,
conquistar, fingir,
enganar...

Mas hoje o fingimento
não venho me visitar
e fiquei abraçado
com a sinceridade
(ainda que fingidora).

Não posso escrever
um poema apaixonado,
só hoje.

Mas posso escrever-te
com meus olhos.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Você me faz bem

Você me faz bem.
Com você
aprendo num dia
o que sozinho
levaria anos.

Você me faz bem.
Com você
sou mais eu
do que costumo
ser.

Você me faz bem.
Sem você
sou doente,
ignorante,
ninguém.

Você me faz bem.
Sem você,
como posso
retribuir?

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vote em mim

Vote em mim!

Me chamam de bicha,
boiola, veado,
sapatão.
Sei o que é
viver cercado
de ódio.
Sofro, luto.
Sei me defender.

Vote em mim!

Me chamam de puta,
rampeira, quenga.
Sei o que é
trabalhar
com gente suja
e lutar
para me manter
limpa.

Vote em mim!

Me chamam de tudo,
mas nunca me chamam.
Sei que sou igual
a quem está debaixo
daquele terno suado.
Sei que tenho mais
humanidade
do que quem se diz
amigo do povo.
Sei que sou você,
ele, ela,
nós,
mesmo que você
não queira.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Versos de uma alma masculina

Cubro-me de robustez
para disfarçar
minhas fraquezas.
Mostro-me lógico
e prático
para disfarçar
meu espírito
sonhador.
Elevo o tom da minha voz
para disfarçar
a leveza
dos versos
da minha alma.

Sou homem.
Vendo minha
complexidade
como a mais simples
pobreza.
Gosto de dizer
que venci,
mas lá no meu íntimo
fico feliz por ser
conquistado.

Quero-te,
porque quero
ser todo teu.
Tenho-te
porque eu já
me entreguei
a ti.
Protejo-te,
porque és
minha fortaleza.
Amo-te,
porque somos um.

Sou homem.
Enterno dependente,
eterno aprendiz,
eterno sonhador,
eterno poeta,
eterno teu.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Bullying: conhecendo e reconhecendo

O bullying, também chamado de assédio moral, é uma triste realidade, muito além dos filmes estadunidenses, presente em nosso meio. Marginalizado em campanhas midiáticas que buscam trazê-lo a conhecimento público, e às vezes ridicularizado por não constituir, necessariamente, uma violência física, tal atitude pode deixar marcas em quem a sofre: traumas, comportamento, insegurança, etc.

Bullying é um termo em inglês, que pode-se traduzir como “acossamento” ou “opressão”. O “valentão” da escola é chamado bully. Logo, a palavra pode ser entendida, também (de uma forma coloquial), como “ação de valentão”. Consiste o bullying em diversos tipos de agressões principalmente psicológicas, mas também físicas: cascudos, ridicularização, piadinhas, caricaturas, fofoca, terror, entre as principais (para ler mais, acesse o artigo da Wikipédia sobre bullying: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bullying).

As causas para a vexação por parte dos colegas podem ser várias: discriminação (étnica, social, cultural, religiosa), timidez e características físicas são as principais. Mas nem sempre isto fica claro: segundo Isabella Peres, vítima de Bullying dos 12 aos 13 anos, nunca ficou claro o motivo para tal atitude: “não sabia se era como eu andava, ou com quem andava...”, diz. Ela nunca sofreu violência física, o que ocorre em alguns casos.

Isabella diz que para lidar com o bullying, é preciso “respirar fundo e enfrentar de cabeça erguida; por pior que seja, no final, traz experiência”. O apoio da família e dos amigos é, segundo ela, “de extrema importância” para a superação do medo e da insegurança aí gerados.

A posição tomada pela escola de Isabella era a de diálogo: com os praticantes de bullying, essencialmente. O que, segundo ela, dificilmente surtia efeito, já que não havia ações perante tal realidade no seio escolar, algo que se vê repetindo em diversas instituições de ensino: muita conversa, pouca ação.

Hoje, aos 14 anos, já superados e passados os episódios de bullying, Isabella deixa um recado a quem também sofre com essa atitude: “Eu falo pra enfrentar de cabeça erguida,nunca se deixando abater. Sempre converse com seus pais e coordenadores da escola sobre o que está acontecendo. E acima de tudo, mantenha a calma. Lágrimas e ameaças não vão adiantar para resolver.”

Ele e ela

Ele
sentiu.
Ela
apaixonou-se.
Ele
sorriu.
Ela
alegrou-se.
Ele
possuiu.
Ela
entregou-se.
Ele
correu.
Ela
voou.
Ele
teve.
Ela
amou.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Meu par, ímpar

Alma de música, corpo de luz,
raro e belíssimo verso vivente.
Ímpar, serena, paixão que conduz
a vida torta de um astro carente.

Nesses simplórios, meus, versos de amor,
algo dos épicos busco imitar:
Homero, Virgílio, versos de louvor;
Tu, tua alma, notas de acalentar

Numa canção embalar nossos versos
apaixonados, vivos, batalhados,
magistrais da vida de dois universos
a colidir, um, em braços atados.

Seja paixão, seja amizade, seja
a vida que for, nos será amor,
livre, sem peso, ódio, dor, inveja
e sempre forte, bom, desafiador.

Fábio Pedro Racoski

Anarca

O governo precisa de você.
Mas você não precisa dele.

Assim como o parasita
necessita do hospedeiro,
assim como o câncer
necessita do canceroso,
assim como o nada
necessita do tudo,
o governo precisa
sugar a vida humana
para sobreviver.

O governo precisa de você.
Mas você não precisa dele.

Quem se curva a reis
e presidentes,
curva-se às mazelas
da humanidade.
Quem dá a vida
por pátrias descartáveis
sucumbe à primeira gripe.

O governo precisa de você.
Mas você não precisa dele.

Quem paga impostos
dá fortificante a bactérias
nocivas.
Quem elege os governantes
escolhe qual cancro
lhe comerá por dentro.

O governo precisa de você.
Mas você não precisa dele.

Fracos são
os que se sujeitam
ao poder, à obediência.
Eis a minha tristeza de morte:
sou fraco.

O governo precisa de você.
Mas você não precisa dele.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 19 de outubro de 2010

13 razões para anular o voto

1. Você é anarquista.

2. Os candidatos não trazem propostas concretas e não mostram preocupação sincera com a administração pública. Desejam apenas o poder.

3. Você quer mudanças, e não os mesmos senhores feudais com nomes diferentes.

4. A política nacional é uma palhaçada, no pior sentido da palavra.

5. Os candidatos querem cabeças de gado para votar. Nada mais.

6. O sistema eleitoral não privilegia candidatos independentes.

7. A legislação eleitoral proíbe a candidatura apartidária.

8. A máquina governamental quer fazê-lo crer que é obrigação escolher um entre vários criminosos e canalhas.

9. A falsa democracia apregoada pelo governo não lhe convence.

10. Você está mais interessado em saber quais as propostas concretas e objetivas para os diversos setores governamentais do que conhecer a triste história de vida do candidato.

11. Você está mais interessado em saber quais as propostas concretas para os diversos setores governamentais do que ouvir seu discurso sobre aborto, casamento gay, privatização e outros temas que mexem com fundamentalistas religiosos e políticos.

