segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sem russos

Não sentia tanto nojo perante uma cena de entretenimento desde o jogo Postal e o filme Cidade de Deus.

Refiro-me à já famosa cena no Aeroporto de Moscou, no jogo Call of Duty: Modern Warfare 2. Não sou moralista, não sou contra jogos violentos (os quais também jogo, como GTA, Assassin's Creed e Mortal Kombat). Mesmo assim, o realismo desta peça de ficção, de jogo, na franca matança de pessoas inocentes, a missão incabida enfiada entre as outras missões de forma aparentemente tendenciosa, causou-me asco.

Não colocarei o vídeo da cena aqui. E o link que postarei provavelmente será tirado do ar, por uma caça da própria produtora do jogo, Activision, por cenas do jogo postadas indevidamente. Então, para quem não viu, avalie por si mesmo: http://www.youtube.com/watch?v=vxdZyGGE3T8

O título da missão é "no russian" que, traduzido livremente, pode significar "sem russos" ou "não aos russos".

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Carta aberta a Papai Noel

Papai Noel: não acredito em você. Sei que você não existe. Por isso, Papai Noel, vou confidenciar o que espero do futuro.

Espero que o natal seja, a partir de agora, uma data sem presentes e sem festas. Pois até hoje, entre sorrisos malditos e hipocrisia generalizada, o único gesto sincero que vi de uma pessoa com alguém alheio a ela partiu de um mendigo bêbado. E isso foi em maio.

Espero que, no fim de ano, as famílias se preocupem em arrumar bastantes poltronas, cadeiras, sofás e bancos dispostos em roda, para que todos converesm, ouçam o que os mais velhos tem a dizer, cantem, toquem instrumentos musicais, dancem, façam jogos de tabuleiro.

Espero que o Parlamento norueguês conceda o Prêmio Nobel da Paz à Pastoral da Criança, e não ao novíssimo Senhor da Guerra que enganou um mundo todo.

Espero que o cidadão brasileiro revoltado com a impunidade aos políticos corruptos - o que já é quase uma redundância - perceba que ele mesmo, quando usa de seus "jeitinhos" para se prevalecer, é tão corrupto quanto o ministro do Supremo (supremo???), o governador, o senador...

Espero que as agulhas do diabo não perfurem mais o corpo de crianças. Meu desejo macabro é que elas se voltassem aos olhos de seus feiticeiros.

Espero que celebridades mortas não voltem à vida. Acho que elas não gostariam de ver o que suas famílias fizeram...

Espero que as religiões sejam apenas instrumentos de vida em comunidade, de ritual e de mística, tão importantes à cultura e ao indivíduo. Espero, sinceramente, que elas deixem de ser o ópio do povo. Assim, religiosos que drogam as pessoas para ganhar dinheiro vão queimar no inferno do esquecimento.

Espero, Papai Noel, que ninguém mais acredite em você. Ou, se for para acreditar, que seja na imagem mística de um senhor preocupado com as aflições de crianças e adultos, e não de um velho cinematográfico-estadunidense preocupado em entregar o último videogame na confortável casa de um menino branco em Cleveland.

Mas sei, Papai Noel, que você não me ouve. Não acredito em você. Sei que você não existe. Não acredito em você da mesma forma que acredito em Deus: inexplicavelmente. E, por acreditar em Deus assim, tenho esperança. Por isso, sabendo que Papai Noel não existe, espero junto com você por este futuro. Espero.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O menino verde

Era uma vez um menino verde. Nasceu verde, cresceu verde. Sua mãe o vestia com roupas sempre combinando com o verde claro de sua pele.

O menino verde era muito esperto. Aprendeu tudo muito rápido, mas não queria ir à escola – que tinha as paredes verdes. Lá ele não era o filho de seus pais, o esperto, o bonitinho: era apenas um menino verde, personagem principal das piadas e maldades de seus colegas. Lá, até a professora ria de sua verdejante realidade. Lá ele aprendeu que as pessoas mais velhas se apaixonam: isso foi ao conhecer uma menina marrom, tão linda!

O menino verde foi crescendo. Chegou a adolescência, as maldades dos colegas cruéis se intensificaram; o amor dos pais sempre mais forte; os professores a tratá-lo como uma aberração; a menina marrom, ainda mais linda... Escola, universidade, formatura, trabalho...

O menino verde cresceu. Agora é homem, trabalhador bem sucedido. Mas um homem isolado, verde; deixou de viver as dores e os amores. Tinha medo das cores do mundo que o excluía por ser verde. A imagem da menina marrom ainda vivia em sua memória. Até o dia em que a menina marrom apareceu à sua frente, trazendo uma explosão de pulmões e coração acompanhados de um filme que contava toda sua vida de sofrimento verde em segundos. Os dois se abraçaram, contaram sobre suas vidas até ali. A menina – agora mulher – marrom ouviu do menino – agora homem – verde uma confissão de seus mais profundos sentimentos, privilégio que só os pais do rapaz haviam conquistado. Depois, a moça também revelou-se.

Ele não sabia que também riam da menina marrom. Ele não sabia que ela também tinha medo das cores de um mundo que a excluía por ser marrom. Ele não sabia que a mãe da menina marrom foi agredida na rua, simplesmente por ser marrom. E eles, até ali, não tinham percebido que o amor dos dois seria a vitória de todas as cores – verde, marrom, lilás, flicts – sobre as falsas cores do mundo de aparências podres.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Tirania da não-cultura e do não-saber

Francisco Franco,
Benito Mussolini,
Adolf Hitler,
Joseph Stálin,
Vladimir Lênin,
Pol Pot,
Getúlio Vargas,
Ernesto Geisel,
Hugo Chávez,
Microsoft,
Google,
pulseiras.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 12 de dezembro de 2009

A dezena do terço

Já não tenho fé o bastante.
Não sei se fé é o bastante.
A cera da vela queima,
os painossos seguem
as avemarias,
e tudo fede a pavio
e desespero.

Já não tenho fé o bastante.
Não sei se sou ignorante
em assuntos de Deus.
Não sei se sou ignorante
em assuntos ateus.
Sei que a dúvida
é minha constante.

Já não tenho fé o bastante.
E isso não me é apavorante.
Jesus não me ouve
aos gritos,
nem aos sussurros,
suplicando favores divinos.

