quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Não aguento mais. Vou-me para München!

Parece que a língua portuguesa está na boca do povo, para além do sentido literal: ela virou notícia. Nunca imaginei ouvir conversas sobre ortografia em botecos e padarias com essa intensidade. Mas, como de costume, o assunto polêmico e importante é mal interpretado: o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Encontrei, na rua, um aluno a quem dei aulas de português. A primeira pergunta que ele me fez: "mas por que a gente tem que falar diferente agora? Idêia, estrêia... parece argentino! E linguiça, então? Sem a trema vai ficar esquisito!"

Talvez seja esse o "medo" geral: mudar a fala. Expliquei ao aluno que o acordo é ortográfico, apenas. Afeta o que se escreve, e não o que se fala. Comentei alguma coisa da linguística, que temos infinitas variantes na fala mas precisamos de uma ortografia "comum". Até lembrei do fato de as línguas na China se entenderem por uma mesma escrita.

Mas não retirei meu aluno da desconfiança: ele já está com saudades da trema! "A gente vai confundir as palavras, professor", argumentou. Evanildo Bechara, um dos (ir)responsáveis pelo Acordo, havia feito um comentário sobre essa suposta confusão: "ninguém confunde manga de camisa com a manga fruta". O aluno seguiu seu caminho, ainda com desconfiança e levando a já extinta trema consigo.

Posso tecer comentários, críticas, protestos e apoios ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Como professor de português, preciso me atualizar a um novo pacto com os alunos. Como lingüista, fico com "um pé atrás": a língua inglesa não possui um acordo ortográfico; tampouco o espanhol, que aceita várias grafias, em alguns casos. Como cidadão, vejo que o acordo não foi acordado: não foi um consenso. E mais: levantou a possibilidade real e infeliz de "abrasileiramento" da língua portuguesa pelo mundo afora. Tanto nos pusemos contra o imperialismo estadunidense e, agora, seguimos para um imperialismo zambeta querendo dominar a América Latina e os países de língua portuguesa.

E nosso "coronelismo global" já fez sua primeira chacina: a pobre e desolada trema, refugiada no alemão, no turco!

7 comentários:

  1. Ah, o povo tá com frescura!!! Ninguem, digo com conhecimento de causa, NINGUEM usava trema pra escrever algo,e agora tão tudo cheio de querer falar mal da nova ortografia. Povo chato..... Olha o que eu digo pra eles:

    http://www.youtube.com/watch?v=vzjJFCvF9uY&eurl=

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  2. Eu usava e ainda uso o trema '-'
    Também não gostei muito do acordo. Eu sei que ele tem a finalidade louvável de proporcionar uma maior interação entre os falantes da língua portuguesa em geral, mas não gosto do fato de termos que "empobrecer" nossa língua para tal fim. Apesar de tudo, quem sou eu para reclamar? Mal sei escrever direito e por maior que seja o amor que eu nutro pela nossa língua, não a domino como deveria.
    Também concordo que todos estão falando muito sobre isso. Acho que as pessoas não gostam muito de mudanças, hehe. Concordo também que aquelas duzentas regras de hífen não vão fazer falta pra mim...

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  3. Olá Fábio
    Realmente nem sei quem diabo gosta desta viragem na língua portuguesa. Pessoalmente não admiro o trabalho desenvolvido por essas pessoas.Há palavras que nem consigo escrever, pois na nova ortografia têm um sentido diferente.A ver vamos.
    Tenha um bom fim de semana.
    Abraço deste amigo português.

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  4. Bom,finalmente conseguiram empobrecer ainda mais nossa língua,que é umas das mais dificeis de aprender do mundo...
    Agora é só esperar eles modificarem nosso Hino Nacional,claro,pois ele é "muito dificil".

    "Eu não leio nada! Não tenho paciência!" - Presidente Lula.

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  5. Eita que polêmica quente!! empobrece ou não empobrece? Gostariam de escrever Curytyba até hoje? Pharmácia?
    Vamos nos adaptar... agora verdade seja dita...saudades do trema... vou reciclar, ou por rebeldia/resistência pura, continuar a usar... tem que se fazer de louco se quiser continuar vivo!

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  6. "Eu nasci de uma mãe que já nasceu analfabeta!" - Presidente Lula

    Realmente,prefiro eu escrever Curytyba e Pharmácia a ter um presidente desse...

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  7. Não entrarei em méritos políticos - até porque me considero um anarquista solitário. Só preciso expor minha opinião sobre o Acordo: a língua é um organismo vivo e, como tal, evolui, tranforma-se. Ela possui duas "grandezas": a fala e a escrita. O processo de transformação para a segunda é bem mais lento que para a primeira.

    O Acordo pode ter sido precipitado em alguns quesitos, mas é uma conseqüência inevitável que, nesse caso, foi arrumada por um grupo de estudiosos de alguns países.

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