12. Você não aceita participar do engodo imposto pelos partidos e seus cegos militantes.

13. Você não foi contaminado por esse vírus destrutivo chamado “ideologia política”.

Psicofeia

Assim como Quixote via
em seu magro pangaré
o épico cavalo,
Rocinante,
ela acredita
que da beleza
não tem posse.

Assim como Dorian Gray
aprisionava sua velhice
em seu retrato de tinta,
ela aprisiona sua beleza
em incertezas
infundadas.

Será que há quem
acredite
no que ela diz
de si própria?

Será que ela crê
no que pensa,
tão veementemente,
que não vive
o sorriso
de sua formosura?

"A feia, sou a bruxa
dos contos infantis,
um ser de feiura infernal,
sem contas de bela",
ela diz.

Ouso discordar de ti,
musa, bela, formosa,
mestra das belezas
infinitas.

Feio é um mundo
que te faz acreditar
que és feia.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 16 de outubro de 2010

A paixão do meteoro

Um meteoro rasga
o infinito Universo.
Só, não vivente,
consumindo-se
em sua eterna
e curta
existência.

Triste meteoro que,
ao ver, lá longe,
tão longe,
a bela, azul, esbranquiçada
e apaixonante esfera
- a Terra -
encontra um alento
à sua infeliz existência.

A vida tornou-se,
ao meteoro,
admirar seu grande
e platônico amor,
na longa espera
de encontrar-se
com ela.

Angustiante, sabia
o meteoro
que deixaria de existir

em seu primeiro
momento de paixão.
Sabia, mas desejava tanto!

E, assim, o meteoro cruzou satélites,
enfrentou anéis, cinturões,
planetas rochosos e gasosos,
para encontrar seu fim.

Passadas as batalhas
e os confrontos,
o meteoro, enfim,
viveu o tão desejado
momento de êxtase
e paixão
com seu amor.

Então,
o meteoro
deixou de ser
meteoro e,
pleno de satisfação,
passou a viver como
um só junto ao
seu amor,
a Terra.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Infantil

Fazemos guerras,
matamos,
sofremos,
choramos,
morremos,
deixamos,
descremos.
desamamos.

Estes somos nós,
adultos, amargos,
amargurantes.

E eles?
fazem guerras
de água,
matam fantasmas
e monstros,
choram, fazem manha,
morrem de rir,
deixam de se estressar,
creem nos heróis da ficção
- religião.
Amam, mesmo sem sabê-lo.
Aprendem, ensinam,
sempre com divertimento.

O que nos falta
é ser crianças.
Para sempre.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Molotov

Querem convencer-me
de que fui feito
para Deus,
para as leis,
para votar,
para vestir gravata
e seguir por um
caminho maniqueísta.

Querem que eu acredite
nas palavras
dos poderosos
- porcos psicóticos
estupradores da liberdade.

Querem que eu obedeça
sem perguntar,
sem incomodar,
sem desfazer,
sem dissolver.

Querem que eu pense
cegamente
conforme um livro
escrito por seres humanos
inventivos.

Querem fazer-me quadrado,
previsível, plano,
raso, convencional,
autômato, militante,
crente, mesmo
descrente.

Querem que eu seja
um corpo sem alma,
um copo sem água,
uma bomba sem fogo.

E o que quero
é incendiar tudo.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Quero ser teu

Quero ser teu.
Quero viver em ti,
gastar minha existência
existindo contigo,
alvejar-me com tua paixão
e viver os dias
da nossa história.

Quero ser teu.
Quero ouvir-te sussurrar,
gritar, rir, chorar...
Dar-te meu eu,
que não me pertence,
mas a ti.

Quero ser teu.
Quero viajar
nos versos
do mais belo poema,
que és tu.
Viver o mundo
que é nosso.

Quero ser teu.
Quero ser-te,
estar-te,
somar-te,
unir-me a ti,
sorrir-te,
ler-te.

Quero ser teu.
Sou teu.
Só assim posso
ser eu.
E só assim podemos
ser.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A voz do povo

Se a voz do povo
fosse a voz de Deus,
não teriam escolhido
Barrabás.

A voz do povo
é a voz do medo.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Homo amans

Ele disse "sim".
E ele também.
E foram felizes para sempre.

Ela entrou no quarto
e abraçou forte
sua amada.
E foram amantes por toda a vida.

Eles viveram,
e lutaram,
e choraram,
e riram,
e sofreram,
e se apaixonaram.

Eles se respeitam,
se cuidam,
se somam,
se amam.

Eis o amor.
Amor humano pois,
como disse Santo Agostinho,
o amor não tem medida.
Se não tem medida,
não tem gênero.

Fábio Pedro Racoski

Cara de mau

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
Simplesmente porque
sou bom,
e a vida gosta de pregar peças
em quem tem cara de bobo.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
Não espere de mim
um sorriso amarelo
ou uma cara de anjo
se o que você merece
é uns tapas.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
A vida não sorri a mim,
e assim a trato com
reciprocidade.
Ainda que com elegância.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
A arrogância oculta
nos falsos sorrisos
de ternos e linhos
me irrita demais.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
Não porque endureço-me,
mas para não desmontar-me.

Já cedo aprendi
a fazer cara de mau.
Porque lhe quero bem.

Fábio Pedro Racoski

*Na foto, nosso amiguinho, Cristian.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Enfim

Meu olhar é profunda escuridão,
reflexo de uma alma
que já não quer.
Ah, as estrelas no céu,
tão lindas e, agora,
tão apagadas...
Ah, o sol, as flores...
Luzes frias e imagens borradas
à minha frente...

Meus ouvidos são poços de lamentos.
Ah, o pássaro a cantar,
como me chora,
Ah, a canção triste:
prenúncio do fim
que está por vir...

Meu corpo é carne a desprender-se
da alma, que se despede.
Meu sangue é paixão que se esvai,
tomando de vermelho o mundo.

Minha boca já não fala,
minhas pernas já não querem andar.
O fim, que chega, é tão assustador
e tão bonito!

Ah, deixe-me, não venha por mim.
Depois da vida, isto parece tão intenso
que não quero mais voltar.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 18 de setembro de 2010

Sensações explícitas

Começaste em meu pescoço,
deixando prolongadas
marcas vermelhas.
Prosseguiste ao meu peito,
fazendo-me gemer.
Ah, e foste descendo,
descendo,
a barriga, as pernas.
Fizeste-me delirar...
E enfim, quando chegaste
aos meus pés,
findaste em mim.
Coceira maldita!

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Quase tudo não

Não quero, não sou,
não vou e nem corro.
Não sei, não estou,
não faço nem morro.

Não vivo, não vim,
não ouço, não cheiro
e dentro de mim
levo um mundo inteiro.

Tudo porque te amo,
te quero, te verso.
Nada mais eu clamo
se és meu universo.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Versos da alma feminina

Tu não me entendes, ó moço.
Queres de mim compreensão
e eu, calada, apenas ouço.
Queres de mim toda a paixão
e tu, varão, não vês pública
minha solitária súplica.

Tu não me buscas, rapaz,
quando ouso perder-me em ti
por teu amor, nossa paz...
E eu, sozinha, fico aqui
pelos cantos, a chorar
o teu sentir que não há.

Vem, entra em minh'alma doente
vem por mim, vem encontrar-te.
Aprende a ser diferente,
eu fartei-me de ensinar-te;
compreender-me não é arte
mas ofício espiritual.
Não serei mais passional.
Vem estudar-me com calma
e absolva-te a mim tua alma.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

強い女性 (Tsuyoi Josei)

Poema dedicado a @Amy__twit


Quanto mais conheço
as mulheres.
Mais vejo como
sou fraco.