Já não tenho fé o bastante
mas sigo confiante:
se Deus quer boas gentes,
é consequência querer
gentes pensantes,
ainda que de outro partido.

Já não tenho fé o bastante
ou tenho, não sei, quem sabe?

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O estado da União

se no Rio
Paraíba é xingamento
e em São Paulo
baiano é ofensa
lanço um neologismo
na terra dos pinheirais:
agora, em Curitiba,
paulista-carioca
é palavrão imperdoável.

Fábio Pedro Racoski

sábado, 5 de dezembro de 2009

À minha mãe

Deixei agendada esta postagem.

Ontem, dia 04/12, minha mãe, Maria de Lourdes Purkott, completou 60 anos de vida. Hoje, exatamente a esta hora, fizemos uma festa surpresa à Dona Lourdes, onde estão presentes familiares, amigos e "filhos agregados" que ela colheu nesses anos.

Desde 1993, com a morte do meu pai, Gerson, minha mãe passou a ser também o pai da família. Não apenas isso, mas a nossa fortaleza, ainda que sofresse um doloroso golpe do destino com a perda de sua filha mais velha - minha irmã -, Mônica, em 1998.

Se superamos as dores das perdas, se hoje eu sou professor e minha irmã é pedagoga - e também professora -, se nós somos uma famíla com muito humor, não há outro responsável senão a Dona Lourdes. Por isso, caro leitor e querida leitora, peço um momento de sua atenção para este poema composto a ela.

Fortaleza e aconchego

Mãe.
Palavra sem rimas.
Nenhuma outra palavra
ousa rimar com ela.
Nem por isso está sozinha.

Mãe.
O verso se fez carne,
a lágrima se fez alegria,
a dor se fez orgulho,
o medo se fez coragem.

Mãe.
A curandeira das chagas,
a psicóloga da rebeldia,
o pai da ausência,
o eterno colo.

Mãe.
Mais forte, mais bela,
mais suor, mais voz,
mais preocupação,
mais empenho.

Mãe.
Tu, mãe, que carregas
filhos além dos teus.
Tu, que levas
as dores das perdas
e as alegrias das conquistas.
Conquistas
mais tuas que nossas.

Tu, mãe, que és mãe
de toda uma geração,
saibas que estes versos
não levarão as lágrimas
de todos os bons sentimentos
que derramo ao compô-los.
Mas espero que levem
uma melodia do amor
que nós, teus filhos,
temos por ti.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ти гарячий і холодний

Direto da Ucrânia, uma homenagem a Katy Perry: "Hot 'n' cold", com "Los Colorados".

Aos passantes

A você, passante, que fica me medindo quando me vê.
A você, que se espanta
- como se visse um extraterrestre -
com meu corpo,
ou com meus cabelos,
ou com meu jeito estabanado,
ou com minha voz alta e estridente,
ou com o conjunto da obra.
A você, que me olha e pensa no absurdo que é
uma pessoa como eu trabalhar,
cantar, tocar flauta,
fazer poesia.
A você, passante, que acredita na ausência
de paixões, amores, ódios e vaidades em mim.
A você, querido e odiado desconhecido,
desejo uma vida melhor.
Uma vida menos triste e frustrante.
Onde você não precisa
fingir que é feliz
ao tentar se divertir
quando me vê.

Fábio Pedro Racoski

Camisa de força de Vênus

use camisinha
você precisa usá-la
mais que um direito
é um dever

faça sexo aos dez anos
mas use camisinha
pratique zoofilia
mas use camisinha
vá a uma sessão de necrofilia
mas use camisinha
estupre-se
mas use camisinha
faça programa com menores
mas use camisinha
rasgue-se
mas use camisinha
mostre-se pornograficamente
mas use camisinha
prostitue o país aos gringos
mas use camisinha
fale merda na tv
mas use camisinha
seja objeto
mas use camisinha
violente
mas use camisinha
use facas
mas use camisinha

por fim, ejacule
sua massa encefálica
mas use camisinha
para não contaminar
o parceiro
com seu cérebro.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Um fado

Em resposta ao pedido do Igor Ravasco, eis aqui um fado que vale o mundo: "Há uma música do povo", poema de Fernando Pessoa cantado pela divinal Mariza.

domingo, 29 de novembro de 2009

Valores econômicos

O PIB da Califórnia
é um Brasil.
O PIB de São Paulo
é uma Argentina.
E o fado português
é um mundo inteiro.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Verborragia sem

eu
quero dizer
aquilo tudo
que não disse
quando não devia
nem deveria
dizer
o que não sei
porque sei
eu
só quero dizer
porque preciso
vomitar

preciso
procriar.

Fábio Pedro Racoski

Pingos nos is


Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Não quero mais

não quero mais
adoecer
adolescer
aborrecer
emburrecer
emputecer
não devolver
envelhecer
evanescer
não renascer
um nada ser.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Difícil vida fácil

na segunda
moribunda
dói a bunda
tá corcunda
nauseabunda
infecunda
e se inunda
tão profunda
aprofunda
sua funda
via imunda

iracunda
vagabunda

Fábio Pedro Racoski
Queria fazer uma epopeia
sobre minha vida quebradiça.
Só rendeu essa quadra, essa ideia,
me tomou uma puta preguiça...

Fábio Pedro Racoski

Não-ser humano

Já não sou
quem gostaria de ser
e nem sou
eu mesmo
que já fui.

Simplesmente
não sou.

Simplesmente
deixei-me
ser conquistado
pelo comodismo,
pelo conformismo,
pela preguiça,
pela mesmice.

Não sou.
E o fato de não ser
não me dói.
Já que, não sendo,
não sinto.
Por mais que
lágrimas secas
caiam dos meus olhos.

Não sou.
E não estou.
Por mais que você
sinta-me presente.
Por mais que eu
queira mostrar
o contrário.

Não sei.
Não falo a verdade.
Se há alguma certeza
em mim,
é que sou pura mentira.
Sou um blefador.
Um enganador.

Não vivo.
Não sou, não respiro, não amo,
apenas sou movido
pela inércia.
Olhe nos meus olhos:
eles estão vazios.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O exílio de Midei Shempaz (parte I)

Certo dia, depois de ser perseguido pela Associação das Senhoras Cristãs em Defesa da Retidão e da Moral, o grande sábio Midei Shempaz resolveu não comprar briga e exilou-se da sua terra de todos os dias e madrugadas, o Curitestão.

