quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Depois do fim

Estava cansada de tanto correr. Mas precisava seguir em frente.

Pela manhã, ainda nos primeiros raios de sol quando é possível ouvir a cidade a despertar, ela saiu, como de costume, pelo caminho de sempre. Sentia que aquele dia seria diferente, intenso, assustador, mas ainda não sabia por quê.

Enquanto a luz imensa do sol lhe fazia fechar seus olhos, ela desviava obstáculos que não existiam; coisas de uma cegueira momentânea e do seu caráter infantil, brincalhão, de quem gosta de criar desafios além dos já existentes. Durante um desses desvios, olhou para além do caminho e ouviu um gemido. Parecia ser um animal. Ficou muito assustada – diziam que naquele lugar havia um animal estranho, irritadiço, feioso e fraco, porém cruel. O gemido crescia em tom e volume, o que lhe causava muito espanto mas, ao mesmo tempo, preocupação por socorrer aquele ser. – E se for um daqueles bichos? –, pensava.

A preocupação com aquele ser – que poderia estar doente, em perigo ou arquitetando uma armadilha de caça – venceu o medo, e ela foi a passos secos em direção ao gemido. Depois de algum tempo, encontrou o temido animal: era um filhote, inofensivo. Foi abandonado ali. Estava sujo, com fome e também com muito medo. – Esses bichos desnaturados! –, pensava a salvadora do filhote.

Mas esta era uma época de muita fome. E um dia incomum. Outros animais, famintos, queriam usar o filhote para acabar com um longo jejum, comum nestes dias que sucederam o grande barulho. Ela não tinha forças para enfrentá-los. Decidiu, então, fugir com o filhote.

– Preciso salvar a nós dois, filhotinho! –, dizia ela ao estranho animal, que nada poderia compreender. – Se pelo menos você aguentasse em suas quatro patas, como eu... –, pensava.

Estava cansada de tanto correr. Mas precisava seguir em frente. Sentia que era preciso salvar aquele filhote estranho, sem pelos, com a cara chata e que não conseguia correr com suas quatro patas. Mas ainda não sabia por quê.

Fábio Pedro Racoski

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