Levantar cinco e meia da manhã,
educar os filhos, cuidar da saúde
(coisa que homens não fazem por frescura),
suportar as dores,
carregar o mundo,
exigir-se,
superar barreiras,
encarar preconceito e discriminação,
lutar pela vida...
E, mesmo depois de tanta guerra,
tantas batalhas, tanto suor,
tantas lágrimas,
são belas,
são mágicas,
são musas,
são poesia,
são fortes,
muito mais do que eu
posso ser.

Ah, ensina-me
a ser assim.
Quero ser um homem feminino.

Fábio Pedro Racoski

*O título significa "Mulher forte", em japonês.

Dilma, uma mulher na História...


Atualização: o vídeo original, do programa da noite de 07/09, é este:

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Amor amigo

Meu amor amigo:
amo, suo e sinto
teu amar comigo
sem nenhum “eu minto”.

Meu amar amor:
quero-te troféu
e dou-me, sem dor,
ao teu belo céu.

Meu amar amigo:
teu é tudo meu
comigo é contigo.

Meu sincero amar:
meu é tudo teu.
Nosso é todo o mar.

Fábio Pedro Racoski

Morto-vivo renascendo

Minha mãe me chama
na beira da cama:
“Pare de morrer;
Comece a viver!”

Viver como antes,
nos tempos cantantes.
Sem voltar no tempo:
seguindo com (o) tempo.

O morrer vivendo
só vem para quem
não faz ser alguém.

Agora eu entendo
porque a mãe me chama
na beira da cama.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 4 de setembro de 2010

Eleitor Prison Blues

Olá. Estou num vácuo de produção literária. Mas logo tem coisa boa por aí (epero!). Enquanto isso, deixo-lhes um vídeo do Maurício Ricardo, sobre as eleições: "Eleitor Prison Blues".

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Você é espelho


As crianças veem. As crianças fazem.

Medo

Tenho medo.
Tenho muito medo.
É patológico, acompanha-me
todos os dias.

Tenho medo do passado
que me visita,
da criança que fui
e ainda sou.
Das pessoas nas ruas,
da escuridão,
dos monstros.

Tenho medo do presente
que me escapa,
do homem que sou
e que deixo de ser.
De decepcionar
minha mãe,
de não ser um bom
mestre
(e um péssimo aprendiz).

Tenho medo do futuro
que me apavora,
de não saber amadurecer.
De não crescer
e continuar sendo
um medroso.

Tenho medo...
Ai, como tenho medo!
Tenho medo que as lágrimas
me impeçam de seguir
estes versos,
distorcendo as letras
e molhando a tinta.
Tenho medo de não ser
para minha mulher
um bom amante e amigo.
Tenho medo de não ser
um bom filho,
um bom irmão.
Tenho medo de não ser
um bom companheiro.
Como tenho medo!

Covarde! Paranoico!
Tenho medo de mostrar-me
como homem.
Tenho medo da minha imagem!

Ai...
Tenho medo de ser poeta,
tenho medo de ser escritor,
tenho medo de beijar,
abraçar,
viver.

É irracional
e ao mesmo tempo
a razão para meu
calabouço
que construí.

Ai, tenho muito medo de mim!

Fábio Pedro Racoski

sábado, 28 de agosto de 2010

Paixões

Na adolescência,
é intensa, é eterna,
é única, é bandida e justa.

Na juventude,
é noite, é momento,
é uma, é quente e rebelde.

Quando adultos,
é sol, é longa,
é esporádica, é civil e religiosa.

Na madurez,
é saudade, é última,
é sempre, é mínima e máxima.

Na vida,
é suor, é fogo,
é memória, é amor e ódio.

Fábio Pedro Racoski

Dance to the end of love - Leonard Cohen

sábado, 21 de agosto de 2010

Velho e nova

Velhos são os olhos que te veem.
Velhos são os prédios que te rodeiam.
Velhas são as paredes que te guardam.
Velho é o mundo que te cumprimenta.
Velha é a noite que te nina.
Velho é o sol que te aquece.
Velha é a lua que te ilumina.

Velha é a rua que por ti é massageada.
Velhas a cidade, as praças,
a criança a brincar no parque,
as bandeiras, as imagens,
velhos os quadros...

Mas tu... Não.
Tu não és velha. Nunca serás.

Velhas são as notas musicais
e as palavras
usadas para tentar
versejar
essa tua beleza
tão nova,
tão surpreendente
e ansiosamente
inesperada.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Zé Curitibano


Tenho que gostar de futebol.
Tenho que gostar de feijão.
Tenho que gostar de calor,
praia, samba e suor.

Tenho que cultivar hábitos exagerados.
Tenho que usar frases de efeito
da última moda.
Tenho que sorrir e chorar
com os vídeos piegas que exaltam
a pátria.

Tenho que fazer piadas
com outros povos
e fazer política de guerra
quando a piada
somos nós.

Tenho que amar o Brasil
sem criticar,
sem questionar,
vivendo na máscara inerte
do folião eterno.

Ah, dogmas...
Como quero senti-los
esvaindo em sangue
nas minhas mãos...

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Esporte bufão

Futebol.
Um esporte coletivo
jogado por 11 egoístas
em cada equipe.

Futebol.
Um esporte de humildes
milionários
e empresários déspotas.

Futebol.
O pão, o circo,
a política, a república,
o desejo, a alegria,
o bufão, torcedor.

Fábio Pedro Racoski

Canção ao frio (maroz, maroz)


Ai, maroz, maroz,
tu me matarás?
Congelado assim
não posso ter paz.

Congelado assim
não posso ter paz.
Ai, maroz, maroz,
tu me matarás?

Sob meu cobertor
muito calor há.
Mas se tu congelas,
ele não será.

Se tu me congelas,
nem posso beijar.
A pedra de gelo
irá me esquentar.

A pedra de gelo
frio sentirá.
Teu sopro, maroz
a torturará.

Me torturará
teu sopro, maroz.
Teu clima é denso
qual doce de arroz.

Ai, maroz, maroz,
tu me matarás?
Congelado assim
não posso ter paz.

Fábio Pedro Racoski

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Este poema não é uma tradução, senão uma melodia para a canção folclórica russa, "Moroz, moroz". A palavra moroz (pronunciada, mais ou menos, "maroz") é o nome que se dá ao tempo frio e congelante.

Os dois últimos versos de cada estrofe se repetem, na canção.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O espelho

Eva olhava-se no espelho. Usava bastante de seu tempo para ver aquele rosto que não desejava: a cicatriz feita pelo seu ex-namorado com uma faca de cozinha ainda doía. Não no rosto, mas na alma. Uma triste cicatriz retilínea, uniforme, cirúrgica, transcorrendo o percurso entre a narina direita e a bochecha, também à direita.

Eva não perdoaria nunca o Juca, seu ex-namorado. Não por tê-la cortado o rosto, mas por não matá-la, já que preferia estar morta do que viver com esta face macabra. Deixou de estudar assim que seus colegas de turma lhe puseram o apelido “scarface”. Já não saía de casa há muito tempo. A vida para Eva era pior que qualquer pesadelo infernal. Tudo o que ela queria era ter uma vida nova, retroceder estes dias e viver à sua maneira: uma nova chance que o espaço-tempo nunca lhe daria.