Ao ultrapassar as fronteiras curitãs, Midei Shempaz deixou todo um povo – exceto a Associação das Senhoras Cristãs em Defesa da Retidão e da Moral – chorando de saudade prévia. Midei Shempaz também chorava. Mesmo sendo sábio, não entendia por que as Senhoras Cristãs em Defesa da Retidão e da Moral o condenavam; afinal, beber Steinhäger todos os dias era como uma sicuta renovadora que libertava seu Sócrates interior dos malditos sofistas.

Depois de muito andar, já distante da fronteira, Midei Shempaz sentou numa cadeira de bar, tirou sua sanfona de 48 baixos da capa e começou a cantarolar a sua canção do exílio. Era assim a sofrida cantiga:

Ai, minha terra que não vejo!
O silêncio moribundo
nesse peito vagabundo
tem a volta por desejo!

Ai, minha terra que não ouço!
Por viver de vadiar
querem me trancafiar,
me jogar num calabouço.

Ai, minha terra que não sinto!
Tua terra vou perdendo
por essas velhas querendo
me enforcar, cortar meus dedos.

Ai, minha terra, estou entregue!
Bebo muito e falo pouco
porque já estou todo rouco
de saudade do Steinhäger.

Os grandes sábios sempre são incompreendidos. Mais um chope!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O pequeno massacre da vagina delicada

Hoje deparei-me com um arquivo (de computador mesmo!) datado de 7 de maio de 2003. É a imagem escaneada da divulgação de uma HQ. Fiz isso para uma - na época - nova amiga: segundo período da faculdade, e não fazia ideia de que a Barbara viria a ser uma amiga, no sentido mais eterno da palavra: para sempre, em qualquer lugar.
Mesmo trazendo uma grande dose de humor, essa imagem escaneada me traz alegria, nostalgia - da época em que estudávamos todos juntos -, singeleza.

Ah, os amigos (saudade)... Estaria mais morto sem eles!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Curitiba 34 graus

Ah, Curitiba, cidade
que me traz tanta saudade.
Chega o maldito verão
e me traz sofreguidão.

O frio invernal se vai,
e, em seu lugar magistral,
o atômico tropical
calor queima, me subtrai.

Idílica Era do Gelo:
regressa, vem congelar
esse mundo tão solar!
Aquele frio... Quero tê-lo...

Fábio Pedro Racoski

sábado, 31 de outubro de 2009

Análise sintética

Enfim,
chegou o fim.
Hora de começar.

Tudo acabou,
tudo se foi.
Hora de chegar.

Tudo passou,
tudo morreu.
Hora de nascer.

Tudo ódio,
tudo arranhão.
Hora da paixão.

Fábio Pedro Racoski

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

República ou... ou... ?

“Liberdade, abre as asas sobre nós!” Assim roga o refrão do Hino da Proclamação da República, fato histórico ocorrido no dia 15 de novembro de 1889. Na manhã daquele dia, o marechal alagoano Deodoro da Fonseca deu início a uma mudança radical na forma de governar: o Império Brasileiro deixa de existir para se transformar na República do Brasil. Agora, podíamos eleger todos os governantes, desde o prefeito até o presidente.

Mas a República não começou assim: ela foi fruto de um golpe militar, comandado por oficiais de alta patente, que tinham como primeiro representante o marechal Deodoro da Fonseca. Assim que a junta militar tomou o poder, tratou de expulsar a família imperial do Brasil (que voltaria ao Brasil mais de 50 anos depois, sendo o maior exílio político da história de nosso país); muitos foram presos, torturados e mortos. O sonho de uma República no sentido da palavra (do latim “res publica”, "coisa pública") ficou para depois.

No início, apenas pessoas de classe média e as mais abastadas podiam votar. Depois de muitos anos, a mulher conquistou esse direito. Só nos anos 50 é que o Brasil viveu a primeira era realmente democrática, com eleições diretas para os poderes legislativo e executivo, abrangendo todos os cidadãos, sem distinção alguma.

Mas eis que, em 1964, os militares novamente tomam o poder, instaurando uma ditadura mortal e absurda que durou duas décadas. O milagre econômico dessa época se mostrou, décadas depois, uma mentira nojenta, uma farsa que trouxe dívidas astronômicas ao país.

Em 1989, cinco anos depois da campanha “Diretas Já!”, os brasileiros novamente poderiam escolher seu presidente. Numa democracia tão jovem e tão inexperiente, não é de se espantar que Fernando Collor tenha saído vitorioso, mesmo sem propostas concretas, e vindo a ser, depois, o protagonista do mais vergonhoso escândalo de corrupção do país.

Agora, em 2009, com algumas décadas acumuladas de República democrática, o Brasil ainda sofre com escândalos de corrupção, descaso das autoridades, deficiência em educação, saúde, transportes, segurança... Melhor que antes? Talvez.

E o que nós devemos fazer? Como diria Santo Agostinho: todos devemos ter o coração inquieto, assim como Martinho Lutero, frade agostiniano que se revoltou contra a sucursal do inferno que tinha se transformado a igreja católica. Nós também, temos como necessidade cultural e social estarmos sempre inquietos, a fiscalizar, cobrar, escolher bem o candidato a quem votar, até mesmo fazer panelaço: por que não? É de se invejar a politização de nossos hermanos argentinos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Falta-nos

Disse Jesus:
"Eu sou o pão da vida.
Aquele que vem a mim
jamais terá fome;
e aquele que crê em mim
jamais terá sede".

Fome e sede;
de fé,
em pé,
de paz,
incapaz,
de cultura
formosura,
de poesia
filosofia.

Eita mundo
vagabundo!

Fábio Pedro Racoski

sábado, 24 de outubro de 2009

O olho do mal

Ai, meu olho esquerdo... Inchado, inflamado, "conjuntivítico". E eu, por dois dias, mantive minha rotina de trabalho com a órbita ocular fazendo pressão no cérebro, causando uma dor de cabeça incrivelmente latejante.

Depois de ouvir palavras dos colegas de trabalho como "por que veio trabalhar?", e os alunos, em concordância, "por que não ficou em casa, professor?", depois de trabalhar na sexta-feira até as 21:30 (normalmente seria até as 22:30), fui para casa, depois de horas de aulas de português. Acordei no sábado causando um tremendo susto em minha mãe e minha irmã, tamanha era a monstruosidade do sinistro olho moribundo.

