domingo, 10 de janeiro de 2010

Censura

Querem me censurar
porque sou um abuso.

Sou menino de rua,
ranhento cheirando cola.
Sem futuro, sem moeda,
só com a fiel e inseparável dor.

Querem me censurar
porque sou um abuso.

Sou prostituta.
Trabalho com isso mesmo.
Mas não quero isso
para a criança que está lá
do outro lado. Não a vê?

Querem me censurar
porque sou um abuso.

Sou homossexual.
Andamos de mãos dadas
e qual o problema?
Nascemos para o amor
e o amor não tem limite.

Querem me censurar
porque sou um abuso.

Sou limpador de rua.
Sem mim você escorregaria
na própria merda.
Mas você se acha
melhor que eu.

Querem me censurar
porque sou um abuso.

Sou crente.
Crente de verdade.
Não estou com aqueles pastores
que estupram a fé do povo
para depois mijar
em trono de ouro.

Querem me censurar
porque sou um abuso.

Sou ateu.
E qual o problema?
A vida não é para todos?
E cada pessoa tem dois olhos.

Querem me censurar
porque sou um abuso.

Sou a verdade.
Aonde chego, todos se calam,
disfarçam e me ignoram.
Sou pária da Humanidade,
uma luz que estes macacos
insistem em não enxergar.

Querem me censurar
porque sou um abuso.

Fábio Pedro Racoski

3 comentários:

  1. Ei Fábio, eu adorei esse trecho: "Sou ateu./ E qual o problema?/ A vida não é para todos?/ E cada pessoa tem dois olhos" Espcialmente a frase final que é pequena mas diz muito, reafirmando o modo de olhar e as diferenças culturais, essa belíssima utopia! Texto de muita humanidade e de um sentido além do seu significado "Censura". Muito bom!

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  2. Eu também adorei. Parabéns, Fábio! Por ser tão crítico e escrever textos tão provocativos. Adoro este trecho: "Nascemos para o amor
    e o amor não tem limite." Por que será? rsrs... Beijos!

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  3. a censura é a mãe de todas as ditaduras. abaixo a censura, e que viva entre nós o bom senso.

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