Estranho: o motorista era outro. O cobrador também. Não havia ninguém conhecido no ônibus. Apenas pessoas de cabeça raspada, todas, e roupas alaranjadas. Alguém me cumprimenta: “purifica-te ao Imperador, forasteiro!” Não entendi e nunca entenderei essa saudação. Ao entregar o dinheiro para o cobrador, este me devolve: “nunca vimos estas cédulas por aqui; não são cédulas do Imperador. É um invasor! Atirai-o para fora!” E lá fui eu, voando lentamente para um encontro do meu nariz com o concreto áspero da calçada.
Desmaiei. Quando acordei, estava dentro de casa. Deixei cair o café sustentado em minhas mãos. Vesti o macacão e fui em direção ao meu emprego de metalúrgico. Eram seis da manhã e o sol brilhava vermelho no céu...
Estava atrasado: precisava correr para alcançar o Interbairros II. Consegui! Entrei e... um ônibus lotado como eu nunca tinha visto, repleto de mulheres em túnicas transparentes. Elas cantavam coisas estranhas e me jogavam flores. “Seja bem-vindo, estrangeiro”, disse a mais bela. Quando comecei a gostar desse devaneio (ou não...), uma força me puxa, fazendo cair estatelado na sala de minha casa.
Levantei, vesti meu jaleco e saí em direção à escola onde dou aulas. Eram seis da manhã de segunda-feira e eu estava atrasado para o Interbairros II de sempre. O sol brilhava roxo no céu. Percebi que alguma coisa estava fora do comum: os sonhos pareciam reais; as sensações pareciam sentidas; o Interbairros II parecia um bom ônibus. Resolvi não pegar condução. Liguei para a escola avisando sobre minha falta recém-planejada. Eles nem se importam: hoje (hoje?) era minha permanência. Não veria alunos e alunas.
Resolvi caminhar pelas ruas da vizinhança e, ao dobrar uma esquina, me encontro com uma de minhas alunas, Irina. “Onde você vai, professorzinho?”, indagou-me Irina. Não sabia o que responder. Não sabia se ainda era sonho, pois Irina é uma de minhas alunas mais dedicadas. E bela, ainda que eu a veja como uma filha. “Eu também estou perdida, nem sei se hoje é hoje. É por causa desse sol agora roxo!”
O que Irina disse fez-me palpitar de tal forma que precisei buscar assento no meio-fio. Como ela sabia que eu estava perdido, se nem eu mesmo tinha pensado nisso? Estávamos nós dois nesse turbilhão espaço-temporal-alucinógeno?
CONTINUA...
Meu... que agonia... dois tempos dois mundos. sempre são seis horas, as coisas de outras cores e agora...você não é o único!Oh!Que loucura! E esse imperador?Quem é esse imperador?
ResponderExcluiro que eu quero saber é como vc nao escrevia tão lindamente assim para a casa dos magisters?!?!?!??!
ResponderExcluirdeixo aqui registrado o meu protesto!
e tb que nao vejoa hora de ler o restante :P
beijoss
Grande, grande, alucinógeno.
ResponderExcluirO macacão laranja e as cabeças raspadas lembram roupas de presidiário, não sei se foi essa a intenção ^^
E sinto cheiro de continuação, o que me anima demasiadamente ;D