"Vou te levar no médico da clínica", disse minha irmã (sob ordens de minha mãe). E lá fomos, ainda de manhã, pagar 40 reais para a consulta. Esperei dois minutos e a enfermeira convocou-me para a pré-consulta. Pressão como sempre, 12 por 8 (difícil para alguém da minha circunferência), temperatura sovacal normal, a língua uma beleza. E lá fui à outra sala, ser atendido por um médico de sotaque sulamericano.

O simpático hispânico pediu que eu desligasse o celular - e o fiz. Examinou novamente minhas entranhas bucais, examinou o olho-monstro (o que causou alguma dor), apontou-me uma lanterna ofuscante, pediu para que eu contasse a história do meu mal. "Estou passando colírio tobramicina", contei ao doutor. "Sí, sí, continuarás con ele.", disse o doutor, que me receitou mais dois medicamentos: um antibiótico cefalexina e uma pomada gentamicina. Disse-me que infecção no olho é coisa muito séria, e deve ser combatida por todas as vias - superiores, pelo menos.

Pechinchei preços na quarta farmácia para os antibióticos e continuei em busca da gentamicina, mais sumida e procurada que o Santo Graal. Depois de algumas sessões do tratamento intensivo, já no sábado à noite, a pelota verruguenta do olho esquerdo perdeu a coloração roxo-defunto para ganhar um tom vermelho-irritação. A aparência no rosto ainda lembra um Rocky Balboa surrado pelo Apollo Creed (só não grito pela Adrian).

O destino assombroso do olho do mal ainda está por vir...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Adeus, eu

Hoje,
aquela velha criança
com medo das ruas,
com medo dos outros,
com medo de si,
morreu.

Hoje
aquela velha criança
que já devia ter ido,
que arrastava uma
carcaça malcuidada,
se foi.

O velório
será longo.
O corpo
será cremado.
E das cinzas nascerá
o jovem adulto
há muito aprisionado.

E das cinzas nascerá
a Fênix luminosa
a brilhar
onde outrora havia
total escuridão.

Fábio Pedro Racoski

domingo, 18 de outubro de 2009

O infante aprendiz

Certo dia, encontrava-se Midei Shempaz dormindo sobre um banco da praça central de Kinze. Um garoto, beirando os sete anos, cutucou seu olho, fazendo o sábio acordar rapidamente e gritar: "não que ainda tô vivo!". Ao olhar para a criança, Midei Shempaz disse:

- Ah, piá: sabia que titio podia ter ficado cego, ou infartado?

- Desculpa, tio Midei Shempaz!

- Deixo, sim. Não tô brigando!

- Mas não é o nome do tio: Midei Shempaz?

- ... É mesmo, tem razão, piazinho inteligente. Diga: o que quer saber desse tio barbudo?

- Minha mãe disse que o senhor é muito inteligente.

- Ah, obrigado!

- Ela disse que eu preciso estudar pra ficar inteligente e não ser um bêbado vagabundo. Mas ela disse também que o senhor é um bêbado vagabundo, e que isso é ruim. Agora eu não entendi, se o senhor é inteligente, como pode ser bêbado e vagabundo.

- Sua mãe tem toda razão, menininho. Você precisa estudar pra ficar inteligente igual o tio aqui. Mas eu não sou bêbado e vagabundo: sou apenas um poeta filósofo que trabalha de apreciar a vida, a cidade, este banco da praça, aquela senhora que passa ali na rua...

- Ah, o senhor não é bêbado nem vagabundo?

- Não, menininho, não sou.

- Ôba, brigado tio! Vou falar pra minha mãe que eu posso ser igual o senhor quando crescer, porque o senhor não é bêbado nem vagabundo!

E, assim, Midei Shempaz garantiu para o futuro mais um sábio que, como ele, habitará as ruas destas terras do Curitestão.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Midei Shempaz e a definição de Céu e Inferno

Certo dia, chegou às ruas de Kinze um jovem padre, sedento pelo conhecimento escatológico que nem seu médico, nem seu bispo lhe ofereciam. Ele buscava por respostas sobre o Céu e o Inferno, e sabia que naquela cidade, naquelas ruas, perambulava um grande sábio.

Seguindo o rastro das barbas falhas do sábio, o jovem padre o encontrou, em uma taverna, bebendo o mais puro Steinhäger da região.

- És tu o grande sábio destas terras? -, pergunta o padre.

- Sim, sou eu, Midei Shempaz! -, responde ebriamente o sábio.

- Desculpe-me!

- Não, este é meu nome!

- Ah... Preciso saber de ti, ó sábio, qual a diferença entre o Céu e o Inferno?

- Vejo que você é padre. É, a Igreja é pouco prática nesses assuntos. Mas vamos lá, meu filho: imagine o Céu e o Inferno como duas festas de casamento. O Céu é o casamento de pobre: bêbados, cerveja barata, vinho barato, mulheres com vestidos horríveis, carne dura, briga. O Inferno é o casamento de rico: restaurante chique, champanhe, comida coisa fina, mulheres com vestidos de grife e siliconadas (algumas gostosas), alguns debates em conversas de cavalheiros e damas.

- Não entendo: dessa forma, parece que o Inferno é melhor que o Céu. -, respondeu, confuso, o padre.

- Parece mas não é, não, meu querido. No casamento de pobre, tudo se extravasa ali, a alma está na ponta da língua, na ponta dos dedos e no bafo de cerveja; o que se levam são os salgadinhos, dentro da bolsa, símbolos da experiência redentora. Isso, mesmo com bafo, é o Céu. No casamento de rico, tudo é aparência, é Photoshop, depois um fica maldizendo o outro, pelas costas; leva-se, dali, a luxúria e um suvenir, símbolo da experiência maldita. Ah, isso é um Inferno!

Ouvindo isto, o jovem se desfez de seu colarinho de padre, deixando de sentir a angústia sufocante da ignorância.

O grande sábio Midei Shempaz

Há muito tempo, nas terras do Curitestão, vivia um jovem senhor chamado Midei Shempaz. Conhecido por sua sabedoria e sua apurada sensibilidade para questões do Céu e da Terra, Midei Shempaz era procurado por pessoas de diversas partes, curitãs ou estrangeiras, aos quais ensinava ou, segundo o próprio, "fazia-lhes enxergar sua sabedoria interior", com poucas palavras (normal para um curitão).

