sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Laika e os alienígenas que ouvem cachorros

Certa vez, uma civilização que ouve cachorros decidiu lançar uma expedição rumo a um estranho planeta azul, visto por seus telescópios.

"Deve haver seres magníficos naquele planeta!", disse o chefe da expedição. E lá foram, cruzando o infinito vazio do Espaço e viajando pela Galáxia. Passaram por vários planetas, gasosos, rochosos, todos frios, mortos, desabitados de vida. Maravilharam-se com as cores infinitas pintando o preto infinito.

Até que chegaram ao seu destino: o sistema estelar que abrigava o lindo planeta azul. "É magnífico mesmo! Que belo! Deve haver uma civilização muito evoluída aí!", disse o poeta que acompanhava a expedição. "É impossível um planeta tão belo abrigar uma civilização atrasada e rude", completou.

Era novembro de 1957, em um dos muitos calendários utilizados naquele planeta azul. Por uma fantástica sorte, avistaram uma pequenina nave, com um cachorro dentro. "Estão mandando as boas-vindas com um cachorro, o carinhoso e fiel guardião das civilizações!", disse o biólogo. Impossibilitados de dialogar com "o mensageiro", por questões técnicas, conseguiram apenas ouvir um estranho e desesperado lamento, abaixo transcrito:

"Por que minha casinha está aqui, voando que nem pássaro? Estou com medo! Isso é estranho, estou me sentindo mal. Por favor, me tirem daqui! Eu não sei o que fiz de errado, mas vou aprender a ser uma boa menina. A Laika vai ser uma boa menina! Olha, eu juro que não roubo mais os ossos que sobraram do almoço. Mas me tirem daqui, por favor! Eu juro que não vou estragar essa bola azul que está aí fora. Ela parece boba, não tem nada de divertido nela. Mas me tirem daqui, por favor! Eu estou assustada! Eu juro que vou ser uma boa menina! Por favor!"

Assim terminava sua estranha mensagem. Em meio a lágrimas, a expedição percebeu que aquilo não era um comitê de boas vindas, mas uma bárbara e brutal cena de tortura, até a triste morte daquele nobre ser. Ficaram desolados, atônitos, sem reação: nunca haviam presenciado uma cena tão violenta quanto aquela. "Que tipo de civilização é capaz de fazer isso? Não, a guardiã Laika está certa: não há nada de divertido ali. Apenas seres insanos que, se são capazes disso aqui em cima, imaginem o que fazem lá embaixo?", concluiu o oficial tradutor.

A nave foi embora e o chefe da expedição reportou o ocorrido aos seus líderes, que recomendaram a todos os seus contatos que fiquem bem longe daquele triste, brutal e bárbaro planeta azul. E assim, a civilização que ouve cachorros nunca ouviu nem viu outros seres daquele planeta.

Fábio Pedro Racoski

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "Antes os humanos fossem caninos..."

    Foi o que você me disse nesse post: http://inquietacoestamanhas.blogspot.com/2010/11/humanos.html

    Realidade pura! Gostei mto do final da música: "en la tierra hay una perra menos y en el cielo una estrella más"

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