“Vem comer, Eva. O almoço tá na mesa!”, grita Edwiges, sua mãe, ao pé da escada. Foi o som que despertou Eva de seus devaneios em frente ao espelho. Desceu a escada em passos medidos, como sempre. Verificou se sua mãe não havia convidado ninguém para almoçar – mania maternal que deixava Eva muito irritada –, viu que só estavam ali ela, sua mãe e Desdêmona, sua gata. Sentou-se para comer. Qual a sua surpresa que, depois de meses, Edwiges fez batatas fritas, a comida dos sonhos eternos de Eva. “Ah, Dona Edwiges, não precisava!”, dizia (na verdade, precisava sim).

As duas conversavam e o morro de batatas fritas entre elas diminuía lentamente. Edwiges não ousava falar dos traumas de sua filha e da necessidade de superá-los, apesar de querer muito. Eva não ousava perguntar sobre a visita de sua mãe à mãe do Juca e a tristeza daquela, apesar de querer muito. Então, conversavam sobre novela, política, metafísica, filosofia, chocolate, física quântica. Edwiges falava daquela casa, abrigo da família há gerações e que, dizem, guarda mistérios. Eva falava que isso era conversa, história para impressionar criança.

“Mas sabe, Eva, seu bisavô dizia que o espelho do sótão é mágico...” dizia, crédula, Edwiges. “Bobagem, mãe! Aquele espelho me deixa bonita, por acaso?” dizia, cética, Eva. Cética mas incomodada com aquelas palavras, inéditas para ela. Pensava no espelho lá no sótão e as horas que gastava em frente a ele, remoendo lembranças dolorosas. Pensava o quanto aquele espelho a ajudava a pensar. Mas sabia que o mundo gosta de fazer coincidências para confundirmos com destino ou mágica.

Depois de dar boa noite à sua mãe, Eva subiu para o sótão. Lá, ficou novamente encarando o espelho, pensando em como seria sua vida se não tivesse conhecido o Juca. Mas aí entrou um elemento novo à sua quimera: as palavras de seu bisavô repetidas por sua mãe. Olhava para o espelho e, desta vez, sentia como se o espelho olhasse para ela também. Encarava sua imagem refletida que, agora, parecia ter vida própria. Humanamente, quis tocar sua mão com o reflexo e, neste instante, viu um grande clarão, sentiu-se desmaiar e lembrou-se subitamente do que havia apagado de sua memória: a noite em que Juca a cortou.

Parecia estar lá, novamente, como se tivesse voltado no tempo. A discussão, o hálito impregnado de cachaça na boca do Juca, o exato momento em que pegou a faca. Sabia o que ia acontecer, segundos depois, minutos, horas, dias, anos depois. “Vou rasgar tua cara, vagabunda!”, repetiu ou disse pela primeira vez Juca, Eva não sabia ao certo. Como se tudo estivesse em câmera lenta, Eva pegou uma chave de fenda, daquelas compridas. Assim que recebeu o golpe de Juca em seu rosto, Eva enterrou a ferramenta no peito do namorado. “Você conseguiu mudar tudo, né, vagabunda?”, disse Juca sua última frase, já na verdade-epifania dos mortos.

Eva viu novamente um clarão. Desmaiou. Acordou estranhamente de pé, no sótão. Olhava-se no espelho. Usava bastante de seu tempo para ver aquele rosto que, apesar de tudo, desejava: a cicatriz feita pelo ex-namorado com uma faca de cozinha já não doía. Nem no rosto, nem na alma. Uma ínfima cicatriz assimétrica, até mesmo charmosa, transcorrendo o percurso entre a narina esquerda e o lábio superior. Também não doía sua consciência por ter enterrado uma chave de fenda no peito de Juca, tirando-lhe a vida. “Legítima defesa!”, repetia a si mesma. Legítima defesa de sua vida, sua honra, sua dignidade, seu universo.

Soneto doente

Caminha pela noite o peregrino
sem destino, vagueia, não se apressa.
Canta impossíveis tons em desafino
sua dor visceral que o corrói sem pressa.

Uma dor que parte as tripas e o peito
solitário do errante caminhante
que se perde em linhas retas. Direito
e esquerdo não existem nesse instante.

A náusea que não foi apresentada
o derruba sobre os papéis marcados
por tinta, sangue d’alma machucada.

Essa náusea, que os deixa separados,
ele, poeta, errante. Ela, inominada,
mulher, síntese de todos os fados.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Gaita Curitibana, ou "Curitiban Bagpipes"

De férias, procurando o que inventar, juntei uns pedaços de conduíte e PVC com fita isolante, prendi um balão (uma bexiga) e fixei duas flautas doce com fita crepe.

A flauta doce soprano faz a nota fundamental, Ré (deveria ser Ré, pelo menos). Para isso, fechei os buracos com fita crepe, de acordo com o dedilhado.

Nessa tentativa de gaita de fole, "tentei" tocar a canção Amazing Grace:

sábado, 17 de julho de 2010

Comentários que somem...

Alguns comentários simplesmente desapareceram depois que mudei o endereço do blogue. Peço desculpas por isso, e não sei o que está acontecendo.

Quis avisar sobre isso, pois podia parecer que eu apaguei estes comentários, coisa que não fiz.

Novo nome

Caro leitor, querida leitora: a partir deste domingo, 18 de julho, o blogue passará a ser conhecido pelo endereço www.racoski.com e pelo título "Racoski".

Eu explico a mudança: "Rádio Gordo" é um nome que adotei ao blogue porque há muito tempo queria manter um podcast aqui, além dos textos já presentes. Depois, "arrumei" alguns significados para o título, como podem ler aqui. Há, também, um humilde canadense que adotou este nome para sua carreira musical, com o qual possui mais sentido - afinal, seu nome é Gordon (Nicholson) e trabalha numa rádio.

Sendo assim, antes que uma firma de advocacia ou uma empresa de desentupir vasos sanitários assuma o racoski.com, registrei o domínio, que utilizarei daqui em diante neste blogue. É meu sobrenome também. Vem do polaco "Rakowski", que significa "de Rekowo" e Rekowo é o nome de uma vila (e um lago) que significa "de caranguejo" (Mangue Beat!). Ou pode significar, ainda, "de Rakow" (ou "Rakowo", nome de várias vilas na Polônia). E "rakow" significa lagosta.

O nome muda, mas meus textos seguem ainda por aqui, sempre! Espero que compreendam a mudança e, enquanto a Locaweb atualiza os DNS de redirecionamento do domínio, há o endereço direto disponível: fabioracoski.blogspot.com.

Obrigado pela visita e até o próximo "post"!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Comunista fashionista

Quando Stálin caiu,
a saia da camarada subiu.
E ser de esquerda virou algo sexy.
 
Quando o capitalismo cresceu,
o comércio tudo vendeu.
Inclusive camisetas do Che.
E boinas.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Barco de papel


Num mar de melancolia
minh'alma se afoga, náufraga
do pranto vertido, sôfrega
pela morte calmaria.

Em ribeirões de tristeza
se esvai meu corpo, sem ânimo.
Nada resta de magnânimo.
No peito resta a pobreza.

Flutuar já não desejo.
Viver eu não quero mais.
Quero remar rumo ao cais
do fim que, daqui, já vejo.

Se algum desejo inda vive,
é a vontade de ser verso
triste, de viver o inverso
do falso riso que tive.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Versos capitolinos

Não, querido.
Não penses mal de mim.
Eu não te traí,
nós é que nos traímos
à nossa confiança.