Vivendo como um mendigo nas ruas da capital de Curitestão, a cidade de Kinze, Midei Shempaz era admirado e respeitado por alguns, discriminado e odiado por outros – ódio que mais parecia temor. Seu passado como arqueiro-mor da 1ª divisão de artilharia de Curitestão rendia à sua pessoa a imagem de um homem forte e elegante. Para completar sua definição, Midei Shempaz era entusiasta de festas e bebedeiras, sendo campeão na disputa de Submarinos e chopes.

Midei Shempaz começou cedo seu caminho de sabedoria: já aos 13 anos ele sabia mais sobre física quântica e análise do discurso que seus professores. Aos 15, tentou publicar sua Teoria do Tudo e do Quase Nada. Mas como era muito pobre, não conseguiu fazê-lo. Em momentos de extrema crise de produção intelectual, produzia livros que considerava “sub-literatura”. Daí nasceu o gênero literário da auto-ajuda que, segundo Midei, foi seu “maior erro de todos os pisos da vida”.

Nas próximas edições, publicaremos um pouco da produção intelectual de Midei Shempaz, junto a alguns de seus ensinamentos, colhidos de seus discípulos. Tentaremos, também, resgatar a Teoria do Tudo e do Quase Nada, trabalho extremamente árduo mas que, se lograr êxito, revolucionará para todo o sempre o pensamento humano.

sábado, 10 de outubro de 2009

Tremei, Frestão!

"El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha, compuesto por Miguel de Cervantes Saavedra."

Estas foram as primeiras palavras lidas na capa de um livro publicado em 1605, que ganhou sua segunda parte em 1615 e, hoje, é considerada a mais fantástica obra literária que a humanidade já produziu. Dom Quixote, o louco de cada um; Sancho Pança, o prático e grosseiro que vive em nós; Dulcineia, o platonismo do qual não conseguimos fugir. Uma obra emocionante, o livro que já li três vezes, em espanhol, sem me assustar com suas mil e tantas páginas (e livro se conta assim?).

"Viajei" bastante para chegar no motivo dessa postagem: a escola de samba União da Ilha trará como tema de seu desfile, em 2010, "Dom Quixote de La Mancha: o cavaleiro dos sonhos impossíveis" (também se referindo à canção do espetáculo da Broadway, "O homem de La Mancha"). Ainda estão por escolher a canção que ilustrará esse tema, mas eu já antecipo a vencedora (a mais empolgante e "quixotesca"!):

Sou um tanto quanto avesso ao Carnaval, mas vou torcer para a União da Ilha. QUIXOTESCOS, UNAM-SE!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O bobo

Lá vai o bobo
em seu trote falido.
Cheio de fé,
vazio de sentido.

Fábio Pedro Racoski

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

MTV - canal da música???

MTV. Sigla que acompanha a definição original inglesa: "music television". Uns pronunciam de forma ligeiramente americanizada, "emitivi"; outros a proferem como "emetevê". Ainda há os que usam a forma "metevê", recordando a Fenemê - ou FNM, "Fábrica Nacional de Motores".

O nome prediz uma rede de televisão voltada totalmente à música, em todas suas nuances e manifestações. Mas isso não acontece: MTV poderia significar, acertadamente, "mainstream television". Em seus inúmeros clipes, documentários e noticiários, a temática não foge dos ritmos "globalizados" (rock, reggae, rap, R&B, etc.), do pop, e, como uma espécie de "cota", alguma coisa de samba.

Tão influente entre os jovens, a MTV se nega a divulgar boa parte da música consumida pelos mesmos, em diferentes regiões do Brasil: sertanejo, forró, vanerão... A emissora ainda tentou algo sobre o tecnobrega do Pará, e parou nisso. Sem falar em vertentes musicais que poderiam contar com o apoio de uma "Music Television": a música caipira, os ritmos regionais e folclóricos, que ainda sobevivem, mas encontram espaço na mídia única e exclusivamente dentro de canais culturais, como a TV Cultura ou a Futura.

Uma emissora de televisão administrada pelo grupo Abril tem cacife para ser muito mais do que é. Mas estaciona no mesmo geralzão desde há muito tempo. Enquanto isso, vai perdendo seus vejotas (ou VJ's) para outras emissoras. Na sessão de variedades (além da música), ainda consegue manter certa qualidade. Mas será difícil segurar Marcelo Adnet, Kika, Titi, Dani Calabresa, Bento Ribeiro e companhia dentro da emissora. Marcos Mion já foi para a emissora dos pastores da Universal...

sábado, 26 de setembro de 2009

Amor num piscar de olhos

Era um dia solar,
desses que a luz do sol
dá à Terra uma lua
disfarçada de estrela.
Nesse dia,
numa rua pisoteada,
ele encontrou
o amor de sua vida.

Olhou em seus olhos,
levantou os ombros e a cabeça,
espremeu um lábio
contra o outro,
erguendo um pesado e fraco
sorriso.
Balançou a cabeça
na direção vertical.
Continuou seu caminho
de pisoteamento do asfalto.

E o vento de um ônibus
que cruzou a rua
levou para longe
seu belo destino.

Fábio Pedro Racoski

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Cinza

E mais uma vez
minha esperança valeu.
A primavera chegou
com nuvens pesadas
e céu cinzento
como chumbo.

Ah, o cinza...
A paixão da minha vida
e da minha morte.
A cor dos meus olhos,
uma cor tão minha
ainda que impregnada em todos.

Gosto do cinza
como quem se afeiçoa
à imagem de um
palhaço triste.
Ou como quem se alegra
por gostar de algo
que ninguém gosta.

O cinza do rosto de Chaplin,
o cinza da quarta-feira,
o cinza do lápis com o qual
escrevi meus primeiros versos
(tentativas inúteis
de conquistar as mais belas
colegas de classe).
O cinza dos cabelos
que carregam história,
mais do que eu
posso aguentar.

Se o vermelho é paixão,
se o verde é esperança,
se o branco é paz
e o preto é luto,
o cinza é fruto
da mistura de alegria,
tristeza, gravidade
e serenidade
da vida só.
Não, não sou solitário:
sou cinza.
"Com todo direito a sê-lo."

