sexta-feira, 10 de abril de 2009

Via Sacra

Ó, Jesus!
Os cravos que rasgaram tua carne
cravejam meu corpo fraco.

Sou missionária,
sedenta por verdade e justiça.
Mártir dos cravos de chumbo
cravejados por usurpadores
da terra.

Ó, Jesus!
Os cravos que rasgaram tua carne
cravejam meu corpo fraco.

Sou negro.
Além disso, sou cidadão.
Lutei por direitos iguais,
Falei de meus sonhos,
E fui cravejado com o chumbo
dos cegos d'alma.

Ó, Jesus!
Os cravos que rasgaram tua carne
cravejam meu corpo fraco.

Sou pai de família,
trabalhador assalariado.
Cravejo dia após dia
meu corpo surrado
para ninar meus filhos
em paz.

Ó, Jesus!
Os cravos que rasgaram tua carne
cravejam meu corpo fraco.

Sou mãe.
Sou pai.
Sou a fortaleza dos filhos
e os cravos nas ruas
ferem meus muros.
Mas não eles.

Ó, Jesus!
Os cravos que rasgaram tua carne
cravejam meu corpo fraco.

Sou professor.
Minha vida é ensinar;
meu amor é dividir e somar.
Os cravos que ferem meu corpo
vociferam, ignoram, agridem,
apunhalam, matam.

Ó, Jesus!
Os cravos que rasgaram tua carne
cravejam meu corpo fraco.

Sou religioso.
Confio em Deus,
nos deuses.
Sou ferido pelos cravos
da instituição,
das indulgências,
da intolerância,
da hipocrisia.

Ó, Jesus!
Os cravos que rasgaram tua carne
cravejam meu corpo fraco.

Sou ateu.
Luto por uma sociedade justa
e livre.
Mas os cravos dos radicalistas
e indiferentes
rasgam meus pés na caminhada.

Ó, Jesus!
Os cravos que rasgaram tua carne
cravejam meu corpo fraco.

Sou o mundo.
Dou vida às espécies,
dou água às bocas.
Mas estou sujo,
ensanguentado
e com febre.

Ó, Jesus!
Os cravos que rasgaram tua carne
cravejam meu corpo fraco.

Fábio Pedro Racoski

2 comentários:

  1. Findo o poema, ouve-se no meio da multidão:

    clap, clap, clap!!!

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  2. Lindo, Profundo , crítico, "com alma" como só você sabe escrever!

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