Não, querido.
Teu filho não é bastardo.
Bastardos somos nós
que o negamos os beijos,
os abraços e as lágrimas
de pai e mãe.

Que compromisso é este
que nos prende a temores
incabíveis?
Que honra estúpida é esta
de querer afirmar-se
íntegro, se
nossos corações
estão rotos?

Não, querido.
Não me feriste a face.
Mas rasgamos nossas almas
maltrapilhas
em linhas de pobre
literatura.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Infeliz simetria

Eu poderia escrever
um poema métrico ou
um poema tétrico ou
uma canção cafona a
você. Somente quero
que nós acertemos a
nossa simetria. Não
hermeticamente reta
ou exageradamente a
obedecer espaços ou
rimas ricas, pobres
et cetera. Eu quero
é que derrubemos estas paredes absurdas
entre nós, que não podem existir!

Fábio Pedro Racoski

Todas as dimensões

Eu vejo, entorpecido, no aparelho elétrico,
imagens de um mundo e seus habitantes lívidos.
Cenas assustadoras de um planeta tétrico
que dá seus últimos suspiros, fortes, vívidos.

Um mundo estranho, onde a vida é curta e trágica
como a vida de uma frágil flor em breve história.
E quem vive esta vida a vive com a mágica
de fazer eternidade com tinta e glória.

Sozinho e obscuro vaga o planetoide
colorido, colorado, no mar-razão.
Tenta impedir o avanço do inimigo androide
este louco mundo chamado coração.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Soneto proposto

Se eu recebesse de ti, doce moça
este olhar que ofertas ao horizonte
razão teria minha vida insossa
desde um singelo beijo em tua fronte.

Se eu recebesse de ti, minha dama,
o privilégio de viver ao teu lado
ganharias um coração que te ama
e um homem eterno fiel soldado.

Mas nossa vida não é o que suponho
e por isso, bela moça, proponho
uma aliança eterna entre nós dois:

Que nós, em lábios e almas sobrepostos,
selemos nossos amores propostos
em paixões hoje, amanhã e depois.
Fábio Pedro Racoski

sábado, 19 de junho de 2010

José de Sousa Saramago

E quem somos nós para nos julgarmos donos da verdade? Aliás, quem disse que existe apenas UMA verdade?

José Saramago, gênio da literatura como o mundo carece de ver, viveu na crença da não crença religiosa: ateu, comunista, crítico feroz do catolicismo, do cristianismo e do fenômeno religioso em si. Muitos celebraram sua morte como quem comemora a derrota do Diabo. Outros lembraram seu "destino certo": o inferno, por "blasfemar" a vida toda a Deus e aos “justos fiéis desta terra”...

Pois espero, na crença dele, que Saramago esteja, agora, eternamente vivo, através de suas obras aqui na Terra (uma literatura ímpar, livros excepcionais, maestria na língua portuguesa) e através da memória de alguns. E penso, em minha crença, que o escritor esteja agora num lugar merecidamente bom, a que acostumamos chamar “céu” ou “paraíso”. Ele, muito mais que carolas e papa-hóstias que vomitam religião comendo ódio e hipocrisia, merece o destino glorioso até mesmo de uma crença com a qual não compactuava.

Eu, pois, celebro sua eternidade em nossa memória, na cultura mundial, e mais próximo de Deus que, como bem-humorado que penso ser, deve estar feliz, a rir alegremente de seu talentoso e corajoso filho.

O grande poeta curitibano, Thadeu Wojciechowski, dedicou um poema, em seu blogue, ao José Saramago: http://polacodabarreirinha.wordpress.com/2010/06/19/2824/

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Nova "persona"...

Caro leitor, querida leitora, o blogue Rádio Gordo está de cara nova (como podem constatar). E, em breve, estará de nome novo, mas com a mesma identidade metamórfica-poética de sempre!

Na estrada

Na estrada corro,
tropeço, caio,
choro, morro,
renasço,
sinto o gosto da terra
entre os molares,
sinto o sol queimar
meu corpo frio.

Na estrada caço
e sou caçado,
conquisto
e subjugado,
perseguidor
e perseguido.

Na estrada sigo.
casas ficam para trás,
pessoas ficam para trás.
Alguns poucos seguem,
eu os sigo:
são o meu bando.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Clarice e a janela

Desde aquele dia, Clarice não olhou mais pela janela do quarto.

Quando completou 17 anos, Clarice, tímida, ensimesmada, leitora frenética e escritora eventual, pediu humildemente a seus extrovertidos pais um presente especial: queria fazer uma tatuagem. “É um pequeno dragão, símbolo dos lusos”, justificou-se aos progenitores. Depois de firmado um tratado entre os três, delimitando o espaço territorial na pele a ser ferido com tinta, Clarice saiu feliz, em direção ao tatuador.

Após explicar os detalhes heráldicos da figura ao tatuador, Clarice voltou para casa, com a pele avermelhada, febril, porém exultante com seu dragão verde. Seus pais não entendiam o motivo de tanta alegria da filha por uma discreta, trivial e esverdeada figura que agora repousa em suas costas. “Ah, meu homem, é a primeira aventura dela fora dos livros!”, disse sabiamente a mãe. Depois de conversar muito com os pais – o que não era seu costume – sobre heráldica, dragões, literatura medieval e heróis da Antiguidade ibérica, Clarice foi para o quarto, escrever poemas.

Viriato, meu dragão,
toma-me por tua,
queima-me com teus lábios de herói
e envolve-me em teus braços fortes.

Foram esses versos que os pais de Clarice encontraram escritos ao lado da janela no quarto. Ela estava sentada na poltrona, imóvel, catatônica, com um estranho sorriso no rosto. O chamado de seus pais não tirava Clarice do transe. Ela continuava ali, como uma bela e tristemente sorridente estátua. Depois de muitos minutos, Clarice levantou-se, chorou. “Ele foi embora, pela janela que entrou”, dizia. “Quem? Ladrão?”, perguntava o pai. Clarice só dizia que fora “ele”.

Clarice estava muito cansada. Seu corpo ainda coberto de suor. A mãe teve que ajudá-la até o banho. Reparou, assustadoramente, que a recente tatuagem de dragão verde havia desaparecido. “Ele. Foi embora.”, repetia Clarice, tentando explicar, em poucas palavras, o que havia acontecido.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A pátria de chuteiras só chuta

Se você comentasse política
como comenta futebol,
se você soubesse dos partidos
como canta os hinos de torcida,
se você lembrasse da história nacional
como lembra o gol de antes de nascer,
se você defendesse seus direitos
como defende as cores de seu time,
se você cantasse os hinos nacionais
como canta a vinheta da tevê,
se você lutasse por dias melhores
como critica o técnico por suas decisões,
ah! esse país não precisaria
de taças douradas
em mãos cheias de fortuna
para parecer feliz...

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Populismo elitista

Nossa cleptocracia
plutocrata
se afunda na sujeira
da própria merda,
equilibrando-se
sobre as cabeças
de um povo que não quer pensar
e uma classe intelectualoide
que não quer trabalhar.

Nossa cleptocracia
plutocrata
já não consegue
se sustentar
nos braços fracos
de elites imbecis
e massas afetadas.

Nossa cleptocracia
plutocrata
é motivo de zombaria,
piada e graça.
Mas vejam: mais uma taça!
E viva o futebol que cega
senadores, pretores e plebeus!
Fábio Pedro Racoski

Eleitor...