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Gisele Bündchen, embaixadora da ONU

Gisele Bündchen foi nomeada embaixadora da boa vontade pelo programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Imagem de novembro de 2002. Protesto pelo uso de peles em campanhas publicitárias de moda.

É. Há sete anos, essa beldade foi chamada de "escória da pele" (nos cartazes) pelos manifestantes do PETA, organização que defende os direitos dos animais.

Peles, facas e voltas

O mink assassinado
brutalmente
viu seu cadáver
cobrir os seios de Gisele.
O Minc empossado
ministro bicho grilo
vê Gisele
com a missão
de salvar minks.
Como um Saulo
convertido
em Paulo.

Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Project Needlemouse

Para os apreciadores de jogos eletrônicos (também conhecidos como "gamemaníacos"), que jogaram Sonic no Mega Drive: a Sega promete um grande jogo para o próximo ano.

Sim: um novo jogo do Sonic, todo em 2D, onde será possível correr de verdade com o ouriço supersônico, como nos anos 90!

O não professor

Ele não tinha
os requisitos básicos
para ser
um professor.

Certo dia, depois de
cinco anos na profissão,
chegou para sua aula
repetitiva, cansada
e desgastada.

Um aluno, alheio à insatisfação
do professor,
ergue a voz numa pergunta:
vai passar lição importante hoje?

A verdade é que ele nunca passava
nada de importante,
apenas transcrições
de livros e materiais falhos.
Mas naquele momento,
depois de esbravejar
suas frustrações
no aluno
por eternidades,
foi ele o aluno
de sua própria saliva
cuspida em berros.

Ele não tinha
os requisitos básicos
para ser um professor:
paciência, dedicação,
amor, sangue
e um senso de humor
apuradíssimo.

Fábio Pedro Racoski

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Curso de Civismo - Módulo I

Brasileiros e brasileiras...

Até a metade dos anos 90, as escolas ensinavam civismo aos alunos. Era disciplina que, junto com OSPB (Organização Social e Política Brasileira), foi extirpada da grade escolar, na desculpa de ser uma herança da ditadura. Na verdade, civismo é uma lição de casa, de família, e não se faz necessária, a princípio, aula na escola sobre isso. Mas, como nada é perfeito... Lembro aqui, nessa postagem, os hinos que o Brasil (não só a Vanusa!) esquecem ou nunca aprenderam:

HINO DA INDEPENDÊNCIA

D. Pedro I, O Cara da independência, é o compositor da melodia deste hino. A letra é de Evaristo Ferreira da Veiga. Foi a primeira canção usada como tema nacional, ainda que não oficialmente.

HINO À BANDEIRA

A música deste hino foi composta por Francisco Braga, para poema do narcisista e arrogante mas, ainda assim, ótimo poeta, Olavo Bilac.

HINO DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

O mais desconhecido, acredito eu. Tem letra de Medeiros e Albuquerque e música de Leopoldo Augusto Miguez. Comemora o golpe militar que foi a República. É: a República já começou errado!

HINO NACIONAL BRASILEIRO


O HINO. E não venha criticar a Vanusa: todos nós erramos, alguma vez, sua canção. Em maior ou menor grau. É um hino que ganhou a letra atual, de Joaquim Osório Duque Estrada, contemporâneo de Olavo Bilac (e também poeta parnasiano), em 1922, na comemoração do primeiro centenário da Independência. A música, de Francisco Manuel da Silva, contemporâneo da Independência, serviu a outras letras (inclusive uma letra para a atual introdução instrumental).

A letra é difícil? Não: ela é apenas extremamente formal, culta e poética. Já ouvi propostas de simplificação do poema no hino. Isso é um absurdo: não é o hino que deve ser "simplificado". É o povo que deve receber uma educação boa o suficiente para compreender o que se canta no Hino Nacional.

Bela composição, poema maravilhoso, é o "Hors-Concours" (ó-concur) entre os hinos que considero belos.

Na Wikipédia há um vocabulário básico para melhor se entender o hino. Infelizmente, não nos dão estudo sobre este poema na escola.

Margens plácidas - "Plácida" significa serena. Calma.
Ipiranga - É o riacho junto ao qual D. Pedro I teria proclamado a independência.
Brado retumbante - Grito forte que provoca eco.
Penhor - Usado de maneira metafórica(figurada). "penhor desta igualdade" é a garantia, a segurança de que haverá liberdade.
Imagem do Cruzeiro resplandece - O "Cruzeiro" é a constelação do Cruzeiro do Sul que resplandece (brilha) no céu.
Impávido colosso - "Colosso" é o nome de uma estátua de enormes dimensões. Estar "impávido" é estar tranqüilo, calmo.
Mãe gentil - A "mãe gentil" é a pátria. Um país que ama e defende seus "filhos" (os brasileiros) como qualquer mãe.
Fulguras - fulgurante (reluzente, brilhante).
Florão - "Florão" é um ornato em forma de flor usado nas abóbadas de construções grandiosas. O Brasil seria o ponto mais importante e vistoso da América.
Garrida - Enfeitada. Que chama a atenção pela beleza.
Lábaro - Sinônimo de bandeira. "Lábaro" era um antigo estandarte usado pelos romanos.
Clava forte - Clava é um grande porrete, usado no combate corpo-a-corpo. No verso, significa mobilizar um exército, entrar em guerra.

Dia da Pátria

Hoje é um dia estranho.
Militares republicanos
comemoram
o ato de um monarca
fundando sua própria
monarquia.

Hoje é um dia estranho.
"O último a sair que apague a luz,
mas eu vou lá na avenida, ver
o desfile!"

Hoje é um dia estranho.
Dia para exercer o patriotismo,
e brasileiro desce para a praia,
liga a televisão
e assiste bandas gringas.
(afinal, patriotismo é para
copa do mundo)

Hoje é um dia estranho.
Dia para cantar
dois hinos que ninguém sabe.
Dia para lembrar
a história que o brasileiro esqueceu.
Dia para viver
um amor que o brasileiro não tem.
E viva o 7 de Setembro!
E viva Dão Pedro pelo feriadão!

Fábio Pedro Racoski

September Seven

Google comemora o Sete de Setembro. Mas, ao contrário do dia da independência de Índia e EUA, essa homenagem aparece apenas no site nacional. Prova de que o Brasil não é tão importante lá fora quanto os brasileiros apregoam.

sábado, 5 de setembro de 2009

Amor verdadeiro

Um casal abraçado.
Um aconchega o outro.
Ele barbudo, barrigudo e feio.
Ela gorda, sebosa e também feia.
Um carinho sincero,
a cena do amor.
Por mais que eles não se amem,
por mais que eles não sejam
formosos.
Talvez porque eles sejam
exatamente o oposto.

