Certo dia, encontrava-se Midei Shempaz dormindo sobre um banco da praça central de Kinze. Um garoto, beirando os sete anos, cutucou seu olho, fazendo o sábio acordar rapidamente e gritar: "não que ainda tô vivo!". Ao olhar para a criança, Midei Shempaz disse:
- Ah, piá: sabia que titio podia ter ficado cego, ou infartado?
- Desculpa, tio Midei Shempaz!
- Deixo, sim. Não tô brigando!
- Mas não é o nome do tio: Midei Shempaz?
- ... É mesmo, tem razão, piazinho inteligente. Diga: o que quer saber desse tio barbudo?
- Minha mãe disse que o senhor é muito inteligente.
- Ah, obrigado!
- Ela disse que eu preciso estudar pra ficar inteligente e não ser um bêbado vagabundo. Mas ela disse também que o senhor é um bêbado vagabundo, e que isso é ruim. Agora eu não entendi, se o senhor é inteligente, como pode ser bêbado e vagabundo.
- Sua mãe tem toda razão, menininho. Você precisa estudar pra ficar inteligente igual o tio aqui. Mas eu não sou bêbado e vagabundo: sou apenas um poeta filósofo que trabalha de apreciar a vida, a cidade, este banco da praça, aquela senhora que passa ali na rua...
- Ah, o senhor não é bêbado nem vagabundo?
- Não, menininho, não sou.
- Ôba, brigado tio! Vou falar pra minha mãe que eu posso ser igual o senhor quando crescer, porque o senhor não é bêbado nem vagabundo!
E, assim, Midei Shempaz garantiu para o futuro mais um sábio que, como ele, habitará as ruas destas terras do Curitestão.
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