Eleitor: vá para a urna com a certeza de que votará em alguém que realmente merece sua confiança, seu voto, alguém que lhe governará com dignidade, competência e respeito. Nestas eleições,

VOTE EM VOCÊ MESMO.

Não há pessoa melhor para governá-lo. Não há político mais gabaritado para geri-lo. Não há ninguém melhor que você mesmo para combater seus problemas e melhorar sua vida. Por isso, caro amigo eleitor, adote você também esse caráter "autônomo anarquista".

domingo, 30 de maio de 2010

Versos femininos

Não quero que
fujamos para nosso mundo,
como planejávamos
há muito tempo.
Não quero que você
me leve nos braços:
já não somos tão jovens
e dispostos como antes.

Só quero que olhe para mim
e não veja a mulher com quem se casou.

Não quero de você
os buquês pomposos
do início do namoro.
Não quero de você
aquele sorriso bobo
de uma felicidade fácil
que já não é tão fácil.

Só quero que olhe para mim
e não veja a mulher com quem se casou.

Não quero que você
me abrace forte,
nos fazendo um
como nos primeiros dias.
Não quero de você
as canções desafinadas
e calorosas
ao meu ouvido.

Só quero que olhe para mim
e não veja a mulher com quem se casou.

Não quero que você
repita as desculpas
por não ter feito nada.
O vazio vem, é fato.
Não quero que prometamos
um ao outro o recomeço
que não há como vir.
Já começou, vamos em frente.

Meu querido, meu homem,
só quero que olhe pra mim,
pra você,
olhemos para nós.
O tempo segue,
e não podemos ficar parados.
Quero que ame, abrace e beije essa mulher,
aceitando carregar todo o peso
do tempo, dos dias, da vida,
de dores e alegrias.
Quero, e somente quero,
porque é assim que lhe desejo
e assim que me entrego novamente.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 25 de maio de 2010

Não tem preço.

O papel higiênico usado
e o dinheiro que compra brilhantes.
Os dois terão o mesmo destino.
As rodas do carro esporte V8
e os pneus do catador de papel.
Os dois findarão no mesmo chorume.

Mas o teu sorriso,
nossos abraços,
nossas brigas,
nossos olhares
e episódios juntos,
ah, isso não há
Terra que consuma.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Everybody draw Muhammad Day

Atacado fortemente por extremistas islâmicos, o "Everybody draw Muhammad Day" (dia em que todos desenham Muhammad), é a nova sensação da Internet, e uma respostas aos ataques fundamentalistas à liberdade de expressão (há mais sobre o fato no blogue do Bitaites)

Chutemos o balde da ignorância chamada religião! Desenhemos nós também Muhammad! Deixo duas fotos de modelo:
(Sim, este não é o profeta, mas o boxeador Muhammad Ali. E sim: fui sarcástico.)

domingo, 16 de maio de 2010

Futurismo


Quando tudo se repete,
quando tudo é igual,
quando a novidade
é arrancada
de duas décadas
atrás,
quando o que se escreve,
se canta, se vê, se fala
obedece padrões cinquentenários,
você pode perceber:
a cultura morreu.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 11 de maio de 2010


Dias de encher o saco
geralmente
são vazios.

Hoje acordei com sono.
Comi sem fome,
beijei sem paixão,
comi sem vontade
e fui deitar com insônia.

Dias de encher o saco
geralmente
são vazios.

Ontem chovia,
fazia frio.
E eu aqui, ardendo em febre
queimando a pele
embaixo do cobertor.

Dias de encher o saco
geralmente
são vazios.

Amanhã vou enfrentar fila.
É curta, um quilômetro.
É rápido,
cinco horas.
Depois, agulhas
e urina.

Dias de encher o saco
geralmente
são vazios.

E ele dói.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Fármaco

ciprofilaxino
com heparina.
omeprazol
com paracetamol.

e já não há
cloridrato de loperamida
que dê jeito
nesse sulfametoxazol
trimetoprim.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 2 de maio de 2010

Esqueça-me

Esqueça-me.
Expulse-me de suas lembranças
e vá viver sua vida.
Tire-me daqueles pesadelos
e sonhos que nós inventamos.

Esuqeça-me.
Não ouse cultivar um grão de mim
em sua mente complexa.
Arranque-me de suas entranhas
espirituais e seja feliz.

Esqueça-me.
Deixe-me de viver este sonho
que não tem cabimento.
Veja: a estrada está limpa
e você não me vê no horizonte.

Esqueça-me.
Esquarteje-me em seu coração
que precisa bater em paz.
Já não sou sangue nem éter,
sou apenas pó eterno do nada.

Ah, por favor, esqueça-me.
Mate-me em você,
pois aquele eu que eu era
eu já matei em mim.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Canção da Redenção

Procurando o que criar, escrever, versejar, encontrei uma bela interpretação para Redemption Song:

quarta-feira, 28 de abril de 2010

SUS

Matilde queixava-se de dores, enjoo, calafrios. Foi ao pronto socorro do HC, onde ficou presa, em observação, esperando a visita dos médicos. Depois de muito tempo, levantou da cadeira de espera e disse a um doutor que passava: "eu vou embora". "Mas ainda não sabemos o que você tem", disse o médico. "Eu já sei, doutor: é uma menina".

segunda-feira, 26 de abril de 2010

As flores

Em Portugal,
os capitães
de Salgueiro Maia
fizeram, sem sangue jorrado,
a Revolução dos Cravos.

No Brasil,
uma flor de bosta
simbolizou uma anistia
que libertava às ruas
carrascos e vítimas
para construir
uma democracia
imbecil.

Fábio Pedro Racoski

Hayastan

Não sou armênio,
mas gostaria de sê-lo
uma vez.

Sentir os sabores
daquele canto do Cáucaso.
Sentir os valores
de uma história milenar
correndo nas veias.

Não sou armênio,
mas gostaria de sê-lo
uma vez.

Cantar a fé,
sobreviver a holocaustos
esquecidos pela história.
Olhar para os turcos
não com ódio,
mas com memória.

Não sou armênio,
mas gostaria de sê-lo
uma vez.
Não por piedade
ou compaixão
de suas dores
fitando o Ararat
no horizonte.
Simplesmente
por necessidade
de ser poesia.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Exílio em própria terra

O frio tão esperado
não vem aqui.
O sol rabisca
as paredes secas.
Pela janela, os prédios
no horizonte
desenham tristemente
a frase:
SEM TI.

Fábio Pedro Racoski

Endoscopia

Diabo filmador.
Entrou em mim,
causou-me agonias
mortais
e levou-me
o que eu não tinha.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Voltamos!

Sim, voltamos, caro leitor, querida leitora! O Rádio Gordo está de volta, e eu, operado e com absorventes íntimos femininos na barriga (!), estou em casa, feliz, na dieta dos copinhos de café. Ah, é terrível: iogurte, AdeS, Nutren, suco natural, chá, gelatina... 100ml a cada 30 ou 40 minutos. Uma beleza!

Depois de uma noite alucinante, onde tive delírios kafkianos e cortazarenhos (não lembrava o meu nome, o nome da minha mãe, pensava estar numa cidade feita de retalhos das minhas memórias e que se desmanchava, junto comigo), já tenho um grande acervo de ideias para textos novos, que aparecerão aos poucos, entre uma refeição e outra.