Fábio Pedro Racoski
ivzt86rw5j

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Gdansk, minha e sua

Hoje, primeiro dia do mês de setembro de 2009, fazem 70 anos que a Segunda Guerra Mundial começo. A guerra que simplesmente mudou por completo a história do mundo: mais que Alexandre, mais que Jesus, mais que Gêngis Khan, mais que Napoleão.

Há exatos setenta anos, a cidade polonesa de Gdansk foi invadida pela blitzkrieg nazista. Respondendo à invasão da Polônia, Reino Unido e França declaravam guerra à Alemanha. Varsóvia é destruída no mesmo ano. Já em 40, os alemães invadem a Holanda, a França... A partir daí, todos os eventos que conhecemos, lemos, ouvimos: do outro lado do mundo, o Império japonês invade meia Ásia, promove uma série de conquistas e constrói - também eles - campos de extermínio. Os Estados Unidos da América entram na guerra, alterando seus rumos drasticamente. Os pracinhas brasileiros, ao lado dos estadunidenses, promovem na Itália uma campanha desastrosa e, ao mesmo tempo, heroica: soldados totalmente despreparados que alcançaram vitórias relevantes. O dia D, as bombas, os horrores, as belas e trágicas histórias... Um novo mundo nasceu daquela Gdansk invadida.

FILHOS DE GDANSK

Gdansk,
pobre cidade polaca.
Entrou para a históra
após parir um novo mundo,
fruto do estupro promovido
pelas tropas de Hitler.

Gdansk,
profeta do destino polaco.
Sobre os escombros de Varsóvia,
sobre os corpos empilhados,
engatinhava o Mundo Novo.

Gdansk,
minha mãe perseverante.
Sobreviveu.
Ergueu a cabeça
e os ombros
para ver seu menino
tocar o terror,
compor um rock,
fazer amor,
brincar com bodoque.

Fábio Pedro Racoski

Cordas parafusadas

Imitando meu nobre colega Igor Ravasco, do blogue Carta e Verso, trago a vocês, caros leitores, um pouco daquele que é o instrumento símbolo de Portugal: a guitarra portuguesa ou, simplesmente, guitarra.Parece um bandolim, mas não é. Parece viola, mas não é. As cordas são esticadas por parafusos (aqueles pinos no leque da cabeça), num sistema mecânico complexo, diferente dos violões e outros, que usam tarraxas. É a alma do fado, mas também aparece em outros ritmos. São 12 cordas, com afinações variadas (as principais são "Coimbra" e "Lisboa").


Também acompanhada, belamente, por voz:

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

DIA SEM FIM - O retorno

Caro leitor, cara leitora,

Há alguns meses eu postei um conto de minha autoria neste blogue. O "Dia sem fim" foi publicado em onze partes, no estilo folhetim. Decidi reuni-las e publicar o conto completo.

Para quem tiver paciência e curiosidade o suficiente e quiser se aventurar nessa literatura barata, aqui está o "Dia sem fim" no Google Docs:

http://docs.google.com/View?id=dg66df7z_0gz6ghhhg

Ou, se preferir, pode ler o conto dentro do blogue, clicando aqui.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Filtro solar...

Ótima paródia do Rafinha Bastos àquela mensagem de fim de ano do Pedro Bial que, por sua vez, é uma versão de outra mensagem piegas em inglês (Sunscreen).

AVISO: este vídeo contém palavrões.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Bella Ciao Brasiliana

Sou comunista
capitalista.
O Bella Ciao, Bella Ciao, Bella Ciao Ciao Ciao.
Sou anarquista
e direitista
E de velhice hei de morrer.

De manhãzinha o sol brilhava.
O Bella Ciao, Bella Ciao, Bella Ciao Ciao Ciao.
E eu podia estar na praia
mas hoje é dia de votação.

Se eu ganho lucro
burro e pelado...
O Bella Ciao, Bella Ciao, Bella Ciao Ciao Ciao.
Se eu ganho lucro
burro e pelado
pra que cultura e educação?

Eu sou guerreiro,
sou partigiano.
O Bella Ciao, Bella Ciao, Bella Ciao Ciao Ciao.
Eu sou guerreiro,
sou partigiano
quando o assunto é futebol.

E se me roubam
lá no Congresso...
O Bella Ciao, Bella Ciao, Bella Ciao Ciao Ciao.
E se me roubam
lá no Congreso
eu também quero mensalão.

Novo conceito
sociopolítico.
O Bella Ciao, Bella Ciao, Bella Ciao Ciao Ciao.
Novo conceito
sociopolítico:
é o "deixadismo" do povo meu.
Novo conceito
sociopolítico:
é o "deixadismo" do povo meu.

Fábio Pedro Racoski

--> O que é Bella Ciao?
--> Várias interpretações da canção "Bella Ciao".

O nosso poeta

Paulo Leminski
me chegou pela escola,
na forma de nome de pedreira.

Maldita escola
que me injetava ignorância
sob a pele de conhecimento.
Maldita escola
que me negava os haicais,
os versos livres,
o Catatau do Kamiquase.
A mesma escola que me ensinava:
"esse Paulo escreve tudo errado,
tudo torto."

E tarde é que descobri:
os poetas são como Deus.
Escrevem certo
por linhas tortas.
São sóbrios
na embriaguez.
São sensatos
na loucura.
Fábio Pedro Racoski

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Alunos...

Certa vez, o grupo de alunos mais bagunceiros da turma mais bagunceira onde eu dava aula, me disseram, depois de ouvir meus reclames: "mas nós somos bonzinhos professor; somos ursinhos carinhosos!"
Talvez sejam, mas estes aí!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Vossa o quê?

Vossa excelência
roubou minha inteligênica.
Vossa excelência
roubou minha saúde.
Vossa excelência
roubou meu futuro,
estuprou meu presente
e cuspiu no meu passado.