Agradeço a todos pela paciência, pelos votos de melhoras, pela força passada numa visita, em comentários, em boas vibrações, no pensamento. Obrigado, leitores, colegas, amigos.

É: talvez eu tenha que mudar o endereço do Blogue agora (é difícil, pois ainda continuarei gordo, Rádio Menos Gordo!)...

Deixo-lhes um vídeo que mostra mais ou menos como se deu minha cirurgia:

Depois ele expandirá até comportar uns 200, 300ml. Então, nada de campeonatos de comilança!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Tudo certinho

Olá...
Estou usando este espaço no blog do meu irmão para informar que na cirurgia foi tudo bem!
Ele ainda está internado para recuperação, mais está bem.
Logo ele deve voltar a se comunicar...
Porém, os recados que deixaram aqui durante este tempo foram levados até ele e tem animado bastante a sua recuperação!
Obrigada a todos
Micheli Racoski (a irmã)

sábado, 10 de abril de 2010

ATENÇÃO

O Rádio Gordo ficará fora do ar por algum tempo. Mas por uma boa causa: na quarta-feira, dia 14 de abril, farei a cirurgia bariátrica (a Capella, sem coral!).

Assim que tiver novamente acesso à internet, atualizarei o blogue com contos, poemas, dietas mínimas (isso não).

Deixo-lhes um poema escrito já na enfermaria.

Enfermaria

Aqui do céu é tudo tão belo.
Seria mais belo se eu pudesse voar.

Vejo pessoas
formigas,
vejo carros,
piscinas, ruas.
Tudo no fosco tom
da janela que não se abre.

Aqui do céu é tudo tão belo.
Seria mais belo se eu pudesse voar.

Até prédios
feios e sérios
tornam-se palácios.
Palhaços olhos,
que enxergam alegria nessa dor.

Aqui do céu é tudo tão belo.
Seria mais belo se eu pudesse voar.

Um dia saio daqui.
Um dia pulo,
abro os braços
para uma nova vida.
E eu nem percebi:
ela já começou.

Aqui do céu é tudo tão belo.
Até esqueci que já estou a voar.

Escrito por: Fábio Pedro Racoski
Digitado por: Micheli Cristine Racoski (erros por minha conta)

sábado, 3 de abril de 2010

O que queria é o que quero

Queria
viver.
Queria
voltar.
E queria
refazer.
Como ia
desfrutar!

Como eu queria
ser com alguém.
Como eu queria
não ser refém.
Ah, como eu queria
viver tempestade...
Ah, como eu seria
feliz de verdade!

Queria ter um amor juvenil
antes que o tempo me faça senil.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A fuga

Era mais um dia de trabalho duro para Jair. Segunda-feira, cinco da manhã, e já estava pronto, com seu uniforme de piloto e capacete. A velha moto custava a pegar no frio matinal, mas, depois de muito barulho – o que certamente incomodava os vizinhos –, saía como um veículo de competição.

Jair trabalhava do outro lado da cidade. De madrugada, sem trânsito, demorava uns quarenta minutos para chegar até a firma. O vento frio cortava a pele de suas mãos debaixo das luvas. A sensação era horrível para ele, ainda mais o Jair, que odeia frio. Era um arrepio que o fazia piscar mais fortemente os olhos.

Aquela terça-feira prometia ser diferente, desde o café com leite extremamente doce tomado às pressas. Já próximo ao serviço, Jair piscou mais forte novamente e, inexplicavelmente, não conseguia abrir os olhos. Desesperado, tentou parar a velha moto, mas esta seguia num acelerando insano. Jair pensou que ia morrer. Sentiu que a moto era puxada, e que o frio havia sumido.

Um estrondo. Desmaio. Depois de algumas horas, Jair abre os olhos. Ainda enxergando vultos, percebe uma luz solar estranha, incomum para aquela estação e aquela cidade. Sente ares quentes tocarem sua jaqueta de couro, o que lhe faz sentir como numa panela de pressão. Arranca do corpo a jaqueta, ficando apenas com a surrada camiseta azul, já tomada pelo suor. Ainda sem enxergar de forma satisfatória, Jair procura sua moto, sem encontrá-la. “Fui roubado!”, repetia. Cambaleia de um lado a outro, até chocar-se com uma parede. A náusea causada pelo clima começa a diminuir; Jair esfrega as mãos nos olhos e consegue melhorar o foco de sua visão. A parede onde estava encostado era transparente. Alguns metros à direita, e outra parede de vidro, acrílico ou coisa parecida. O mesmo para todas as direções: estava preso numa cela invisível.

“Preso numa cela de artista moderno, sem minha moto, só com meu capacete, minha jaqueta e minha mochila. O que mais pode acontecer de errado agora?”, indagava-se Jair, antes de perceber a paisagem. Estava numa praia: areia e mar, menos o chão pobremente pavimentado de sua cela. Umas palmeiras para um lado, uns coqueiros para outro lado, uma selva do lado contrário ao mar. E mais nada: parecia um lugar deserto.

Os braços já estavam roxos de tanto Jair beliscar-se. “Acaba, sonho maldito. Preciso ir trabalhar!” Ele não acreditava que aquilo era real. Afinal, num instante ele estava numa cidade longe do mar, indo trabalhar; no outro, depois de acordar de um desmaio estranho, estava num lugar que lembrava as fotos do Havaí, das praias nordestinas, daqueles lugares no Oceano Pacífico. “O que eu comi pra pirar assim?”, questionava-se Jair, ainda cético com seu novo mundo.

Desistindo de não acreditar, ou entrando na loucura do que acreditava ser sonho, Jair gritava por ajuda. “Tem alguém aí? Pato Donald, Saci, Angelina Jolie?”, brincava, assustado, com seu delírio. Já rouco, percebeu que alguém – ou alguma coisa – se aproximava lá no horizonte, vindo da selva. Era muito peludo para ser humano. E muito alto também. Ao aproximar-se e descer para as quatro patas, Jair percebeu que se tratava de um urso. Viu que o animal trazia uma bolsa pendurada no pescoço. Dessa bolsa, o urso tirou, com suas patas desajeitadas, um punhado de amendoins, que jogou para Jair, por cima da cela transparente.

“Agora só falta esse urso falar comigo!”, ironizava-se Jair, que tentava entender qual a razão de um urso alimentá-lo, ele, um ser humano, dentro de uma cela de vidro. Quase como uma resposta a Jair, o urso falou. “Venham! Ele acordou! Deve estar com muita fome.”, dizia o urso para alguém que não era o ser humano ali em questão. Dito isto, surgiu da selva um punhado de ursos. Filhotes, velhos, grandes, pequenos... Uma multidão de animais quadrúpedes com o pelo escuro.

Aqueles ursos vieram para ver Jair. “Será que vieram porque eu sou o almoço?”, perguntava-se Jair, já sem humor e apavorado. Poderiam ter vindo para assisti-lo, ou por um ritual desconhecido. Mas o que Jair logo percebeu, é que aqueles ursos vieram “passear num zoológico”, e a única atração era ele. Essa resolução o deixou mais assustado e, no ápice do medo, o cérebro de Jair planejava fugas. Quebrar os vidros, como? Pular sobre as paredes, de que forma (pareciam altas)? Até que chegou a um plano que envolvia a maior habilidade do animal humano: enganar. Era simples: finge estar doente, um dos ursos entra para ver o que está acontecendo, dribla o urso e foge. Simples, sim. Fácil? Com certeza não.

Um grande alvoroço dos ursos – devia ser o fim de semana deles. Jair aproveitou para fazer sua cena de pantomima. Pôs a mão no estômago e fez-se cair. A multidão de ursos ficou quieta. O primeiro urso – aquele que lhe alimentou – abriu uma porta corrediça, também transparente, que Jair não identificara na cela. Entrou, ficou olhando o ser humano ali caído. No momento que colocou o focinho dentro da bolsa que carregava, Jair levantou numa agilidade de ginasta, jogou o capacete na testa do animal e saiu a correr pela porta – agora visível, pelos reflexos dos vidros sobrepostos. Antes do urso que ia socorrê-lo pegá-lo, Jair fechou-o dentro da cela.

Jair corria como um atleta olímpico. A multidão de ursos continuava parada, do lado de fora, assustada com a fuga de um animal perigoso. “Deu certo! Ninguém veio atrás de mim!”, disse Jair, comemorando sua vitória. Mas era cedo para comemorar: Jair sentiu uma picada na coxa. Quando olhou para trás, viu um urso que parecia sorrir. “Pegamos esse fujão!”, dizia o urso. Com o veneno começando a fazer efeito, Jair perguntou, ebriamente, aos algozes ursos: “Por que vocês me querem numa jaula? Por que eu sou atração para um bando de animais selvagens?” Antes de desmaiar sob o efeito do tranquilizante, ele ouviu a resposta do urso. “Será que ainda não percebeu? O único animal selvagem aqui é você!”

Um estrondo. Desmaio. Depois de algumas horas, Jair abre os olhos. Ainda enxergando vultos, percebe luzes estranhas, incomuns para sua selva. Sente ares quentes tocarem seus pelos, o que lhe faz sentir mal. Ainda sem enxergar de forma satisfatória, o urso Jair encosta-se nas grades de sua cela. “Não consegui!”, repetia. Cambaleia de um lado a outro, até perceber que estava novamente em sua realidade. A náusea causada pelo tranquilizante começa a diminuir. “Era um sonho. Eu sonhei que era humano, e tinha um emprego.”, lamenta o urso, enquanto espera pelo dia seguinte, que será domingo. Muitos humanos para vê-lo, talvez devorá-lo.

Coleta de sangue

Agulhas entrando
nos meus braços.
Onde está a veia?
Cadê a artéria?

Espetadas infinitas
desesperando
minha pressão,
quase nula.

Sou um zumbi,
um morto-vivo
que só sinto vida
no fim da picada.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 28 de março de 2010

A Vênus, de Willendorf

Ó, Vênus de Willendorf,
perfeição da beleza
de um tempo
que ninguém sabe.
Tuas curvas
se perderam na
estrada do tempo.
E a retilínea estética
greco-avon
tomou teu lugar.

Ó, Vênus de Willendorf,
estes tempos meus
são cruéis.
Nada é belo,
nada é certo,
tudo deve ser simétrico,
plastificado e sem graça.

Ó, Vênus de Willendorf,
tua beleza se perdeu
nas frequentes mudanças
do sensual feminino.

Ó, Vênus, de Willendorf,
tenho medo que
os homens se percam de ti,
e inventem uma
falsa beleza feminina
com gogó, pelo no peito
e barba.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 26 de março de 2010

Apático não

Não, não me espere
e nem me procure
nos caminhos certos.

Estou nos caminhos errados.
Sou errado.
Não sei dizer eu te amo.
Não sei olhar nos seus olhos
com luzes de paixão.
Não sei te fazer carinho
nos cabelos curtos,
nos ombros, no rosto
de bochehcas retilíneas.

Sei é ser bruto,
sentir, chorar, amar,
mas não apresentar.
Sei é que sinto
e o que te sinto
sei que é bom.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 24 de março de 2010

Imprensa Livre

Canalhas, babacas, imbecis. Estes somos nós quando elegemos e aplaudimos canalhas, babacas, imbecis.

O CQC, programa de jornalismo e humor transmitido pela Band, promoveu um espetáculo-denúncia que merece ser visto e revisto.Clique neste atalho para a primeira parte do "Proteste Já" sobre desvio de doações na prefeitura de Barueri. São cinco partes, que podem ser encontradas na descrição no Youtube.

E, para quem já viu:

terça-feira, 23 de março de 2010

Homem raiz

Era uma época de sol quente, daqueles que torram a pele à sombra. Naquela época, sentava-se no banco da praça, todo dia, às doze horas, um velho - talvez velhíssimo - homem, de barba e cabelos grisalhos, compridos o bastante para mostrar a negação à calvície corriqueira da idade.

Este velho homem chorava sob o sol. Chorava quieto, timidamente, e ninguém sabia por que. O chapéu usado vez em quando fazia sombra nos olhos, mas não conseguia esconder as lágrimas que desciam lentamente sobre as rugas. E o mistério se seguia naqueles dias de calor.

Volta e meia alguém abordava o velho senhor. Tentavam puxar conversa, saber o motivo dessa tristeza incômoda. Nada... O velho senhor acenava com a cabeça, educadamente, mas continuava quieto em seu pranto quieto. “É caduco!”, “é louco!”, “é velho, mesmo; ninguém se importa.”, diziam os passantes daquela praça tão desarborizada, cheia de cimento calando a terra e postes roubando o cenário das árvores.

Mas um dia a época de sol quente acabou. Seu fim foi trágico: ventos fortes, furacões, tornados, enchentes... A praça cinzenta onde o velho senhor costumava chorar teve suas calçadas arrancadas e seus postes derrubados. A natureza estava de saco cheio daquele lugar.

Para surpresa de todos, o velho senhor sobreviveu e, com a chegada da bonança, saiu às ruas, visitou os escombros da praça. Pela primeira vez sorriu. Um sorriso de transfiguração divina, um sorriso infantil. Começou a fazer buracos na terra exposta. Pegou do bolso um pacote, e do pacote sementes, que punha com cuidado no chão revolvido.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Amor atípico

Era um casal estranho.
Ela tipo Cyndi Lauper,
ele tipo Iggy Pop.

Se conheceram
numa festa de Rock,
tipo Raul Seixas.
Um amigo dele tipo Victor Jara
o apresentou à irmã
de sua amiga tipo Debbie Harry.

Os dias se passaram
e a saudade aumentava
assim como a frequência
dos encontros.

Até que, num belo dia,
ele se declarou, tipo Roberto Carlos
e ela, tipo Rita Lee,
fez uma graça, mas disse sim.

E hoje vivem seu amor
ao contrário do destino.
Não tipo Sid e Nancy,
mas tipo Cascatinha e Inhana.
E seus filhos seguem essa história,
tipo a mais bela canção.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 18 de março de 2010

Hominídeo

Nossos saberes dizem
que Humanidade é nova.
Um bebê na face da Terra.
Ledo engano.

Mal sabemos que a Humanidade
é anterior ao Humano.
A Humanidade surgiu
antes mesmo da criação
do Cosmos.
E o Cosmos foi obra sua.

A Humanidade criou estrelas,
planetas, galáxias.
A Humanidade criou os cometas,
o ar, as moscas, a água.
Criou o Ser Humano
até o advento do Homo Sapiens.

A Humanidade é antiga,
divina, cósmica,
o segredo e a verdade.
A Humanidade é tão antiga
que é do dia depois de amanhã.
É e está além do tempo,
além dos humanos.

Fábio Pedro Racoski