Oh, Vossa excelênia!
A excrescência de
sua alma
contaminou
o rio da minha vida!
Fábio Pedro Racoski

domingo, 16 de agosto de 2009

Reis das Arábias

Rei Abdullah II e sua esposa, Rainha Rania Al-Abdullah, monarcas da Jordânia. Foto encontrada no Twitpic da rainha (http://twitpic.com/e4qba). As arábias como você nunca viu, seu ignorante preconceituoso: esperava turbante e burca??? (Calma, gente: é só pra provocar. Incluo-me aí!)

Twitter da gostosa bela rainha: twitter.com/QueenRania

Que Allah me entenda!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Ele já não cantava mais.
Não fazia versos.
Não falava sobre
história e
filosofia de botequim.

Ele já não xingava
nem chorava
nem beijava.
Ele já não protestava
nem apoiava.
Ele já andava torto,
bêbado na sobriedade
chata do tédio.
Ele já não era mais
humano,
senão um autômato
triste a apertar
parafusos.

Mas eis que ele encontou
um Dostoiévski
empoeirado
no canto do quarto.
A panaceia
de que precisava.
O presente
de Esculápio
para salvar-lhe
a vida.

Fábio Pedro Racoski

Po po po po po po pôquer

Lady Gaga.
Ou em espanhol:
Doña Tartamuda.

(trocadalho do carilho)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Top 9 - belos hinos

Depois de postar os cinco hinos mais assustadores, faço este Top 9 (sim, nove!) com os hinos que mais gosto. Sugestão do Igor Ravasco!

Deixarei o hino nacional brasileiro de fora, e abordarei somente ele num post futuro. Então, vamos aos nove mais belos, segundo meus gostos:

9 - ʻE ʻotua māfimafi - hino nacional de Tonga

Não é DA tonga: é DE Tonga. Um país formado por ilhas no meio do Pacífico Sul, não muito próximo da Nova Zelândia. Hino com "a cara" dos povos do Pacífico. Lembra-me as músicas havaianas, as canções do Taiti, Rapa Nui... um hino peculiar!

8 - Kimi ga yo - hino nacional do Japão

Sim: ele estava no Top 5 de hinos assustadores, mas é um dos mais belos e menos "europeizados" (não é marcha, nem ópera). Como havia postado sua versão clássica no Top 5, aqui pus uma versão "a capella".

7 - Hatikva (A Esperança) - hino nacional de Israel

Enquanto no fundo do coração
Palpitar uma alma judaica,
E em direção ao Oriente
O olhar voltar-se a Sião,
Nossa esperança ainda não estará perdida,
Esperança de dois mil anos:
De ser um povo livre em nossa terra,
A terra de Sião e Jerusalém.

Sim: o hino de Israel. Nação polêmica, cuja própria existência divide opiniões até hoje. Mas uma bela canção, mesmo que a letra tenha um tom deveras sionista!

6 - Gosudarstvenny Gimn Rossiyskoy Federatsii (Hino da Federação Russa) - Rússia

Rússia é o nosso Estado sagrado!
Rússia é o nosso amado País!
Vontade de ferro e glória grande
Pertencem-te agora e para todo o sempre.

(Refrão)
Gloriosa a nossa Pátria livre,
Povos irmãos, união secular,
Sabedoria que nos é dada pelos antepassados.
Gloriosa, oh Pátria, de ti nos orgulhamos!

Dos mares do Sul ao círculo Ártico
As nossas florestas e campos abrem-se para ti.
No mundo és única, és sem igual,
Oh, minha terra natal, protegida por Deus!
Amar-te-emos eternamente

(Refrão)

As vastas larguras dos sonhos e vida
Os anos vindouros prometem a nós.
A nossa força vem da fé na Pátria.
Assim foi, assim é, e sempre será!

(Refrão)

A melodia é a mesma que serviu como hino da extinta União Soviética. Apenas mudaram a letra. É um hino que eu gosto de ouvir desde criança (isso que eu nunca fui comunista!).

5 - Deşteaptă-te, române! (Desperta, romeno!) - hino nacional da Romênia
Sim: outro que estava na lista dos assustadores! Mas belo. E, para provar que ele pode ser menos assustador (ou mais, depende do gosto), coloco esta versão, digamos, "roots"!

4 - A portuguesa - hino nacional de Portugal


Ainda que seja "inspirado" no hino da França "A Marselhesa", é meu hino da Europa Ocidental preferido. O fato de entender a letra que se canta também ajuda: são versos que chamam a "galera pro pau", mesmo, pra defender Portugal, agir por Portugal. Hino, mesmo. Com uma bela interpretação vocal: http://www.youtube.com/watch?v=mXooecaVXPY

3 - Ons Hémécht - Hino de Luxemburgo

Não: não é o país do Wanderley! Luxemburgo é uma nação minúscula, que fica entre a Bélgica, a Holanda (Holanda não!), a França e a Alemanha. Gosto dessa melodia: da cadência, dos arranjos, e do tom. Fico devendo a tradução da letra.

2 - Hino nacional da África do Sul


Deus abençoe a África
Que suas glórias sejam exaltadas
Ouça nossas preçes
Deus nos abençoe, porque somos seus filhos

Deus, cuide de nossa nação
Acabe com nossos conflitos
Nos proteja, e proteja nossa nação
À África do Sul, nação África do Sul

Dos nossos céus azuis
Das profundezas dos nossos mares
Sobre as grandes montanhas
Onde os sons se ecoem

Soa o chamado para nos unirmos
e juntos nos fortalecermos
Vamos viver e lutar por liberdade
Na África da Sul a nossa terra.

O hino possui versos em xhosa, zulu, sesotho, africâner e inglês. Combina melodia e versos do hino nacional à época do Apartheid, "Die Stem van Suid-Afrika", com a canção adotada como hino popular de vários países e organizações africanos: "Nkosi Sikelel' iAfrika" (que serve de base para outros hinos nacionais africanos). É o hino mais "nacional", propriamente dito. E uma bela canção, um hino que convida ao respeito pela diversidade, ainda que aconteça hoje, naquele país, uma espécie de Apartheid às avessas: agora o branco é segregado.

E o primeiríssimo:
1 - Intermeco (Intermezzo) - hino nacional da Bósnia e Herzegovina

Belíssimo hino. Adoro essa melodia, vibrante, envolvente. É uma composição clássica de primeira qualidade. Pena eu não ter conseguido uma tradução da letra, ainda que a versão oficial seja apenas instrumental.

Fonte de pesquisa (letras, nomes de hinos):
pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Hinos_nacionais